Dez anos depois de premiar o diretor brasileiro Cláudio Assis, diante da “crueza, da energia e do poder das imagens” do longa Baixio das bestas, e de, em anos recentes, ter reservado prêmios da crítica a títulos como O som ao redor (de Kleber Mendonça Filho) e Pela janela (de Caroline Leone), o Festival de Roterdã, que inicia nesta quarta (24) sua edição 2018, reservou bastante espaço para exibir a produção brasileira. Num circuito que compreende quase 40 salas de cinema, a 47ª edição do evento holandês, que prossegue até 4 de fevereiro, terá 12 títulos nacionais espalhados entre suas seções.
Inédito até mesmo no Brasil, o longa Mormaço, de Marina Meliande, marca a estreia solo da codiretora (com Felipe Bragança) dos longas A alegria e A fuga, a raiva, a dança, a bunda, a boca, a calma, a vida da mulher gorila. O longa da diretora, que mostra uma jovem advogada carioca com cotidiano muito alterado pela expectativa da realização dos Jogos Olímpicos na cidade, está na competição oficial. Uma estranha modificação no estado de saúde da personagem coincide com o aparecimento de um novo amor.
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O Brasil também faz parte da competição principal com o longa de ficção Djon África, de João Miller Guerra e Filipa Reis. Isso porque a Desvia Filme, produtora pernambucana independente comandada por Gabriel Mascaro (Boi neon), é parceria do longa coproduzido ainda entre Portugal e Cabo Verde. O filme mostra a busca de Miguel Moreira, criado pela avó, por um pai completamente desconhecido e terá sua estreia mundial em Roterdã.
Depois das primeiras exibições no Festival de Sundance, o longa Benzinho, feito com recursos brasileiros e uruguaios, vai a Roterdã para participar da seção Voices, reservada a produções com temas relevantes sob ótica contemporânea. Amanhã, a mesma seção exibe As boas maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, já premiado nos festivais de Biarrritz (França) e Locarno (Suíça), além de ter sido considerado melhor filme na Première Brazil do Festival do Rio.
As boas maneiras trata dos distúrbios das noites de lua cheia, que transformam a convivência de uma jovem e solitária babá e sua patroa em São Paulo, onde cultivam uma relação demasiado próxima. Com Maeve Jinkings no elenco, o longa Açúcar, de Sérgio Oliveira e Renata Pinheiro, também participa da mostra Voices.
O diretor cearense Guto Parente comparece com dois filmes: O clube dos canibais, cuja direção ele assina sozinho e Inferninho, codirigido com Pedro Diógenes. A exibição desse último está prevista para sexta. Com uma trama sobre gângsteres e outros contraventores que ameaçam a harmonia de pessoas que festejam a livre convivência numa eclética boate, Inferninho tem no elenco a atriz Samya de Lavor, premiada por O último trago no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
PROSPECTANDO TALENTO Numa programação dedicada a promissores cineastas (a Bright Future), Sol alegria (a ser exibido na sexta) e Azougue Nazaré (quinta) representam o Brasil. O primeiro é dirigido por Tavinho Teixeira e aborda um país sob o jugo dos militares, com padres que pregam o fim do mundo e freiras que negociam Cannabis. Todos se juntam à trajetória de uma libertária família itinerante.
Produtor do celebrado filme Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, e assistente de direção de A febre do rato (de Cláudio Assis), o diretor estreante em longa Tiago Melo é quem assina Azougue Nazaré. Filmado na pernambucana Nazaré da Mata, o longa mostra a interferência de parte da Igreja empenhada em liquidar uma tradicional batalha de samba na qual o maracatu é exaltado.
Exibido no ano passado no Festival de Brasília, o curta A passagem do cometa (de Juliana Rojas), que trata da falta de perspectivas para a legalização do aborto, tem espaço assegurado na mostra de curtas, junto com Merencória, de Caetano Gotardo. Vencedor de prêmios no Festival Mix Brasil e no Festival de Vitória, Merencória fala da paixão e do amor pela música. Na lista de títulos brasileiros em Roterdã está ainda o curta Antes do lembrar, dos estudantes gaúchos Vinícius Lopes e Luciana Mazeto, que explora um mundo ancestral e ainda o recontar de histórias das evolução de costumes, com direito a visitas em sete centros arqueológicos.