Embates ideológicos envolvendo vertentes opostas do atual cenário político se tornaram cenas comuns nos lares de muitas famílias brasileiras. Heloísa Passos transformou essa polêmica no primeiro longa dirigido por ela. Exibido no Festival de Brasília em 2017, Construindo pontes estreia hoje em BH. O que seria um documentário sobre o avanço voraz da construção civil sobre a natureza em nome do progresso, durante a ditadura militar, virou uma história sobre memória familiar e compreensão.
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Conheça Aristides de Sousa, ator mineiro premiado no 50º Festival de BrasíliaFilme mineiro vence Festival de BrasíliaDois longas mineiros disputarão Candango no Festival de BrasíliaA ideia de abordar o “deserto d’água” formado em Guaíra, Oeste do Paraná, e os danos causados pelo desenvolvimentismo levaram-na a buscar informações com Álvaro Passos, engenheiro de várias obras de infraestrutura patrocinadas pelo governo militar na década de 1970. Heloísa começou a gravar essas conversas em 2012.
“Fui colocar câmera só em 2016. Então, o que vivemos hoje é muito presente no filme. Minha relação com meu pai é muito ligada ao que está acontecendo no Brasil, no mundo e na vida da gente. Não nos incomodamos em falar daquela maneira durante o filme”, explica Heloísa.
Tudo começa com a história do Super 8 sobre Sete Quedas, com belas imagens antigas de Itaipu. A maior parte da narrativa se sustenta nos confrontos entre Álvaro, argumentando que os militares tinham um bom projeto para o Brasil, e a filha, discordando veementemente dele. Esses momentos são intercalados com fotos antigas de família e pela narração da diretora a respeito da relação dos dois.
ENTENDIMENTO
Ainda que Heloísa se exalte em algumas cenas, o documentário não se limita à polarização ideológica. A cineasta diz que o filme oferece uma reflexão sobre o entendimento.
Como sugere o título, o recorte pessoal da diretora mostra a possibilidade de “construir pontes” entre os defensores de convicções opostas que provocam distanciamentos. Não houve resistência do engenheiro Álvaro em participar do projeto. “Quando ele viu o resultado, disse: ‘Achei que ficaria chato e monótono, mas o filme não tem perdedor nem vencedor. É uma passagem, não deveria ser classificado como documentário, é uma história de família.”
CURITIBA
Na pré-estreia, em Curitiba – epicentro da Operação Lava-Jato –, houve bate-papo com o público. “Foi muito importante, falamos sobre direito constitucional e outras questões atuais. A sala estava cheia e a força das diferenças muito forte, mas preponderaram a importância e a necessidade de dialogar, senão o mundo vai ficar cada dia pior. Foi dito que o filme é um exercício da nossa democracia, que é muito nova.
Na próxima terça-feira (24), no Cine Belas Artes, está prevista sessão comentada de Construindo pontes, com debate mediado pela produtora Luana Melgaço e a presença da diretora. O bate-papo começa logo depois da exibição do documentário, marcada para as 19h30..