Tem a ver com o ator, obviamente. A série Thor, com certeza, deve muito a Chris Hemsworth, o homem que empunha o martelo dos deuses. Não apenas a ele - os dois primeiros filmes, Thor e Thor, o Reino Sombrio - são basicamente histórias de amor, nas quais o contraponto ao romance vem por meio da disputa entre os irmãos. A verdadeira química era - tinha de ser - entre Thor e Lóki, Hemsworth e Tom Hiddleston. O terceiro filme, que agora estreia - Thor: Ragnarok -, é de longe o melhor. Traz o herói repaginado, e você já viu na capa que Hemsworth ostenta um corte de cabelo militar. Não é a única mudança.
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Já havia uma complicação familiar em Guardiões da Galáxia 2, um conflito entre pai e filho, mas não se compara aos estragos que Hela faz no clã dos deuses Aesir. Como Thor e Lóki, Hela é filha de Odin e ajudou o pai a conquistar o domínio da galáxia. O problema é que Odin deixou de ser um deus sanguinário e baniu a filha de seu reino. Hela, a deusa da guerra, está de volta, e com um visual punk tão agressivo que... Espere, é Cate Blanchett, trazendo para o universo dos comics, e da Marvel, o extraordinário talento que já lhe valeu dois Oscars - melhor coadjuvante, por O Aviador, de Martin Scorsese, e melhor atriz, por Blue Jasmine, de Woody Allen.
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Na Marvel ou na DC Comics, há uma complexidade humana no universo dos super-heróis que muita gente ainda se recusa a admitir. É reducionismo considerar que filmes baseados em HQs sejam meras tolices, ou apenas invólucros para efeitos especiais. A série Batman de Christopher Nolan foi profética na abordagem de questões relativas a poder e segurança na internet. O perigo do furacão (Donald) Trump já estava lá. O Superman de Zack Snyder vive no centro de uma tragédia familiar. Seu primeiro filme era sobre o pai, o segundo, dividindo a cena com Batman, sobre a mãe. A definição de tragédia não é excessiva. Zack Snyder costuma ser criticado pelo que alguns críticos consideram falta de humor. Pois com falta de humor e tudo, só apostando no pathos, ele consegue números extraordinários com seus blockbusters. E isso é um fenômeno.
James Gunn, pelo contrário, aposta no humor na série Guardiões na Galáxia. O 2, trabalhado por Snyder, seria uma tragédia. Com Gunn vira uma festa, e bate recordes de público. Como se explica que obras tão diversas sejam produzidas pela mesma máquina de sucessos? Tem a ver com os diretores, claro, e o nó górdio é aceitar que os Nolan, Snyder, Gunn sejam autores. O caso de Taika Waititi parece particularmente desconcertante. Comediante, ator, diretor, escritor e pintor da Nova Zelândia, ele veio de filmes pequenos, indies, antes de terminar à frente de Ragnarok. Como se faz a passagem para o blockbuster? No caso de Waititi, ele ainda faz um papel no próprio filme. É o gigante de pedra Borg, e tem feito tanto sucesso nas redes sociais que Kevin Feige, presidente da Marvel, já admite acrescentá-lo à franquia formando dupla com o alienígena insectoide Miek. Waititi já disse que topa, mas só se o pacote for completo, e ele seguir como diretor de um provável Thor 4.
O 3, que estreia nesta quinta, 26, possui, bem estruturado, todo esse arcabouço dramático - o desaparecimento do pai, a destruição de Asgard, os destrutivos laços familiares -, mas a própria veia cômica de Taika Waititi o leva a destensionar seu relato por meio do humor. A expectativa é de novo megassucesso e logo em seguida ainda virá, este ano, a Liga da Justiça de Zack Snyder. Uma nova tragédia? Pode esperar que sim. Snyder viveu em 2017 o pior tormento que um pai pode experimentar, o suicídio da filha. Não se surpreenda se isso se refletir no filme.