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Em sua 21ª edição, Mostra de Cinema de Tiradentes escolhe a abordagem do real como eixo

No próximo dia 19, Tiradentes completa 300 anos de fundação. Nos últimos 20, a cidade histórica, que já era referência turística graças ao Barroco e ao charme provinciano de suas ruelas, se tornou também uma das capitais do cinema nacional.

'A moça do calendário', de Helena Ignez (SP) também está na programação - Foto: Tiago Pastorelli/Divulgação

A Mostra de Tiradentes, inaugurada em 1997, se prepara para iniciar sua 21ª edição exatamente no dia do aniversário da antiga Vila de São José do Rio das Mortes. Com uma seleção de 100 filmes, entre curtas e longas, a programação oferece um panorama do que vem sendo produzido no país de modo independente das grandes distribuidoras. Serão nove dias de exibições, premiações, debates, seminários e oficinas.


Além dos sete concorrentes à Mostra Aurora, dedicada a produções inéditas de realizadores em início de carreira, outros 23 longas estarão em cartaz. Destaque para o mineiro Arábia, de João Dumas e Affonso Uchôa, melhor filme segundo o júri oficial e o da crítica no Festival de Brasília de 2017, e Café com canela, de Ary Rosa e Glenda Nicácio, que levou três Candangos – melhor atriz (Valdinéia Soriano), roteiro (Ary Rosa) e melhor filme segundo o júri popular. O protagonista do longa baiano é também o homenageado desta edição da Mostra de Tiradentes, o ator carioca Babu Santana. Outros três filmes com ele serão exibidos: Tim Maia (2014), de Mauro Lima, Uma onda no ar (2002), de Helvécio Ratton, e o inédito Bandeira de retalhos, de Sergio Ricardo.

O eixo curatorial do festival neste ano será o “chamado realista”, visando a uma reflexão sobre as formas como o cinema brasileiro atual tem abordado a realidade.
“Esse recorte foi decidido antes do processo de seleção, pensando nas produções dos anos recentes e imaginando que a programação responderia, trabalhando de alguma forma com essa matéria da vida, de diferentes maneiras, não são só nos documentários”, afirma Cléber Eduardo, um dos curadores da Mostra.

FENÔMENOS SOCIAIS

A curadoria avaliou 168 longas, e Cléber Eduardo comenta que filmes de estilos diferentes têm em comum esse aspecto da abordagem do real. “Vimos que, mesmo em códigos mais populares do cinema, como a ficção, os diretores estão olhando para esses fenômenos sociais contemporâneos. Essa relação diferente com a realidade aparece no centro nervoso do filme em alguns casos, mas também de forma mais tangencial, mais periférica, com materiais de arquivo, áudio de TV. O processo foi refletir como eles lidam com essas questões, não só sobre as questões em si”, diz.

Como exemplo ele cita Era uma vez Brasília, de Adirley Queirós, que “se organiza em torno da ficção científica sobre um homem que viaja no tempo, mas coloca todo o áudio da votação do impeachment da (presidente) Dilma (Rousseff) num tom extremamente cético e negativo em relação ao nosso presente”. O curador compara o filme a Arábia, que classifica como “mais adocicado e mais emotivo”, ao também lidar com a realidade.

“Continuamos com um perfil geral coerente com o que vem sendo mostrado nos últimos anos – filmes de novos realizadores, projetos mais autorais, independentemente do tema. A gente tenta evitar filmes que se aproximem muito dos Multiplex e da TV, privilegiando obras que possam encontrar maior dificuldade de exibição. Isso não muda.

O que talvez tenha de mais novo é essa relação direta com as questões sociais e da realidade”, afirma Cléber Eduardo.

Os sete longas da Mostra Aurora (confira lista nesta página) serão exibidos de segunda (22) a sexta-feira (26). Os horários e locais de exibição será anunciados no dia 10. Os vencedores serão divulgados às 22h30 de sábado (27).

