

Em 18 de novembro, houve a pré-estreia especial do filme, ao ar livre, na Praça Independência, em Soure, na Ilha do Marajó, com plateia lotada. Pouco a pouco, o público se ajeitava nas cadeiras de plástico distribuídas em fileiras na frente do telão montado ali na tarde daquele mesmo dia. Quem não conseguiu lugar na plateia trazia a própria cadeira e se posicionava nos espaços vagos. Adultos, adolescentes, crianças. Todos estavam ali para assistir a uma história de sua terra, de uma personagem local, a pajé Zeneida Lima, hoje com 83 anos, educadora, escritora e fundadora da Instituição Caruanas do Marajó Cultura e Ecologia.
MUNDICO Na plateia, estavam ainda Tizuka e Zeneida, além de Marco Aurélio Marcondes, diretor-presidente da Riofilme, Nilcemar Nogueira, secretária municipal de Cultura do Rio, e políticos locais. Do elenco, só o ator Ângelo Antônio, que interpreta o pajé Mestre Mundico no filme – figura importante na vida de Zeneida –, conseguiu ir a Soure. Ali, Ângelo assistiu ao filme pela primeira vez. Depois da projeção, ele disse que estava impressionado. “O filme não cai, tem uma levada o tempo inteiro. Tizuka consegue manter uma tensão o tempo inteiro”, comentou, entusiasmado, o ator. Zeneida estava emocionada: “Ali senti como se fosse um grito da natureza, por tudo aquilo que eu lutei a vida inteira para preservar a memória caruana”.
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Inspirado no livro de Zeneida, O mundo místico dos caruanas da Ilha do Marajó, o filme conta a história de Zeneida (Carolina Oliveira), então menina, que sai de Belém, com a mãe Zezé (Letícia Sabatella), os sete irmãos e a empregada Cotinha (Dira), e vai para Ilha do Marajó, por determinação de Angelino (Mayer), pai ilegítimo dos oito filhos que teve com Zezé.
RITO É na ilha que Zeneida passa por seu rito de passagem: seu dom de pajé, ou caruana, que era sufocado pela família, se aflora quando ela entra em contato direto com a natureza. É ali também que descobre o amor (proibido) por Antônio (Thiago), um encantado, como são chamados os seres da natureza (daí o título do longa). O filme traz ainda no elenco Anderson Müller, como o capataz Fortunato, além da participação especial de Laura Cardoso e Cássia Kis, como índias ancestrais.
Foi um longo caminho para Encantados até o lançamento de agora. Enfrentou percalços como falta de dinheiro e problemas com distribuição. “Acho que tem vários motivos para o atraso do filme, mas a gente está entrando com ele no melhor momento. O Pará está bombando, a cultura paraense está bombando. Ficou uma certa conjuntura a favor”, comemora Tizuka, referindo-se ao sucesso da novela A força do querer, que tinha personagens e locações paraenses.
“Quando apresentei o projeto da primeira vez e falava da pajé Zeneida, não consegui investimento. Quando eu coloquei a pajé lá no final do currículo dela, apareceu o primeiro investimento. O Brasil foi descoberto, os portugueses vieram aqui, vieram vários invasores, sempre se sufocou a cultura local e continua assim até hoje. Essa experiência, a gente teve no processo de realização do Encantados.” (Estadão Conteúdo)