Estreia desta quinta-feira (26) nos cinemas de Belo Horizonte, Somente o mar sabe, longa de James Marsh (A teoria de tudo, 2015) estrelado por Colin Firth e Rachel Weisz, narra a angústia de um amador. No caso, Donald Crowhurst (1932-1969), empresário britânico que arrisca os negócios e a própria vida ao participar da Golden Globe Race de 1968, uma competição em que iatistas são desafiados a dar a volta ao mundo sem paradas.
Longe de reunir as habilidades para enfrentar as intempéries marítimas de um Amyr Klink, Donald não encara a viagem pela aventura, mas pelo prêmio que ela promete aos vencedores. Afundado em dívidas, o empreendedor vê a recompensa como boia de salvação para sua empresa.
A jornada do protagonista tem início em 31 de outubro de 1968, quando ele deixa a mulher, Clare (Rachel Weisz), e os quatro filhos pequenos do casal na pequena cidade inglesa de Teignmouth para enfrentar quase 50 mil quilômetros mar adentro. Esse é também o ponto de partida para a construção de uma espécie de epopeia midiática do azarão, habilmente tecida por Rodney Hallworth (David Thewlis), assessor de imprensa de Crowhurst.
O diretor opta por gastar os primeiros 40 minutos do filme desenhando essa ambientação da história, contada a partir dos diários de bordo deixados por Donald Crowhurst. A partir daí, o espectador parece chegar a uma espécie de bifurcação, em que é convidado a decidir como quer embarcar na narrativa.
O primeiro caminho é o do tédio, calcado na crítica aos métodos da imprensa sensacionalista (que tem numerosos representantes entre tabloides britânicos) ou “abutre”, como é chamada no longa. Não que a parcela da mídia retratada nesse longa não faça jus ao adjetivo. O próprio assessor Rodney Hallworth é um jornalista de conduta reprovável, que divulga para a imprensa frases de seu cliente jamais pronunciadas por ele.
Numa entrevista, Clare define essa dinâmica com a frase: “Meu marido é vítima de jornalistas e leitores sedentos por histórias de fracasso”. A reflexão é pertinente, embora soe desgastada e pouco original, já que coincide com retratos feitos pelo cinema da exploração midiática desde A montanha dos sete abutres (1951).
Na segunda via possível de mergulho em Somente o mar sabe, a experiência de quem opta por se concentrar nos dilemas vividos por Donald Crowhurst em alto-mar pode ser mais interessante. Velejador inexperiente, a bordo de um iate cheio de problemas mecânicos, o empresário passa a maior parte do tempo paralisado no meio do oceano.
Ciente de suas limitações e das da embarcação, ele não quer prosseguir com a viagem. Mas também não quer desistir da competição, o que significaria perder todo o investimento que fez no barco, além de ter que lidar com o peso do rótulo de fracassado – no esporte e nas finanças.
A construção da relação de Crowhurst com seu núcleo familiar no início do filme chega a sugerir que a trama tomará o rumo um tanto óbvio do viajante consumido pela saudade da mulher e dos filhos no meio do nada. No entanto, não é esse o desfecho da história, que ocorre após uma elevação substancial da angústia do personagem. A conclusão dramática encontra em Colin Firth e Rachel Weisz uma dupla de atores à altura da exigência de um drama que não escorrega na pieguice.
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A jornada do protagonista tem início em 31 de outubro de 1968, quando ele deixa a mulher, Clare (Rachel Weisz), e os quatro filhos pequenos do casal na pequena cidade inglesa de Teignmouth para enfrentar quase 50 mil quilômetros mar adentro. Esse é também o ponto de partida para a construção de uma espécie de epopeia midiática do azarão, habilmente tecida por Rodney Hallworth (David Thewlis), assessor de imprensa de Crowhurst.
O diretor opta por gastar os primeiros 40 minutos do filme desenhando essa ambientação da história, contada a partir dos diários de bordo deixados por Donald Crowhurst. A partir daí, o espectador parece chegar a uma espécie de bifurcação, em que é convidado a decidir como quer embarcar na narrativa.
O primeiro caminho é o do tédio, calcado na crítica aos métodos da imprensa sensacionalista (que tem numerosos representantes entre tabloides britânicos) ou “abutre”, como é chamada no longa. Não que a parcela da mídia retratada nesse longa não faça jus ao adjetivo. O próprio assessor Rodney Hallworth é um jornalista de conduta reprovável, que divulga para a imprensa frases de seu cliente jamais pronunciadas por ele.
Marujo
O objetivo é construir a imagem de um marujo cheio de disciplina, coragem, experiência, confiança no próprio taco e obstinação, embora sem nenhuma técnica. Naturalmente que a farsa, prontamente comprada por órgãos da imprensa, gerou sobre o endividado aventureiro e sua família expectativas insustentáveis, pressão gigantesca e total devassa de intimidade.Numa entrevista, Clare define essa dinâmica com a frase: “Meu marido é vítima de jornalistas e leitores sedentos por histórias de fracasso”. A reflexão é pertinente, embora soe desgastada e pouco original, já que coincide com retratos feitos pelo cinema da exploração midiática desde A montanha dos sete abutres (1951).
Na segunda via possível de mergulho em Somente o mar sabe, a experiência de quem opta por se concentrar nos dilemas vividos por Donald Crowhurst em alto-mar pode ser mais interessante. Velejador inexperiente, a bordo de um iate cheio de problemas mecânicos, o empresário passa a maior parte do tempo paralisado no meio do oceano.
Ciente de suas limitações e das da embarcação, ele não quer prosseguir com a viagem. Mas também não quer desistir da competição, o que significaria perder todo o investimento que fez no barco, além de ter que lidar com o peso do rótulo de fracassado – no esporte e nas finanças.
A construção da relação de Crowhurst com seu núcleo familiar no início do filme chega a sugerir que a trama tomará o rumo um tanto óbvio do viajante consumido pela saudade da mulher e dos filhos no meio do nada. No entanto, não é esse o desfecho da história, que ocorre após uma elevação substancial da angústia do personagem. A conclusão dramática encontra em Colin Firth e Rachel Weisz uma dupla de atores à altura da exigência de um drama que não escorrega na pieguice.