Há 80 anos, em 1938, surgia um dos maiores ícones do universo dos quadrinhos de herói: o Superman. “E assim começam as mais surpreendentes aventuras do mais sensacional personagem de quadrinhos de todos os tempos”, dizia o início da edição número um da revista Action Comics, responsável por apresentar o alterego de Clark Kent.
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A princípio, o personagem foi recusado pela DC, que achava que o Superman não seria rentável. “Como expliquei várias vezes, nossa empresa tem bem pouco a ganhar financeiramente com a publicação desse material”, escreveu Jack Liebowitz, publisher da editora, em resposta a um dos criadores do Homem de Aço, Jerry Siegel.
Ao longo dos anos, o Superman passou por diversas mudanças, que vão do uniforme à personalidade. Escritor e crítico de quadrinhos e cinema, Glen Weldon é autor do livro Superman — Uma biografria não autorizada. Para ele, mesmo com as mudanças, é possível encontrar pontos decisivos que permanecem sempre no caráter do herói.
Os fatores para entendê-lo, segundo Glen, são dois: primeiro, ele coloca as necessidades dos outros acima das suas; segundo, ele nunca desiste. “Isso é o que você precisa ter em mente para contar uma história do Superman. Esse é o núcleo de seu caráter”, disse em entrevista sobre o livro. “Todo o resto — o traje, os poderes — pode mudar, e mudou muitas vezes, ao longo dos anos. Mas, enquanto esses dois fatores essenciais permanecerem, ele ainda será Superman”, completa.
Revolucionário
Ao ver a representação mais clássica e comum do Superman é difícil imaginar que ele surgiu como um herói socialista, que se rebelava contra o sistema vigente. “Ele lutava contra as corporações gananciosas, contra funcionários corruptos do governo e criminosos que tiravam proveito do homem comum. Era um agitador que lutou contra o status quo”, explica Weldon.
Tudo isso, no entanto, foi demolido quando a Segunda Guerra Mundial começou e o patriotismo tomou conta dos EUA. “O fervor patriótico varreu o país. Então, ele se tornou um símbolo identificado com a América. Ele permaneceu assim desde então e se transformou em uma representação do americano republicano”, esclarece.
Desde então, ele se transformou, para Weldon, em uma versão do que os americanos querem acreditar que são, “mesmo que não sejam”. “Ele é imensamente poderoso, mas sempre usa esse poder sabiamente, olha para os menos afortunados... Essencialmente, ele é espelho que temos, mas um espelho muito lisonjeiro; que nos mostra o melhor de nós”, observa.
Para Glen Weldon, é importante também, ao analisá-lo, não deixar de lado que, como todos os super-heróis, o Homem de Aço é um ideal. “Vê-lo simplesmente como um símbolo da América patriótica — torta de maçã, beisebol etc. — é perder o fato de que ele é um ideal. Um ideal que nunca podemos alcançar, mas esse é realmente o ponto de super-heróis como ele”, pondera.
Sacríficio
Uma das bases do Superman é o sacrifício em nome da humanidade, ao se colocar em um patamar menor diante das necessidades dos outros. Segundo Weldon, tudo isso foi inspirado em outras figuras que também representam o mesmo ideal.
Jesus Cristo e Moisés, por exemplo, são algumas das figuras em que a narrativa do Superman bebeu. “É uma história simples e extremamente atraente. A ideia de um homem que não precisava fazer absolutamente nada, mas que opta por utilizar seus imensos poderes para ajudar os outros”, argumenta.
Nos cinemas
Nas telonas, o Homem de Aço passou basicamente por três fases principais, além dos seriados e telefilmes. A primeira nos longas dirigidos por Richard Donner nas décadas de 1970 e 1980. “Eles têm muito daquele período, mas o desempenho de Christopher Reeve pegava o fato essencial da personagem: ele está aqui como um amigo, como alguém que está olhando para nós”, opina Weldon.
Depois, em 2006, o diretor Bryan Singer trouxe o herói de volta para os cinemas com Superman — O retorno. “Tem uma referência muito grande a Donner. Foi um exercício de nostalgia, o que faz algum sentido, mas a melancolia que o filme exalava parecia fora do lugar.”
O herói retorna em 2013 com Homem de Aço, de Zack Snyder. Interpretado por Henry Cavill, este é o atual Superman do universo da DC nos cinemas. “Snyder não compreende realmente o altruísmo que é a base do Superman — ele não acredita no altruísmo. Ele desconfia da noção de abnegação e mostra isso na tela. Além disso, ele acha que vai conseguir levar para o Superman o tom sombrio, férreo que Nolan trabalhou para os filmes do Batman. Isso mostra completamente que ele entende mal o que Superman é”, critica Weldon.