O 71º Festival de Cannes começa nesta terça-feira (8) – sem Weinstein, sem Netflix e sem selfies. Os atores Jean-Paul Belmondo e Anna Karina – Pierrot e Marianne de O demônio das onze horas, de Jean-Luc Godard – se beijam no pôster desta edição, que tinha uma versão gigante terminando de ser instalada na segunda (7), no Palácio dos Festivais.
Mas a atmosfera na Croisette é menos amena. O mundo do cinema se reúne em Cannes pela primeira vez desde a queda do antes todo-poderoso produtor hollywoodiano Harvey Weinstein, acusado de assédio por mais de 100 mulheres – 15 delas o denunciam por estupro.
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Sobre Reed Hastings, CEO da Netflix, não há dúvidas. Depois de ter dois filmes em competição em 2017 e gerar polêmica pelo fato de lançá-los diretamente na plataforma de vídeo, sem a passagem pelas salas de cinema, a empresa rompeu com o festival por se recusar a ceder à exigência de um lançamento convencional no circuito cinematográfico.
Mas Cannes terá outras surpresas a oferecer, especialmente da Ásia e do Oriente Médio. Dos 21 cineastas em competição oficial, apenas três são mulheres, mas 10 são novatos. O retorno à disputa do mestre Jean-Luc Godard, com Le livre de l’image, também gera intensa expectativa.
MAIO DE 68 Há 50 anos, em maio de 1968, Jean-Luc Godard estava na linha de frente do movimento que, com a participação de Roman Polanski e François Truffaut, paralisou o festival em solidariedade às barricadas de estudantes, em Paris. Sobre Le livre de l’image ainda não se sabe nada.
O filme de abertura é Todos lo saben, do iraniano Asghar Farhadi, sobre o qual se sabe bem pouco.
O passado cobra sempre seu preço no cinema do autor – um de seus filmes chama-se justamente assim, O passado. Os demais grandes filmes de Farhadi são Procurando Elly, A separação e O apartamento. No elenco de Todos lo sabem, a almodovariana Penélope Cruz, Javier Bardem (como o marido argentino) e, do passado, surge Ricardo Darín. Esse trio promete movimentar o tapete vermelho de Cannes, mas é só o começo. O festival prossegue até o sábado (19), com a outorga da Palma de Ouro pelo júri presidido por Cate Blanchett.
O Brasil integra a seleção oficial, mas fora de concurso.
Beatriz está nas nuvens. “Depois de nove anos, 37 editais e uma gravidez surpresa, estou feliz de dar à luz esse outro filhote. Desde Bollywood dream, muita gente chega para mim dizendo que tem história que daria filme. Em geral, não me interessam, mas uma amiga colombiana me contou a história do pai dela, que veio para o Brasil e sumiu, deixando sua mãe com os filhos. Pesquisei mais de 80 famílias na fronteira da Colômbia com o Peru e o Brasil e encontrei muitas histórias similares. Pais que não se sabe se estão mortos ou vivos, e o que isso representa. Quis contar essa história.