Lançado em 2011, o romance Jogador nº1 (Editora Leya), de Ernest Cline, ganhou destaque pelo conteúdo nostálgico reverente à cultura pop, sobretudo dos anos 1980. A adaptação do livro para o cinema é assinada justamente por nome dos mais influentes do período oitentista: Steven Spielberg. Dificilmente haveria um diretor mais preparado para a missão.
Com direitos de adaptação cinematográfica adquiridos pela Warner Bros. antes mesmo da publicação do livro, Jogador nº 1 é, de fato, uma história com jeitão de filme. Ambientada no futuro, exibe uma sociedade extremamente desigual, em que boa parte da população vive na pobreza. A forma de entretenimento (e escapismo) mais comum é o Oasis, realidade virtual altamente imersiva, acessível a partir da utilização de equipamentos específicos. Muito além da diversão, o ambiente on-line é local de trabalho, estudo e acesso à informação, à semelhança da internet neste século 21.
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Uma diferença crucial na ambientação do Oasis está ligada ao fato de esse universo, principalmente no livro, ter como principal inspiração a cultura pop dos anos 1980. Com referências a filmes, videogames e músicas oitentistas, o texto de Cline, por vezes, peca pelo excesso nesse campo, perdendo tempo de narrativa em detrimento de menções a elementos que pouco acrescentam à trama.
Embora abarrotado de menções ao pop, o filme não causa essa sensação graças à diferença das mídias. Sem a exigência da descrição, muito presente no livro, elementos em tela não parecem uma tentativa de incluir o máximo de referências em cena. Assim, tudo parece melhor justificado.
Em uma breve sequência do longa, é possível ver um DeLorean idêntico àquele do filme De volta para o futuro e a van da série Esquadrão classe A, além da moto de Kaneda e o carro Mach 5, respectivamente, dos animes/mangás Akira e Speed racer. Em todos esses casos, as inserções são orgânicas e justificadas, compondo um cenário visualmente rico e vivo, que também abraça décadas mais recentes e outras nem tanto. Há, por exemplo, alusões ao clássico 2001: Uma odisseia no espaço (1968), dirigido por Stanley Kubrick, e ao game Overwatch (2016).
HERANÇA A história de Jogador nº 1 se passa alguns depois da morte do criador do Oasis, James Halliday (Mark Rylance), que preparou uma série de desafios destinados aos usuários da plataforma. Quem vencer todas as tarefas propostas passa a ser o herdeiro da fortuna do desenvolvedor e ter controle total do sistema virtual, o que atiça usuários e corporações. Wade Watt (Tye Sheridan) toma a dianteira na jornada utilizando seu avatar, Parzival, e faz aliados, entre eles a misteriosa jogadora Art3mis (Olivia Cooke) e Aech (Lena Waithe), ambos figuras conhecidas apenas no espaço digital.
A aventura remete ao espírito de outros filmes dirigidos ou produzidos por Steven Spielberg, com jovens encarando situações adversas e adultos vilanescos. Mesmo que venha, nas últimas décadas, apostando no cinema mais sério e tradicional, a exemplo dos ótimos The Post – A guerra secreta (2017) e Ponte dos espiões (2015), o diretor segue brilhando na condução desse tipo narrativa.
Estonteante, o Oasis mostrado no cinema é vistoso e impressionante por seus detalhes e realismo. Com frames repletos de referências às mais diversas franquias de filmes, games, desenhos animados e outros produtos pop, é impossível identificar tudo o que está à vista (ou nem tanto), mas o reconhecimento de cada elemento traz enorme satisfação.
Difícil não ser cativado por figuras tão familiares como o tiranossauro de Jurassic Park ou as Tartarugas Ninja, referências harmoniosamente inseridas no filme de Spielberg.
Abaixo, confira o trailer de Jogador nº 1: