Maria Madalena, que estreia hoje no Brasil, é mais uma vítima do escândalo Harvey Weinstein. Em 2017, antes da série de denúncias de abuso sexual e estupro contra o produtor virem à tona, muitos anteciparam que o longa inspirado em personagens bíblicos faria bonito no Oscar.
A produção britânico-australiana dirigida por Garth Davis – seis nomeações ao Oscar de 2017 com seu filme anterior, Lion: Uma jornada para casa – e estrelada por Rooney Mara e Joaquin Phoenix, que se tornaram um casal durante as filmagens, seria distribuída pela The Weinstein Company.
Com o escândalo, que paralisou as atividades da TWC, outros estúdios entraram em jogo para distribuir o filme, adiando o lançamento nos Estados Unidos, que, inclusive, ainda não foi marcado. Dessa maneira, Maria Madalena se tornou o filme da Quaresma em boa parte do mundo – além do Brasil, o filme chega neste mês aos cinemas da Europa, América Latina e Ásia.
Para além dos bastidores da indústria do cinema, Maria Madalena é o filme que tenta colocar por terra um velho conceito: a da prostituta arrependida que se torna seguidora de Cristo. A ideia, que vem do século 6, através do papa Gregório I, foi ratificada pelo próprio cinema, em filmes como A última tentação de Cristo, de Martin Scorsese (1988) e A paixão de Cristo, de Mel Gibson (2004).
Apoiado no Novo Testamento – e também no Vaticano, que em 2016 elevou a data de 22 de julho como o Dia de Santa Maria Madalena –, o filme narra a história de uma mulher que estava à frente de seu tempo.
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A dinâmica do grupo de seguidores, com a chegada de Maria, muda bastante. O filme destaca os apóstolos Pedro (aqui vivido por Chiwetel Ejiofor) e Judas (Tahar Rahim). O primeiro perde a liderança com a chegada da mulher e sente considerável ciúme da aproximação de Maria e Jesus. O segundo é apresentado como um jovem meio alucinado por ter perdido a família.
Apoiado por locações de encher os olhos – as filmagens foram realizadas no Sul da Itália – e pela atuação de Rooney Mara (firme e etérea ao mesmo tempo), Garth Davis, no entanto, não consegue fazer o filme decolar.
A chegada em Jerusalém, a última ceia (que não chega a ter os 12 apóstolos reunidos), a traição de Judas, a paixão de Cristo até sua crucificação são apresentados rapidamente. Esta pressa tira o peso que tais situações deveriam ter.
Com uma introversão que vai contra as ideias que a história propõe, o filme vai perdendo seu vigor, tornando-se um tanto solene. Consequentemente a reinvenção da “apóstola dos apóstolos” – o conceito que a narrativa se apoia – não chega a ser devidamente convincente. Veja o trailer: