Aniquilação podia ser apenas mais uma grande produção de ficção científica inteligente e visivelmente extravagante, mas sua verdadeira audácia é contar com um elenco todo de mulheres. Os filmes de mulheres – quase um gênero em si – ainda são raros e, geralmente, relegados à comédia (Missão madrinha de casamento, Viagem das garotas, o remake de Caça-fantasmas, entre outros), seja musical, seja romântica.
Em Aniquilação, Alex Garland – já aplaudido por Ex Machina: instinto artificial, lançado em 2015 sobre robôs que dominam os homens – põe em cena um grupo de mulheres cientistas. Elas são recrutadas para uma missão na Zona X, uma parte sinistra e misteriosa da costa americana, ao redor de um lugar secreto, onde caíram extraterrestres.
A produção, que estreou em 23 de fevereiro nos cinemas americanos, estará disponível no Brasil, a partir de hoje, exclusivamente na plataforma Netflix. O filme traz questões filosóficas e éticas, ao abordar as mutações genéticas, que dão origem a seres híbridos. As imagens que retratam a vegetação, também alterada pelo misterioso fenômeno, são tratadas para ressaltar as normas formas, resultando numa visualidade bastante particular.
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Feminista assumida, ela foi uma das fundadoras do movimento Time’s Up, criado por centenas de mulheres de prestígio em Hollywood para lutar contra o assédio e contra as agressões sexuais no ambiente de trabalho.
Nesta nova produção, Alex Garland, que já havia escrito o thriller apocalíptico Extermínio de Danny Boyle, adaptou a aclamada série de Jeff VanderMeer, Southern Reach trilogy (no Brasil, Trilogia Comando Sul; e seu primeiro volume, Aniquilação, foi publicado pela Editora Intrínseca. A história se passa nos pântanos da Flórida, recriados no Windsor Great Park, na Inglaterra, para esta filmagem. O local já foi um terreno de caça da família real britânica.
Na trama, Natalie Portman divide a cena com Jennifer Jason Leigh (Mulher solteira procura, Os oito odiados), Gina Rodriguez (Jane the virgin, O touro Ferdinando), Tessa Thompson (Creed: nascido para lutar, Selma – uma luta pela igualdade) e Tuva Novotny (Comer, rezar, amar).
Já o marido de Natalie Portman em Aniquilação é interpretado por Oscar Isaac, de 38 anos, um dos principais nomes de Ex Machina. Hoje um dos atores de maior destaque em Hollywood, muito em função de seu papel na última trilogia Star wars, neste filme ele está reduzido a ficar inconsciente no leito de um hospital. E assim permanece durante grande parte da projeção. “Em geral, um grupo de caras vai para algum lugar, e eles salvam a única personagem feminina. E aqui é o contrário. Sou eu que faço a donzela em perigo. Foi bom”, brincou o ator.
Tessa Thompson, de 34, observou que os três filmes de maiores bilheterias nos Estados Unidos no último ano tinham uma mulher como personagem principal: Star wars: os últimos Jedi, A bela e a fera e Mulher-Maravilha.
Mesmo com um cartaz basicamente feminino, com atrizes de origem hispânica e negra, Aniquilação não é poupado de polêmicas, em uma indústria criticada cada vez mais por seu conservadorismo e discriminação persistentes, ainda que sob o verniz de discursos progressistas. O filme foi acusado de ter “embranquecido” algumas personagens, já que os papéis de Natalie Portman e de Jennifer Jason Leigh eram, na versão original, de uma asiática e uma ameríndia. Portman afirmou, mais tarde, que não sabia que sua personagem era originalmente asiática e disse que é necessário que mulhres negras, asiáticas, hispânicas sejam melhjor representadas no cinema.
O filme estreou nos cinemas dos Estados Unidos e será exibido nas telonas no Canadá e na China. No entanto, após testes que descreveram o filme como “muito intelectual”, o estúdio Paramount decidiu vender os direitos internacionais para a Netflix, alegando antecipar um fracasso de bilheteria. A decisão não agradou ao diretor. Alex Garland afirmou ao site americano Collider que ficou decepcionado, pois toda a produção foi feita pensando em exibir o filme nos cinemas.
Apesar da previsão pouco otimista, as primeiras críticas foram mais animadoras e o site Metacritic, que reúne a média de comentários sobre o filme deu a nota de 79, o que é considerado bem razoável para os padrões de grandes produções do gênero. Ben Pearson, do site Slash Film, escreveu que Aniquilação “é o tipo de ficção científica que sempre tivemos vontade de ver: audaciosa, complexa, singular, visualmente deslumbrante”. (AFP)
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