O pequeno August Pullman poderia ter uma infância ordinária, como ele mesmo descreve, escondido dentro de um capacete de astronauta. Nascido em uma família harmoniosa, formada por pai, mãe e irmã, residindo em uma casa espaçosa num bairro de classe média de Nova York, ele se interessava por fantasias, aventuras espaciais e Star wars. Uma criança como qualquer outra, não fosse uma deformidade facial de nascença que, aos 10 anos, já o fizera passar por 27 cirurgias plásticas e o afastado de qualquer convívio social fora do próprio lar.
O desafio de finalmente encarar o mundo exterior e ingressar numa escola regular, sob olhares assustados e preconceituosos de outras crianças e também de adultos, é o tema de Extraordinário. O filme chega nesta quinta-feira (7) às salas brasileiras, trazendo lições sobre bullying e respeito às diferenças. Desde que estreou nos Estados Unidos, há três semanas, Extraordinário já faturou US$ 88 milhões. O filme está entre as cinco maiores bilheterias do país nesse período, dominado por Thor: Ragnarok e Liga da Justiça.
O longa é uma adaptação do best-seller de mesmo nome, lançado em 2012. Foi o primeiro romance da norte-americana Raquel Jamarillo, que assina sob o pseudônimo de R.J. Palacio. A história nasceu em um passeio casual da autora com um de seus filhos, na época com 3 anos, a uma sorveteria. Na fila, ele se apavorou ao ver uma criança com o rosto deformado e começou a chorar. A mãe recolheu o pequenino e o levou para longe, causando constrangimento para a outra criança. No mesmo dia, ouvindo a canção Wonder, de Natalie Merchant, cuja letra fala sobre a superação pessoal de uma criança tratada como anormal, ela concebeu o personagem August, ou Auggie, como é chamado no livro e no filme. Sem ser baseado em um único menino real, a ideia é que ele representasse várias crianças em situação parecida.
TALENTO Para o papel principal na versão cinematográfica foi elencado Jacob Tremblay, que, apesar dos 11 anos, já é experiente em comover o público. O jovem canadense, de aparência física padrão, atuou em O quarto de Jack (2016), outra adaptação literária, mas sobre um garoto que nunca saiu do cativeiro que compartilha com a própria mãe no quarto de uma casa. A produção foi indicada ao Oscar de melhor filme naquele ano e Jacob foi premiado como melhor ator juvenil pela escolha dos críticos. Desta vez, o pequeno talento vem em uma trama mais leve, mas não menos tocante. Transformado em Auggie pela maquiagem, ela conquista de cara a empatia do espectador.
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Quem interpreta a mãe do protagonista é Julia Roberts. Incondicionalmente apaixonada pela criança, sua personagem também foi a responsável pela escolarização doméstica do filho, que se tornou um prodígio nas ciências antes mesmo de ingressar em uma instituição de ensino. Na verdade, Isabel Pullman passou a se dedicar integralmente ao menino, desde seu nascimento, abandonando trabalhos e deixando de lado também a filha mais velha, Olivia (Amanda Vidovic). Na criação dos filhos, ela tem a companhia do marido, Nate (Owen Wilson). Assíduo em comédias hollywoodianas, Wilson garante um tom mais cômico à trama dramática, até pela forma positiva como encara as situações da família.
PERSPECTIVAS A trajetória de Auggie em seu primeiro ano letivo é um constante confronto entre o desprezo e reprovação por parte dos colegas que o enxergam como uma aberração e acolhimento daqueles que o querem bem, tanto familiares, quanto profissionais e outros alunos da escola. Tal qual no livro, o filme é mostrado sobre outras três perspectivas, além da do próprio protagonista. Embora seja fisicamente normal, a irmã Olivia, sempre compreensiva com a desigual atenção recebida pelo caçula, também enfrenta problemas em seu convívio escolar. No primeiro ano do ensino médio, ela se vê solitária e ignorada pela melhor amiga. A adolescente compartilha com o espectador suas angústias, incertezas e memórias pela querida avó, que aparece em participação especial de Sônia Braga. Por outro lado, em outro momento, é o ponto de vista de Miranda (Danielle Rose Russell), sua ex-melhor amiga, que revela o que a fez mudar radicalmente de comportamento em relação a Olivia.
Na escola, Auggie encontra olhares inicialmente curiosos por sua estranha aparência. Logo aparecem as zombarias e apelidos, mas também amigos. O convívio social traz novidades, medos, alegrias e fortes decepções. O quarto narrador do filme é Jack Will (Noah Jupe), colega de Auggie que se divide entre a amizade com ele e a proximidade com o garoto mimado que lidera os ataques pessoais contra o novato.
Auggie compensa a insegurança com sabedoria acadêmica, em mais uma história em que o excluído é ao mesmo tempo genial, o que nem sempre se repete na vida real. Apesar disso, a trama tem boas lições sobre o bullying e as fraquezas que quase todos enfrentam na infância e na adolescência. A direção é do norte-americano Stephen Chbosk, autor e diretor de As vantagens de ser invisível (2012), que também aborda obstáculos no convívio social juvenil.
AÇÃO EDUCATIVA Para aproveitar a temática sobre aceitação das diferenças, a Paris Filmes, distribuidora do filme no Brasil, promoveu pré-estreias especiais, em parceria com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e as secretarias municipais de Educação de Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Nessas cidades, foram realizadas sessões exclusivas para estudantes do 5º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio, além de educadores da rede pública. De acordo com pesquisa feita pela Organização das Nações Unidas, divulgada em janeiro, metade das crianças e jovens do mundo já sofreu algum tipo de bullying – agressão física ou psicológica – por razões como aparência física, gênero, orientação sexual, etnia ou país de origem.
Abaixo, confira o trailer de Extraordinário: