Acostumado a estar atrás das câmeras, Steven Spielberg achou estranho ser o foco de um documentário. O cineasta, um dos mais bem-sucedidos da história do cinema norte-americano, recusou a ideia no primeiro momento. A ousadia de tentar convencê-lo veio de Susan Lacy. Ela produziu obras como No direction home: Bob Dylan e se destacou ao dirigir American masters, série de entrevistas profundas e longas na televisão.
"É uma experiência muito interessante ser o assunto de um filme, quando eu passei minha carreira inteira buscando assuntos para meus filmes. E estar repentinamente no centro das atenções para mim foi intimidador e assustador", explicou Spielberg.
"Eu não gasto muito tempo em qualquer tipo de autoanálise. De certa maneira, eu deixo meus filmes fazerem isso. E deixo vocês me entenderem por meio deles. Eu só gasto muito tempo buscando boas histórias e as conto", completou Spielberg.
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Foi a reputação de Susan como entrevistadora que abriu caminho para que o cineasta começasse a achar a ideia menos absurda. "Ele não queria por um tempo. Mas então ele assistiu a um dos meus filmes — não consigo lembrar qual deles — e realmente gostou... Ele viu um monte deles, mas acho que o foi a entrevista com (o maestro) Leonard Bernstein", contou Susan em entrevista coletiva sobre o documentário Spielberg.
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Com diversas entrevistas, o longa propõe reflexões sobre os filmes de Spielberg, mas, claro, principalmente sobre os bem-sucedidos. As sessões de entrevista funcionaram como uma espécie de análise para o diretor, que disse sempre se recusar a fazer algo do tipo.
"Perguntei a ele se ele já tinha feito terapia e ele disse: ‘Não, mas acho que estou fazendo isso com você’", contou Lacy em entrevista ao site IndieWire. Spielberg disse que os próprios filmes são a sua maneira de fazer isso.
"Eu não gasto muito tempo em qualquer tipo de autoanálise. De certa maneira, eu deixo meus filmes fazerem isso. E deixo vocês me entenderem por meio deles. Eu só gasto muito tempo buscando boas histórias e as conto", completou Spielberg.
Carreira
O documentário deixa de lado questões mais íntimas e pessoais e foca no trabalho e na obra do diretor. A mulher e os filhos de Spielberg, por exemplo, não participam do filme, embora o pai e mãe dele deem depoimentos. "Eu só os entrevistei porque eles estavam lá no nascimento dele como cineasta", justificou Susan.
Por isso, mesmo quando a infância do diretor é a pauta, a relação com o cinema domina tudo. Para a produção do documentário, Lacy entrevistou também uma extensa lista de diretores e atores que tiveram algum tipo de relação profissional com Spielberg.
Entre os atores estão nomes como Christian Bale, Daniel Craig, Daniel Day-Lewis, Leonardo DiCaprio, Harrison Ford e Tom Hanks. Diretores como JJ Abrams, Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e George Lucas também deram depoimentos sobre o diretor.
"Todo ator que entrevistei — e entrevistei a todos — ficou muito impressionado com o quanto ele entende o processo de cinema e como ele vê à frente quando está filmando", disse. "Poucos cineastas têm essa habilidade. E eu fiz muitas pesquisas a respeito disso."
Tempo
Só com Spielberg, Susan fez 17 sessões de entrevistas durante um ano. Foram horas e horas de conversa entre ela e o cineasta. "Eu sou uma entrevistadora muito profunda", valorizou Susan, deixando a modéstia de lado. "Ainda estávamos na infância após duas horas. Ele é muito tímido com as entrevistas; ele concede poucas. Então, é uma experiência extraordinária ouvi-lo realmente se abrindo."
Transformar tudo isso e mais todas as outras entrevistas em um só filme foi um desafio para Susan, que destaca que muito teve que ser cortado. "Se não estiver no filme, não significa que não falamos sobre isso, significa que eu tinha só 2 horas e meia", acrescentou.
Com a toda a produção do documentário, Susan chegou a uma conclusão forte sobre a obra de Spielberg e refutou a ideia de que a bilheteria tenha pautado a carreira do diretor. "Ele foi o cineasta mais comercial da história, mas não acho que a bilheteria tenha sido o que o guiou. O que o conduziu é o que o interessa a ele e o que ele acha importante dizer."
Spielberg
Susan Lacy. HBO. 147 minutos. Classificação indicativa: 16 anos. Próximas exibições: Terça (24) às 9h30 e 1º de novembro (quinta) às 14h50. Disponível na plataforma digital HBO GO.