Atire a primeira pedra quem nunca leu ou pelo menos teve curiosidade a respeito da obra de Agatha Christie (1890-1976), a dama do mistério. É uma aventura e tanto mergulhar no mundo da escritora inglesa, ao lado de seus detetives Hercule Poirot e Miss Marple, em tramas quase sempre geniais. A autora deixou cerca de 70 livros – alguns deles, clássicos da literatura policial.
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Volta e meia, clássicos da inglesa rendem adaptações no cinema. Assassinato no Expresso do Oriente, a mais recente delas, dirigida por Kenneth Branagh, desembarca hoje em 13 salas de cinema em Belo Horizonte e região metropolitana. Em pouco mais de uma hora e meia, o público fica com a pulga atrás da orelha para descobrir quem matou Edward Ratchett (Johnny Depp). Picareta de marca maior, a vítima é encontrada, pouco depois da meia-noite, esfaqueada em sua cabine do glamouroso trem. As suspeitas recaem sobre os 12 passageiros que embarcaram em Istambul.
Quem matou Ratchett (e aqui não vai spoiler) arquitetou o plano acreditando na velha história do crime perfeito. O assassino só não contava com a astúcia de Poirot, que consegue ligar os pontos e promover um desfecho surpreendente. Claro que Poirot conta com ajuda do mau tempo. Uma avalanche de neve provoca o descarrilamento do trem, obrigado a esperar socorro.
FARO
Branagh, que interpreta o inspetor Hercule Poirot, deu a seu filme alguns ganhos comparado à primeira versão do livro para o cinema, lançada em 1974 e dirigida por Sidney Lumet. O ator e cineasta tem faro fino. Lança mão de ângulos inusitados em algumas cenas, dando ao espectador a deliciosa impressão de acompanhar tudo de dentro do vagão. A direção de arte é uma beleza, de encher os olhos, provocando a vontade de marcar uma viagem no Expresso do Oriente. Aliás, o trem continua em atividade, mas uma semana entre Istambul e Paris, o mesmo roteiro do filme, custa em torno de R$ 30 mil...
Se as passagens de verdade são um sonho distante, melhor é grudar os olhos na tela e se deixar levar por essa aventura, mesmo com algumas oscilações no roteiro. É desnecessário o prólogo em que Poirot é apresentado enquanto desvenda um de seus inúmeros casos. Lumet foi mais esperto que Branagh. Preferiu seduzir a plateia com o sequestro da pequena Daisy Armstrong, o fio condutor da trama.
Lumet se deu melhor ao mandar subir os créditos, sem firulas, logo depois da solução do crime. Ao contrário de Branagh, que esticou demais, conferindo ares de novela mexicana à conclusão da história.
Kenneth Branagh ainda dá pistas do que pode vir por aí. Concluído o caso, seu Poirot segue do Expresso Oriente direto para o Egito para desvendar outro crime. Detalhe: o livro Morte no Nilo foi escrito em 1937, três anos depois de Assassinato.... Em 1978, aliás, chegou às telas de cinema.