Em cartaz em Belo Horizonte, no Cine Belas Artes, a produção sul-africana Os iniciados, longa-metragem de estreia de John Trengove, só chegará ao circuito comercial de seu país em 2 de fevereiro. E isso depois de muita controvérsia na África do Sul.
O drama tem chances de sair hoje como um dos cinco indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Caso isto ocorra, o Brasil poderá ter o seu quinhão. Belo-horizontino de 38 anos, Elias Ribeiro, radicado desde 2010 na Cidade do Cabo, é o produtor do longa.
“Estou com uma confiança enorme. É um filme bem contemporâneo, com uma temática atual. Então, acho que o timing dele, além dos próprios méritos do filme, nos dá a chance de estar entre os indicados”, afirma Ribeiro.
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Os iniciados trata de homossexualidade em meio a um dos rituais mais tradicionais dos xhosa, um dos maiores grupos étnicos daquele país – a língua xhosa é falada por 9 milhões de pessoas. Nelson Mandela era desta etnia.
Quando os meninos chegam aos 18 anos, são enviados ao ritual que realiza a circuncisão num local isolado, em pequenas tendas, por chefes tribais, sem qualquer assistência médica (o que já causou morte e mutilação). No processo que os faz adultos, os meninos têm que ficar uma semana nessas tendas, sem beber ou se alimentar. Têm contato apenas com homens chamados cuidadores.
O filme acompanha o jovem Kwanda (Niza Jay), que questiona os códigos patriarcais, e dois cuidadores que têm uma relação, Xolani (Nakhane Touré) e Vija (Bongile Mantsai). “Escolhemos este lugar, que é hipermasculino, para falar de um rito de passagem e do amor entre homens”, conta Ribeiro. De acordo com as regras da Academia, para que um longa-metragem possa entrar na corrida pelo Oscar de filme estrangeiro ele tem que ter sido exibido em seu país de origem pelo menos sete dias consecutivos em uma sala comercial.
A première de Os iniciados foi em janeiro de 2017, no Festival de Sundance. Na sequência, o filme participou de vários festivais internacionais. Antes de qualquer exibição pública na África do Sul, a produção sofreu com uma campanha contrária. “O rei da nação Xhosa quis banir o filme, manobrar a opinião pública. Nós fizemos então várias exibições gratuitas para que as pessoas vissem o que era o filme e ficassem desarmadas”, diz Ribeiro.
A repercussão foi grande e durante a semana em que o filme foi exibido em uma sala na Cidade do Cabo e outra em Johanesburgo, em setembro, “bateu qualquer filme internacional, o que é muito difícil aqui”, afirma o produtor. Formado em turismo, Elias Ribeiro deixou BH pouco depois de fazer 20 anos. Viveu na Europa e nos EUA até se mudar para a África do Sul. À frente da produtora Urucu, criada em 2011, coproduziu o filme Comboio de sal e açúcar, de Licinio Azevedo, a produção que Moçambique enviou para tentar uma vaga entre os indicados ao Oscar.
Com sua produtora, Ribeiro tem uma residência aberta a roteiristas e diretores de países africanos, que passam uma temporada de dois meses na Cidade do Cabo. “Quero formar parcerias com o Brasil e, possivelmente, estendê-la para a residência”, comenta ele. A Urucu ainda é coprodutora de Luna, novo filme do realizador mineiro Cris Azzi.
Abaixo, confira o trailer de Os iniciados: