Em maio de 1977, George Lucas preferiu fazer um retiro no Havaí para não sofrer com o ataque que ele imaginava que sofreria da crítica pelo lançamento de Guerra nas estrelas. Ele não acreditava no sucesso de sua ideia de colocar jovens atores como Mark Hamill, Carrie Fisher e Harrison Ford nos papéis de um fazendeiro, uma princesa e um contrabandista, acompanhados de dois robôs e um “cachorro de dois metros de altura” na missão de salvar a galáxia do exército maligno liderado por um vilão mascarado de capa preta.
Como sabemos 40 anos depois, Lucas estava completamente enganado sobre suas expectativas. Guerra nas estrelas foi um marco para o cinema da época, ficou em cartaz por um ano, ganhou seis Oscar e arrecadou US$ 775 milhões em todo o mundo. Além disso, permitiu a continuidade da trama imaginada por ele, encerrada com O retorno de jedi, em 1983, com direito a outra trilogia, lançada 16 anos depois, para contar o início da saga do maligno Darth Vader e o surgimento do Império Galático.
Para quem não conhece, a história que conquistou milhões de fãs por gerações, contada em seis longa-metragens, trata de uma galáxia imaginária, formada por centenas de planetas habitáveis por humanos e criaturas de todas as formas. Nesse mundo, duas ordens dominam a chamada força, uma energia controlável apenas por membros desses dois grupos: os jedi, cuja atividade é ligada à justiça e à paz, e os sith, que procuram associá-la ao ódio e à vingança.
DEMOCRACIA Para além do enredo fantasioso sobre uma luta entre seres superpoderosos do bem e do mal, há um contexto político que torna a trama atual e interessante para muita gente, década após década. A história original compreende a derrubada de um regime democrático na galáxia para a instalação de um governo totalitário, que futuramente seria combatido por uma rebelião encampada por bandeiras de liberdade, igualdade e esperança. A concepção coincide com a história real de várias nações da Terra no século 20, conforme analisa Cass R. Sunstein, fundador e diretor do Programa de Economia Comportamental e Políticas Públicas em Harvard, em seu livro O mundo segundo Star wars, lançado em dezembro de 2016.
A retomada desse universo, a partir de O despertar da força (2015) e agora com Os últimos jedi, continua tendo a disputa pelo poder político no centro da trama.
Todo esse combinado de temas conhecidos, invenções mirabolantes, efeitos especiais, personagens carismáticos e todo um imaginário repassado de uma geração para a outra já faturou quase US$ 6,5 bilhões só nas bilheterias de seus sete episódios. Se considerarmos o valor já movimentado em produtos licenciados, outras produções audiovisuais e gráficas e eventos voltados para fãs, não é exagero afirmar que George Lucas inventou também um dos negócios mais lucrativos da nossa galáxia. E essa história deve continuar. A Disney já confirmou o nono episódio, ainda sem título, para 2019, além de um spin off sobre a origem do personagem Han Solo, de Harrison Ford, com lançamento previsto para o ano que vem, e outra trilogia, com novos personagens, ainda sem data de lançamento. Além das telonas, a empresa também vai investir em um parque temático, em Orlando, com inauguração prevista também para 2019.
Guia rápido
>> Do que se trata?
De uma história que se passa há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante, formada por planetas de todos os tipos: desérticos, super-habitados ou selvagens, mas todos com a licença científica para ter a mesma gravidade e atmosfera igualmente habitáveis.
>> Ficção científica?
Não! Star wars é uma história de fantasia que engloba elementos batidos na literatura e no cinema, como romance, drama e luta entre bem e mal. Apesar de a força controlada como um superpoder pelos jedi e sith, grupos rivais ligados à luz e às trevas, respectivamente, e outros elementos mirabolantes, o centro da trama é uma disputa política entre um império tirano ditatorial e uma resistência democrática libertadora, permeada pela tragédia pessoal de Anakin Skywalker, que se transforma em Darth Vader, e seus descendentes.
>> Aliens e discos voadores?
As histórias são protagonizadas por humanos, alienígenas (não necessariamente verdes, nem com antenas, nem malvados) e robôs, chamados de droides. Espaçonaves velozes permitem viagens acima da velocidade da luz entre os planetas e as armas de laser, tanto espadas, como rifles, são usadas nos combates.
>> Mais histórias além dos filmes?
O complexo universo criado por George Lucas, com dezenas ou centenas de planetas, personagens, criaturas e histórias, inspirou fãs e outros autores a criar novas histórias, extraoficiais, sobre o tema. É possível encontrar livros, quadrinhos, animações e até outros filmes – como Rogue one, lançado no ano passado –, que contam outras narrativas sobre Star wars. Por isso, a trama dos sete episódios lançados no cinema até hoje é chamada de “canônica” ou simplesmente “cânone”.
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