Comunidade de artistas é metáfora sobre o país em filme com Lima Duarte

Deserto, filme de Guilherme Weber, está em cartaz no Cine Belas Artes, em Belo Horizonte

por Estadão Conteúdo 25/09/2017 08:00
FÊNIS FILMES/Divulgação
Cena de Deserto, filme de Guilherme Weber em que comunidade de artistas é metáfora sobre o país (foto: FÊNIS FILMES/Divulgação)

A história de um grupo é sempre a história do mundo – a frase, lida em algum livro esquecido, sempre acompanhou o ator Guilherme Weber. Ele não sabia como utilizá-la até ler o livro do mexicano David Toscana, Santa Maria do Circo (Casa da Palavra). Ali, havia uma sátira sobre a construção de uma nova sociedade por artistas circenses. Afinal, nada melhor que o picadeiro como palco de representação do essencial e do dispensável em uma nova ordem social.

“A ideia me interessava, mas não a forma como o romance se desenvolve”, conta Weber, que iniciou uma livre adaptação até se transformar no roteiro de Deserto, filme em cartaz no Cine Belas Artes, em Belo Horizonte. Em seu texto, a alegoria está preservada, mas sob o comando de artistas de teatro que se instalam em um vilarejo, fundando ali uma comunidade – na verdade, um microcosmo das fraturas da sociedade.

Weber filmou durante 24 dias em um vilarejo próximo ao município de Patos, na Paraíba. Um isolamento quase que completo, necessário para se entender (e respeitar) as demandas do sertão nordestino. “Era quase uma redoma social e a sensação de se estar no coração do Brasil”, explica o ator cineasta que, por entender bem da profissão, montou um elenco de primeira linha. A começar pelo veterano Lima Duarte, cuja presença era decisiva para a realização do projeto. “Escrevi o roteiro pensando em sua presença, com a sua dicção. Lima representa, para mim, o herói do cinema nacional, daí a importância de sua escalação.”
Outra presença significativa é a de Magali Biff, com quem Weber já dividiu o palco inúmeras vezes. “Eu precisava de uma atriz que, além da intensidade da interpretação, teria de se entregar ao papel, raspando todos os pelos da cabeça e ainda se pintando de branco. Magali se atirou belissimamente”, elogia.


E, para ressaltar o tom brechtiano da narrativa, ou seja, a fim de mostrar que aquela trupe, guardiã da linguagem, refletisse a sociedade por meio de sua arte, Guilherme Weber convidou a atriz e cantora Cida Moreira, que tem momentos marcantes ao tocar um piano instalado em uma carroça. “Cida é a própria representação do artista e seu questionamento sobre o futuro da arte”, observa Weber, revelando ainda mais detalhes sobre a formação do elenco. “Eu queria que a trupe representasse o Brasil, então fui buscar atores em diferentes partes do país paraibano, carioca, paranaense – e pedi a eles que mantivessem os sotaques para criar uma paisagem sonora tipicamente brasileira.”

O cuidado se refletiu também na tonalidade cromática do filme, com as cores definidas em conjunto com o diretor de fotografia Ruy Poças. Weber buscou influências pictóricas, desde Portinari e seus retirantes até o jogo de claro e escuro de Rembrandt e Velázquez. “A nossa intenção era a de que o deserto também pudesse soar como uma fábula”, explica. (Ubiratan Brasil/Estadão Conteúdo)

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