Com entrada franca, o Festcurtas BH exibirá 147 filmes, oferecendo um panorama nacional e internacional do cinema contemporâneo. A solenidade de abertura, nesta sexta-feira, no jardim interno do Palácio das Artes, apresentará quatro curtas-metragens: Elle et la poule, de Kika Nicolela; ExPerimental, de Daniel Oliveira Santos; Now, de Santiago Alvarez; e Contestação, de João Silvério Trevisan. A Orquestra Atípica de Lhamas faz show depois da sessão.
O Festcurtas, que chega à 19ª edição, consolidou-se não só como espaço de exibição, mas, sobretudo, como um evento voltado para a reflexão sobre as relações entre cinema, estética e política. Dos 2.319 trabalhos inscritos, vindos de 98 países, foram selecionados 115. Parte deles segue para as mostras competitivas Minas, Brasil e Internacional. Os vencedores receberão prêmios em dinheiro (R$ 5 mil) e em serviços voltados para acessibilidade, legendas, etc.
Há sete mostras paralelas. Quatro são eixos presentes em todas as edições do Festcurtas (animação, infantil, juventude e maldita). Três foram propostas para 2017, de acordo com temáticas que emergiram do material inscrito. Os novos eixos são as mostras Engajamentos contemporâneos, Atravessamentos do presente e Extravasamentos.
saiba mais
Por sua vez, Extravasamento reúne trabalhos voltados para discussões de gênero e para a questão identitária. Filmes selecionados abordam o movimento queer, termo usado para tratar do leque de possibilidades que vão além da definição homem e mulher.
Jorge Yglesias, da Escola Internacional de Cinema de Cuba, fez a curadoria da mostra Radicales livres. Naara Fontinele é curadora de Documentário: invenção de formas/pensamento críticos (1964-1983), que reúne filmes brasileiros.
DITADURAS Ao longo de 20 anos, o festival acompanha as transformações na produção e difusão de curtas-metragens. “Rupturas, como as ditaduras no Brasil e América Latina, podem interferir na forma de filmar”, afirma Bruno Hilário, ressaltando que o evento é um dos principais espaços de encontro do público com essa linguagem.
O festival oferece atividades formativas, com aulas, seminários e debates. O engenheiro eletrônico e especialista em manutenção Edwaldo Mayrinck Jr ministrará a oficina Fundamentos do som para a imagem. A cineasta Dácia Ibiapina, professora e pesquisadora da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), coordenará a atividade Cinema documentário e novas mídias de apreensão dos acontecimentos.
De 3 a 6 de outubro, a pesquisadora e curadora Naara Fontinele apresentará o seminário Documentário: invenção de formas/pensamento crítico (1964-1983). De sábado (30/9) a segunda-feira (2/10), Jorge Yglesias, da Escola Internacional de Cinema de Cuba, comanda o seminário Vestígios de um cinema radical.
Também será realizado o debate Cinema, engajamento e invenção de formas, com o objetivo de analisar a relação entre engajamento político e a sétima arte. Participarão desse evento Amaranta Cesar, idealizadora e curadora do CachoeiraDoc – Festival de Documentários de Cachoeira; o educador audiovisual Marcelo Pedroso; Sérgio Peo, idealizador e presidente da Cooperativa de Realizadores Cinematográficos/Corcina; e Vinícius Andrade, curador do Cineclube Sorpasso e integrante dos coletivos Coque Vive (PE) e Ocupação Cinematográfica Elizabeth Teixeira (MG).
Três perguntas para Ana Siqueira
Coordenadora de produção do Festcurtas
As mostras especiais tratam da cinematografia produzida no Brasil e na América Latina durante regimes de exceção entre 1960 e 1980. A relação entre cinema e política guiou o olhar curatorial?
Acrescentaria a palavra estética. Cinema, política e estética andam juntos. É preciso pensar a questão da forma, porque não é uma instrumentalização do cinema. Para as mostras competitivas foram selecionados filmes produzidos em 2016 e 2017. Percebemos que o cinema produzido desde 2013 é movido por uma inquietação política. As mostras especiais estão desvinculadas dos filmes inscritos. Então, podemos abordar o cinema produzido em qualquer período. A Naara Fontinele costuma dizer que estão imbricadas a política e a invenção de formas. Ela tem atenção para essas produções, com foco na ditadura, quando era preciso lidar com repressão e a censura – autocensura, censura estética e censura política.
O que foi determinante para um filme seguir para as mostras competitivas ou paralelas?
Tentamos pensar que os melhores vão para uma mostra ou outra. Os conjuntos vão se criando. É circunstancial, tem a ver com aquele curador, aquele momento, as questões que se apresentam. Temos muitas dúvidas, mas procuramos chegar a um conjunto com uma articulação interna, pois os filmes são exibidos juntos. São filmes que têm potência e força para lidar para as questões da forma.
Em que medida o FestCurtas contribui para a produção mineira?
Nesta edição, a premiação da mostra competitiva na categoria Minas passou a ter o mesmo valor das outras. Os seminários e os debates partem da ideia de que é importante discutir os filmes. Também temos a formação, com a realização de cursos.
FESTCURTASBH
De 29/9 a 8/10. Cine Humberto Mauro e Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. Entrada franca. Ingressos devem ser retirados 30 minutos antes de cada sessão. Informações: (31) 3236-7333. Programação completa: www.festivaldecurtasbh.com.br