Fundação Clóvis Salgado exibe 51 filmes do ícone do cinema mudo

Longas de Buster Keaton fazem parte da mostra que acontece até 29 de março. Última sessão terá trilha sonora executada ao vivo

por Pedro Galvão 02/03/2018 08:00

FCS/divulgação
(foto: FCS/divulgação)

Na década de 1970, bem antes do surgimento de facilidades digitais como DVD, streaming e download, cinéfilos de Belo Horizonte costumavam se reunir no Grande Teatro do Palácio das Artes, onde um projetor exibia filmes esquecidos pelo circuito comercial. Como o espaço era enorme para aquele pequeno número de pessoas, surgiu a ideia de algo menor, mais intimista. Assim nasceu o Cine Humberto Mauro, que celebra seus 40 anos com o orgulho de ter se tornado referência em cinema na capital mineira. Iniciando as comemorações, a Fundação Clóvis Salgado resgata a trajetória do ator e diretor norte-americano Buster Keaton (1895-1966), vanguarda na comédia e referência do cinema mudo.

Até 29 de março, 27 longas e 24 curtas-metragens estarão em cartaz na mostra Buster Keaton – O acrobata do riso. Serão pelo menos três sessões diárias, com entrada franca. “A proposta é trazer reflexões sobre a própria história do cinema”, afirma o curador Bruno Hilário. A seleção inclui filmes dirigidos, estrelados e influenciados pelo americano, além de produções que dialogam com seu legado.

O público poderá conferir a obra-prima A General (1926), em que Keaton interpreta Johnnie, homem apaixonado por uma locomotiva, além de Luzes da ribalta (1952), de Charles Chaplin, apontado como o rival do astro. Neste filme, porém, os dois se tornaram parceiros. Outra atração é O grande mestre invencível (1994), estrelado por Jackie Chan, devoto da obra do norte-americano.

CHAPLIN
O auge da carreira de Buster Keaton se deu nos anos 1920, quando Chaplin também despontava. Na era do cinema mudo, o ator e diretor se notabilizou pela expressão facial imutavelmente séria, mesmo diante das maiores trapalhadas que seus roteiros cômicos traziam. Essa característica fez com que Keaton se tornasse conhecido como “O cara de pedra” e “O homem que nunca ri”.
Marinheiro de encomenda (1928), O homem das novidades (1928) e Nossa hospitalidade (1924), programados pelo Cine Humberto Mauro, são alguns dos principais títulos de sua filmografia naquela época. No entanto, ao contrário de Chaplin, Buster Keaton perdeu o estrelato com a chegada do cinema falado, embora tenha continuado a criar e produzir comédias no novo formato.

SOBREVIDA Bruno Hilário observa que a programação do Cine Humberto Mauro enfatiza o artista além da linguagem que o consagrou. “Temos a ideia de que a carreira do Keaton se encerra com o fim do cinema mudo, mas isso não é verdade. A mostra destaca a atuação dele, a sobrevida também no cinema falado. Foi um grande desafio continuar em evidência diante dos avanços tecnológicos do século 20. Mostramos que o modo de fazer comédia criado por ele não se perdeu com o passar do tempo”, argumenta o curador.

O grand finale está marcado para o dia 29. No encerramento da mostra, no Grande Teatro do Palácio das Artes, o público assistirá a The railrodder (1965), dirigido por Gerald Potterton e lançado um ano antes da morte de Keaton, protagonista do curta. Essa comédia silenciosa, a bordo de uma locomotiva que viaja pelo Canadá, tem 25 minutos. Composta especialmente para a ocasião por André Brant, a trilha sonora será executada ao vivo por músicos do Centro de Formação Artística e Tecnológica do Palácio das Artes (Cefart). Em seguida, será exibido A General.

Iniciar a comemoração dos 40 anos da sala com o Buster Keaton é, basicamente, retomar a origem da sétima arte, diz Hilário. “Ele tem um caráter muito popular, é um dos personagens mais carismáticos do cinema mundial e da comédia, o único que se compara ao Carlitos (Charles Chaplin). Por isso pensamos em voltar ao passado e evidenciar o caráter de cinema de repertório que o Cine Humberto Mauro sempre adotou”, explica. O curador lembra que serão utilizadas algumas cópias restauradas em DCP trazidas dos Estados Unidos.

A Fundação Clóvis Salgado planeja outras mostras e festivais para comemorar os 40 anos do Cine Humberto Mauro, mas a agenda ainda não está fechada. “É interessante ver como a sala surgiu do diálogo com a sociedade civil e com a cinefilia de BH, que demandaram do poder público o espaço e as condições para exibição de obras que não têm caráter comercial a priori e de filmes com intenções mais artísticas. Registramos recordes de frequência em 2017”, destaca Bruno Hilário. Ano passado, a sala recebeu 71,4 mil espectadores e 29 mostras – 21 delas promovidas pela fundação e oito por produtores externos.

BUSTER KEATON – O ACROBATA DO RISO
Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Até 29 de março. Entrada franca. Programação completa: www.fcs.mg.gov.br.

PROGRAMAÇÃO

HOJE (2)
» 15h – O pesado (1920), de Winchell Smith e Herbert Blaché
» 16h30 – Nossa hospitalidade (1923), de John G. Blystone e Buster Keaton
» 18h – O teatro (1921), de Buster Keaton e Edward F. Cline; Sherlock Jr. (1924), de Buster Keaton

SÁBADO (3)
» 16h – As três eras (1923), de Buster Keaton e Edward F. Cline
» 17h15 – O barco (1921), de Edward F. Cline e Buster Keaton; Marinheiro por descuido (1924), de Donald Crisp e Buster Keaton
» 19h – Sonhos impossíveis (1922), de Edward F. Cline e Buster Keaton; Sete oportunidades (1925), de Buster Keaton
» 20h30 – Vaqueiro avacalhado (1925), de Buster Keaton

DOMINGO (4)

» 16h – Boxe por amor (1926), de Buster Keaton
» 18h – A General (1926), de Buster Keaton e Clyde Bruckman
» 20h – Amores de estudante (1927), de James W. Horne e Buster Keaton

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