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Gary Oldman encarna à perfeição Churchill em 'O destino de uma nação'

“Vamos marcar nosso encontro semanal para segundas, às 16h?”, pergunta o primeiro. “Não, neste horário estou dormindo”, responde o segundo, deixando seu interlocutor quase estupefato.

Este curto diálogo, ocorrido em maio de 1940, é ainda mais impressionante porque os dois envolvidos são Winston Churchill (1874-1965) e o rei George VI (1895-1952).
Esta foi a primeira conversa de Churchill com o monarca depois de se tornar primeiro-ministro britânico. Seu nome e suas atitudes estavam longe de agradar ao rei e ao Partido Conservador. Mas a história provou que eles estavam errados.

A intenção de colocar no Brasil o pomposo O destino de uma nação como título do novo filme de Joe Wright (Orgulho e preconceito, Desejo e reparação) é tentar ser literal. Em menos de um mês, Churchill decidiu não entrar em acordo com Hitler, indo contra a opinião do ocupante anterior da cadeira, Neville Chamberlain (1869-1940).

Não foi uma decisão fácil, já que naqueles dias de maio de 1940, os Países Baixos já haviam se rendido ao poderio germânico e a França caminhava para tal. Dá para imaginar como teria sido o mundo caso o Reino Unido tivesse se curvado?

Gary Oldman mostra esta passagem histórica de maneira impressionante. O Globo de Ouro de melhor ator que levou no domingo deve antecipar uma série de prêmios (Oscar à vista?). Sua interpretação de Churchill é a razão de ser do filme, que trata de maneira soturna – e por vezes exagerada – aqueles dias decisivos.

O ator magro de 59 anos passou um ano estudando a figura histórica com paixão –  um homem opulento que se tornou primeiro-ministro aos 65 anos e fumava charutos compulsivamente –, fazendo com que Oldman adoecesse por causa da quantidade de charutos que fumou.

No discurso do último domingo, agradeceu à mulher “por ter aguentado minha loucura no último ano.
Ela dizia para os amigos que ia dormir com Winston Churchill e acordava com Gary Oldman”, disse ele, que divide a cena com outra atriz em grande momento. Kristin Scott Thomas está impagável como a forte Clemmie, a mulher de Churchill.

Não é uma figura fácil de interpretar, pois um ator com menos estofo poderia cair facilmente no histrionismo. E Churchill protagonizou momentos para tal. Acordava com o café da manhã na cama – um copo de uísque devidamente cheio era o “prato” principal. Era capaz de sair nu pela casa, a despeito da jovem secretária que o acompanhava. “Estou saindo como vim ao mundo.!”

Tais cenas, que Wright explora aqui e ali, dão uma certa leveza a um filme denso. O destino de uma nação foi gravado em tons sombrios – com muitos discursos e diálogos, como tem que ser uma história sobre Churchill. O maior, porém, se dá na parte final da narrativa, quando o político, acuado por seus colegas de partido, resolve ouvir a voz do povo.
Sozinho no metrô de Londres, Churchill ouve cada passageiro para saber sua opinião sobre a guerra. É um momento que funciona na ficção (apesar do tom açucarado), mas um tanto improvável para a vida real.

Além de contar como se deu este período decisivo da história do Reino Unido – e por que não dizer do mundo –, o filme ainda mostra como se deu a construção de um estadista, o mais célebre a ter governado o Reino Unido. Churchill, ao se tornar primeiro-ministro, era conhecido por ter colecionado derrotas, principalmente durante a Primeira Guerra.

Há ainda um diálogo de O destino de uma nação com outro filme bem cotado nesta temporada de prêmios. O filme mostra a criação da Operação Dínamo, notável operação militar da Segunda Guerra que evacuou 340 mil soldados aliados da cidade francesa de Dunquerque – mesmo tema do notável Dunkirk, de Christopher Nolan..