Entre os curtas, serão 70 filmes de 15 estados brasileiros, divididos em nove mostras. Na Foco, as produções concorrem ao prêmio do júri da crítica, enquanto a Foco Minas contempla a produção local do estado. Destaque para Nada, de Gabriel Martins, exibido em Cannes no ano passado. As outras mostras são Panorama, Regional, Formação, Jovem, além de Praça, Chamado Realista e Mostrinha, que também incluem longas, sendo a última delas dedicada ao gênero infantil.

Além das exibições e das premiações, a Mostra de Tiradentes oferece 10 oficinas com temas como Atuação no cinema realista; Direção de atores; Do ator ao personagem – produção de elenco no audiovisual; Elaboração e financiamento de projetos audiovisuais; Introdução a projetos audiovisuais multiplataforma; Realização curta digital; Caixa criativa dos escritores; Cinema e artes plásticas; Dramaturgia em 360 graus – o desafio da narrativa em todas as direções, e Por trás da câmera. Elas serão ministradas por especialistas em cada área. As inscrições terminam hoje (5) e podem ser feitas pelo site mostratiradentes.com.br.
No total, são oferecidas 225 vagas.

21ª Mostra de Cinema de Tiradentes
De 19/1 a 27/1. Entrada gratuita. Programação e informações: mostratiradentes.com.br



NA TELA

Confira a programação da edição 2018 da Mostra de Cinema de Tiradentes

 

Chamado Realista

 

A moça do calendário, de Helena Ignez (SP) – Filme de Encerramento
Apto420, de Dellani Lima (SP)
Arábia, de Affonso Uchoa e João Dumans (MG)

 

Era uma vez Brasília, de Adirley Queirós (DF)  
Nóis por nóis, de Aly Muritiba e Jandir Santin (PR)
Operações de garantia da lei e da ordem, de Julia Murat e Miguel Antunes Ramos (RJ)

Homenagem - Babu Santana
Bandeira de retalhos, de Sergio Ricardo (RJ)

 

Café com canela, de Ary Rosa e Glenda Nicácio (BA) – Filme de AberturaTim Maia, de Mauro Lima (RJ)
Uma onda no ar, de Helvécio Ratton (MG)

Mostra Praça
Escolas em luta, de Eduardo Consonni, Rodrigo T. Marques e Tiago Tambelli (SP)
Camocim, de Quentin Delaroche (PE)
Todos os Paulos do mundo, de Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira (RJ)
Por parte de pai, de Guiomar Ramos (SP)
Torquato Neto – Todas as horas do fim, de Eduardo Ades e Marcus Fernando (RJ)

Mostrinha
Historietas assombradas, de Victor-Hugo Borges (SP)
D.P.A. – Detetives do Prédio Azul, de André Pellenz (RJ)

Olhos Livres
Antes do fim, de Cristiano Burlan (SP)
Fernando, de Igor Angelkorte, Julia Ariani e Paula Vilela (RJ)
Inaudito, de Gregorio Gananian (SP)
Navios de terra, de Simone Cortezão (MG)
O nó do diabo, de Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abe e Jhesus Tribuzi (PB)
Platamama, de Alice Riff (SP)

Mostra Aurora
Madrigal para um poeta vivo, de Adriana Barbosa e Bruno Mello Castanho (MG)
Imo, de Bruna Schelb Correa (MG)
Ara Pyau – A primavera guarani, de Carlos Eduardo Magalhães (SP)
Dias vazios, de Robney Bruno Almeida (GO)
Baixo Centro, de Ewerton Belico e Samuel Marotta (MG)
Lembro mais dos corvos, de Gustavo Vinagre (SP)
Rebento, de André Morais (PB)

21ª Mostra de Cinema de Tiradentes
De 19/1 a 27/1.
Entrada gratuita. Programação e informações: mostratiradentes.com.br

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