As etapas essenciais de confecção de um filme incluem desenvolvimento do roteiro, filmagem e finalização. Assim que decidiu dirigir Caçadores da arca perdida (1981), Steven Spielberg, de 71 anos, levou quatro anos para concluir todas as etapas. Para A lista de Schindler (1993) foi pelo menos uma década. Já Lincoln (2012), um pouco mais de 10 anos.
Pois ainda não se completou um ano desde que o cineasta recebeu o roteiro e decidiu filmar The Post: A guerra secreta, que estreia nesta quinta-feira (25) em todo o país. “O nível de urgência para fazer o filme foi devido ao clima atual desta administração, bombardeando a imprensa e rotulando a verdade como falsa, se isso lhe convier”, afirmou Spielberg ao jornal britânico The Guardian.
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Em pouquíssimo tempo – ainda mais dada a envergadura dos envolvidos – Spielberg conseguiu reunir, pela primeira vez, Meryl Streep e Tom Hanks em um filme. Ela é Katharine Graham (1917-2001), proprietária e publisher do The Washington Post, naquele junho de 1971 apenas um jornal de dimensão local, que vivia às turras com a administração Richard Nixon (1969-1974).
Ela estava à frente do diário não por méritos próprios, mas porque havia assumido a administração após o suicídio do marido, Phil Graham, em 1963. Em 1933, o pai de Kay, Eugene Meyer (1875-1959), comprou o jornal.
Uma “bomba” cai em Washington em 13 de junho de 1971. O governo americano sabia, há alguns anos, que não havia como vencer a Guerra do Vietnã (1955/1975). A despeito disso, continuava a mandar jovens para a morte do outro lado do mundo. Veio da imprensa tal revelação. Mas o furo foi do The New York Times, que começou a publicar uma parte de um documento secreto de 47 volumes (14 mil páginas) que havia sido encomendado pelo secretário de Defesa das gestões Kennedy e Johnson, Robert McNamara (1916-2009). São os chamados Papéis do Pentágono ou Papéis do Vietnã.
Coube ao Post, como a toda a imprensa americana, replicar, posteriormente, o furo do Times, dando os devidos créditos.
Desde o furo levado, Bradlee entrou numa corrida pelos documentos – vazados pelo ativista Daniel Ellsberg, que havia participado do estudo (uma espécie de Edward Snowden da década de 1970, é hoje um senhor de 86 anos). Quem conseguiu uma outra cópia dos papéis foi o repórter do Post Ben Bagdikian (Bob Odenkirk).
SOCIALITE Esse é o cerne do filme de Spielberg. Em meio a um processo de abertura de capital do Post, Kay Graham não consegue fazer frente aos administradores do jornal. Para eles, não passa de uma socialite um tanto inadequada para a função. Ela, por seu lado, também está em dúvida – e uma amizade de muitos anos com McNamara (no filme vivido por Bruce Greenwood) não ajuda em nada na decisão. Bradlee, por seu lado, convoca uma equipe de aguerridos repórteres para, em tempo recorde, conseguir publicar o material. E ele sabe que a decisão final será de Kay – algo que definirá a vida e a carreira de ambos, bem como o futuro do Post.
Diante disso, The Post é uma resposta direta à guerra que Trump vem empreendendo contra a imprensa norte-americana.
Dado como uma aposta certeira para o Oscar, o filme não foi bem acolhido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Está em apenas duas categorias – melhor filme e atriz, na 21ª indicação de Meryl Streep. Mas isso não diminui a força da narrativa.
O idealismo do Bradlee vivido por Hanks, que acaba contaminando a Kay de Meryl Streep, cai como uma luva para Spielberg – cineasta que comumente retrata personagens aptos a defender o caminho correto. “Eu acredito em uma única verdade, que é a verdade objetiva”, disse ainda o cineasta ao Guardian.
Abaixo, confira o trailer de The post - A guerra secreta: