No novo formato do Festival de Cannes, a imprensa, que antes via os filmes antecipadamente, agora tem de vê-los com o público, mas não na mesma sala. A primeira experiência ocorreu na noite de terça-feira (8), com o thriller em língua espanhola do iraniano Asghar Farhadi, Todos lo saben.
Penélope Cruz volta à Espanha para o casamento da irmã. O marido, Ricardo Darín, ficou na Argentina. Ela reencontra uma antiga paixão, Javier Bardem. Ocorre uma tragédia, um sequestro. Segredos familiares são revelados, e alguns amplamente conhecidos. Todos sabem. Os tímidos aplausos foram paralisados por um gélido silêncio. Mas o filme não é ruim. Farhadi retoma temas e situações de O Passado transpostos de uma família franco-iraniana para a Espanha.
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Este é o nono filme em que Cruz e Bardem, já premiados em Cannes e no Oscar, atuam juntos. O casal, que tem dois filhos e mora na região de Madri, explica que o trabalho não entra em casa. "Quando o dia acaba, não falamos de trabalho. Quando era mais jovem, era diferente. Eu me dizia que tinha que torturar-me, permanecer na personagem por meses, mas entendi que não é uma boa estratégia", disse Cruz.
Após o recente Loving Pablo, o casal foi questionado se pensa em voltar a rodar um filme em conjunto em breve. "Não prevemos fazer todos os anos", respondeu a atriz, de 44 anos.
Diante da pergunta inevitável nesta edição do festival, que adotou a bandeira feminista após o terremoto provocado pelo escândalo Weinstein, Penélope Cruz revelou que recebeu o mesmo salário que Bardem neste filme em que interpreta uma mãe cuja filha desaparece no fim de um casamento. Farhadi conseguiu a proeza de rodar um filme em um idioma que aprendeu em dois anos, retratando sem clichês a cultura espanhola. "Ele é como uma esponja. Absorveu tudo sobre como se vive na Espanha", afirmou a atriz sobre o diretor.
A crítica elogiou de maneira geral o filme, mais uma trama intimista de Farhadi (A separação, O passado, O apartamento), e aplaudiu em especial o trabalho dos atores. Até uma das críticas menos entusiasmadas, a da revista Variety, apontou: apesar de ser o filme "mais fraco" do diretor é melhor que a grande maioria dos dramas comerciais produzidos na Espanha, França e Estados Unidos".
O filme, que está na mostra competitiva pela Palma de Ouro, foi vendido à distribuidora Focus Features, que será responsável pela exibição nos Estados Unidos.
A estratégia é tentar encaixar o longa-metragem no período de premiações da indústria americana.