Escritor de sucesso é procurado por fã que se apresenta como uma pessoa amiga. À medida que o tempo passa, a pessoa revela, da pior maneira, sua obsessão pelo ídolo. Tal sinopse cai como uma luva para Louca obsessão (1990), ótimo thriller de Rob Reiner adaptado de romance de Stephen King. E também para Baseado em fatos reais, filme de Roman Polanski que estreia nesta quinta-feira (12).
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Festival de Cannes divulga indicados à Palma de Ouro de sua 71ª ediçãoApós 'O mecanismo', José Padilha quer fazer filme sobre Belo MonteDelphine (Emmanuelle Seigner) e Elle (Eva Green) são escritoras. Só que há um abismo em suas respectivas carreiras. Delphine é uma autora best-seller, enquanto Elle é não mais do que uma ghostwriter de atores e atletas. Uma recebe reconhecimento em demasia, já não suporta mais filas intermináveis de autógrafos e bajulações de editores.
Só que Delphine está em crise criativa, fato com o qual o marido, François (Vincent Perez), não consegue lidar. E é em meio a isso que Elle aparece como tábua de salvação. Bonita, inteligente e sem travas na língua, a mulher mais jovem parece ser a resposta que Delphine precisa para seus problemas. É ela quem vai tirá-la do marasmo. Rapidamente, Elle se muda para sua casa, toma conta de seus compromissos. A teia parece completa quando as duas mulheres vão para a casa de campo de Delphine, num ambiente em que Elle poderá controlá-la como quiser.
Polanski – que adaptou o livro de Delphine de Vigan com o cineasta e roteirista Olivier Assayas, do recente Personal shopper – vai desfazendo esta teia e construindo outra, levando o espectador por diferentes caminhos. As dúvidas vão crescendo a cada nova cena.
Um dos obstáculos do filme é que as atrizes não sustentam suas personagens, que estão sempre esbarrando em clichês. Emmanuelle Seigner é apática demais, quase sem vida, enquanto Eva Green vai sobrepondo caretas e expressões exageradas para tentar mostrar os rompantes de sua personagem. Até a tensão sexual que o diretor insinua entre as duas mulheres acaba por não convencer.
Já na segunda parte da trama, mudanças bruscas na dinâmica das personagens vão se sucedendo, chegando a situações que beiram o inverossímil. Nesta aparente montanha-russa, um espectador mais atento vai matar a charada antes do final do filme. O que, diante da obra de autor de O bebê de Rosemary (1968) e O inquilino (1976), se configura um defeito e tanto..