

O reconhecimento não se restringe à música. Suas participações em dois filmes, atuando no ficcional Corpo elétrico, de Marcelo Caetano, e como uma das personagens do documentário Meu corpo é político, de Alice Riff, deram visibilidade ao seu trabalho.
O bom momento foi confirmado com o recente anúncio de que o documentário Bixa travesty, do mineiro Kiko Goifman, feito em parceria com a mulher, Claudia Priscilla, foi um dos selecionados para a mostra Panorama do Festival de Berlim. O longa acompanha a vida e rotina de Linn e a cena de artistas trans de São Paulo.
Segundo Linn, que vai até Berlim para apresentar o filme, o documentário vai apresentar a sua trajetória, de amadurecimento e produção musical. “Esse documentário foi uma oportunidade incrível, porque foi um longa feito comigo, e não sobre mim”, explica.
“Foi um espaço onde pude depositar minhas intenções, minhas vontades artísticas em relação ao audiovisual, com total abertura”, esclarece Linn, que convidou, para o filme, pessoas do seu “meio”, para atuar e participar da produção. “O Festival de Berlim é um dos mais importantes e é um evento muito político, é uma ótima oportunidade de lançamento.”
Além de ir apresentar o filme, Linn deve fazer alguns shows pela Europa, que ainda devem ser confirmados. “Ou conhecer a Europa, toda travesti é europeia”, brinca. Além de Bixa travesty, os outros dois filmes brasileiros na mostra são Aeroporto central, de Karim Aïnouz, e Ex-pajé, de Luiz Bolognesi. Outra artista transexual brasileira, Luana Muniz, morta em 2017, também é tema de documentário, Obscuro barroco, este da diretora grega Evangelia Kranioti.
Pajubá é uma linguagem popular de raízes africanas, que nos últimos anos tem sido adotada por grupos LGBT como gíria. O disco de Linn, que leva esse nome, mistura ritmos, sendo puxado pelo funk, e traz músicas que falam sobre a luta e o dia a dia de pessoas marginalizadas, sobre oprimidos e opressores, e, principalmente, sobre as “contradições das tradições”, com o objetivo de fazer ruir o pensamento “caduco, macho patriarcal, branco, hétero e cis normativo”.
Linn comemora o sucesso e o momento de afirmação para artistas LGBT no país. “Foi um ano muito simbólico e significativo, no que diz respeito a disputa de imaginário”, diz. “Era isso que estava buscando e propondo no meu trabalho, os nossos corpos ocuparem outros espaços.” Para Linn, agora corpos “marginalizados, periféricos, pretos e transviados” conseguem circular por meios em que, antes, não tinham acesso.
“Tudo isso é questão de sobrevivência, não é só close e aparência”, acredita. No país em que se mata mais transexuais no mundo, segundo levantamento do Grupo Gay da Bahia, a arte é justamente uma forma de sobreviver. “Para que a gente se mantenha viva, a gente precisa trabalhar, conseguir se manter economicamente, manter a sanidade mental, enquanto há toda uma massa que tenta nos colocar, a todo momento, como loucas.”