Estreia do americano Giancarlo Esposito como diretor, Esta é a sua morte - O show chega aos cinemas de BH em pleno Setembro Amarelo — ação promovida pela Associação Brasileira de Psiquiatria para prevenção e conscientização sobre o suicídio no Brasil. É oportuno e necessário, portanto, começar a conversa sobre o filme com o aviso que ele deveria estampar em seus primeiros segundos de exibição e não o faz: o longa traz cenas explícitas e violentas de autoextermínio. Há que se considerar o potencial de impacto dessas imagens, inclusive como gatilho de emoções negativas, em pessoas sujeitas a ideias suicidas.
Feita a ressalva, pode-se dizer que o filme procura trazer ao espectador provocações sadias, embora não consiga alcançar profundidade nas questões que aborda. A trama começa com a final de um reality show apresentado por Adam Rogers (Josh Duhamel). O programa segue o velho formato “namoro na TV”, em que várias mulheres competem para conquistar um homem milionário. Inconformada por não ter sido a noiva escolhida, uma das pretendentes atira nos participantes e, em seguida, se mata ao vivo.
Como era de se esperar, o burburinho gerado em torno do episódio faz a audiência subir. Adam, a princípio, se sente mal com a situação e acaba dizendo verdades inconvenientes sobre seu trabalho durante uma entrevista concedida a um telejornal. Convencido de que não seria perdoado por isso, vai trabalhar no dia seguinte pronto para ser demitido por Ilana Katz (Famke Janssen), a chefe de seu canal.
A poderosa, no entanto, surpreende o apresentador com uma proposta bizarra: atenta ao ibope do suicídio público ocorrido no show de Adam, propõe que ele apresente um novo reality, que batiza de Esta é a sua morte. Nele, participantes deprimidos tiram a própria vida na frente das câmeras, em tempo real. Como recompensa, elegem alguém da família ou mesmo uma causa para receber grandes quantias em dinheiro.
Irmão mais velho de Karina (Sarah Wayne Callies), uma enfermeira de perfil depressivo, Adam rechaça a ideia logo de cara. Mas muda de opinião ao enxergar na empreitada uma oportunidade de contribuir para que o público resgate o sentido da vida e reflita sobre o valor dela. À medida que os episódios vão sendo exibidos, no entanto, Rogers fica cego pela audiência e se afasta de seu “nobre” propósito inicial. Na mesma proporção, os espectadores vão se tornando espécies de hienas sedentas por cadáveres e mortes performáticas.
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O circo de horror suicida é tão brutal e grotesco que custa a soar factível. Assim como a naturalidade com que a fictícia emissora e a plateia do reality encaram o programa. “Pessoas que aceitam dilacerar as próprias vísceras ao vivo, sob aplausos efusivos – tudo isso com a anuência de autoridades e instituições reguladoras – só mesmo em Hollywood”, chega-se a concluir num primeiro momento.
Não demora, contudo, para que a crítica de Sposito se torne clara para o espectador. Basta acessar o smartphone e navegar brevemente pela internet para perceber: degradação humana é, há um bom tempo, um dos principais ingredientes do entretenimento da vida real. E a dose exigida para satisfazer a audiência é cada vez maior.
Outra discussão que se observa no longa diz respeito à “inigualável liberdade” que, segundo o discurso sócio-político americano, só o liberalismo econômico pode proporcionar. O que Manson, os suicidas inscritos no show de Adam Rogers e a plateia do reality denunciam, entretanto, é um “american way of life” sustentado por elementos bem sombrios: depressão, anestesia e desespero.