Entebbe é conhecida como a antiga capital de Uganda e, principalmente, por ter o único aeroporto daquele país africano. Foi nesse aeroporto, hoje transformado em museu, que se deu uma das mais vitoriosas missões de resgate e de combate ao terror da história contemporânea.
Em 27 de junho de 1976, o Airbus A300 da Air France deixou Paris rumo a Telavive. Na escala em Atenas, desembarcaram 38 passageiros e entraram outros 58. Desses, quatro eram terroristas – dois alemães, dois palestinos.
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Em seu segundo longa-metragem internacional – o filme é uma coprodução Inglaterra/Estados Unidos –, Padilha busca mostrar o que ocorreu ao longo daqueles sete dias entre os diferentes grupos envolvidos: os sequestradores, com motivações diversas, e o governo israelense, que divergia sobre como resolver a questão.
Os protagonistas são os alemães Wilfried Böse (Daniel Brühl) e Brigitte Kuhlmann (Rosamund Pike), ambos integrantes do grupo Baader-Meinhof, organização de extrema-esquerda que se uniu à Frente pela Libertação da Palestina nessa missão. Na outra ponta estão os dois mandatários israelenses, Shimon Peres (Eddie Marsan) e Yitzhak Rabin (Lior Ashkenazi), além do militar responsável pela missão de resgate, Yonatan Netanyahu (Angel Bonanni), irmão de Benjamin Netanyahu, atual primeiro-ministro de Israel.
A política israelense era clara: não negociar com terroristas. Mas no gabinete havia opiniões contrárias. Peres, então ministro da Defesa e adversário de Rabin, defendia o contra-ataque, com tolerância zero. À época primeiro-ministro, Rabin buscava uma solução mais flexível, que poderia abrir negociações.
7 dias em Entebbe foi lançado em fevereiro no Festival de Berlim, 10 anos depois de Padilha sair consagrado desse evento com o Leão de Ouro por Tropa de elite. Exibido fora de competição na Berlinale, o longa foi mal recebido pela crítica internacional. Falta de ritmo e do elemento surpresa, montagem esquemática (assinada por Daniel Rezende, colaborador constante do diretor) e o tom moroso foram alguns dos poréns destacados pelos críticos.
A narração em off do protagonista, marca dos filmes e séries de Padilha, inexiste aqui – foi substituída por uma explicação para contextualizar a situação da época. Não há também o aspecto de thriller – o diretor procurou se concentrar nas motivações de seus personagens. As cenas de ação, poucas, foram realizadas em câmera lenta.
Mas a razão de ser da obra do cineasta – tentar entender uma questão global a partir de um episódio localizado – está bem coberta. Adotando posição objetiva, que procura trazer todos os pontos de vista, Padilha reconstrói aquela semana em Uganda. Com boas interpretações de Daniel Brühl (um militante esquerdista que nunca havia pegado em armas) e Rosamund Pike (guerrilheira que, pouco a pouco, perde a noção de sanidade), a narrativa vai explicando, paulatinamente, que nada é o que parece.
NAZISTA
A partir do momento em que militantes palestinos, alçados a chefes da operação assim que o avião pousa em Entebbe, dividem os passageiros entre judeus e não judeus, os dois alemães percebem que suas motivações se perderam. “Não concordo com isso (a separação dos judeus), não sou nazista”, diz Böse em certo momento.
A tensão que falta à narrativa sobra em um elemento estético. A coreografia Echad Mi Yodea (1990), do israelense Ohad Naharin, coloca os bailarinos da Batsheva Dance Company dançando num círculo de cadeiras enquanto se despem das roupas dos judeus ortodoxos. Uma bailarina se recusa a se despir, o que faz com que ao final ela sucumba.
A coreografia é apresentada no início, meio e final do filme. A força da música e a simbologia da performance conseguem explicitar a tensão e a ausência de diálogo entre judeus e palestinos. Quarenta anos depois de Entebbe, a situação permanece sem solução.