Estreia do americano Giancarlo Esposito como diretor, Esta é a sua morte - O show chega aos cinemas de BH em pleno Setembro Amarelo — ação promovida pela Associação Brasileira de Psiquiatria para prevenção e conscientização sobre o suicídio no Brasil.
Feita a ressalva, pode-se dizer que o filme procura trazer ao espectador provocações sadias, embora não consiga alcançar profundidade nas questões que aborda. A trama começa com a final de um reality show apresentado por Adam Rogers (Josh Duhamel). O programa segue o velho formato “namoro na TV”, em que várias mulheres competem para conquistar um homem milionário. Inconformada por não ter sido a noiva escolhida, uma das pretendentes atira nos participantes e, em seguida, se mata ao vivo.
Como era de se esperar, o burburinho gerado em torno do episódio faz a audiência subir. Adam, a princípio, se sente mal com a situação e acaba dizendo verdades inconvenientes sobre seu trabalho durante uma entrevista concedida a um telejornal. Convencido de que não seria perdoado por isso, vai trabalhar no dia seguinte pronto para ser demitido por Ilana Katz (Famke Janssen), a chefe de seu canal.
A poderosa, no entanto, surpreende o apresentador com uma proposta bizarra: atenta ao ibope do suicídio público ocorrido no show de Adam, propõe que ele apresente um novo reality, que batiza de Esta é a sua morte.
Irmão mais velho de Karina (Sarah Wayne Callies), uma enfermeira de perfil depressivo, Adam rechaça a ideia logo de cara. Mas muda de opinião ao enxergar na empreitada uma oportunidade de contribuir para que o público resgate o sentido da vida e reflita sobre o valor dela. À medida que os episódios vão sendo exibidos, no entanto, Rogers fica cego pela audiência e se afasta de seu “nobre” propósito inicial. Na mesma proporção, os espectadores vão se tornando espécies de hienas sedentas por cadáveres e mortes performáticas.
SUBEMPREGO Paralelamente ao universo televisivo corre o drama de Mason Washington, personagem interpretado pelo próprio diretor Giancarlo Esposito (como ator, ele é conhecido por viver o Gus da série Breaking bad). Pai de dois filhos (um deles com deficiência), ele é um ex-vendedor bem-sucedido de um extinto canal de compras que acaba se transformando no trabalhador americano padrão de classe média baixa. Para sustentar a casa, mantém dois subempregos sem qualquer garantia social – e que pagam péssimos salários. Em determinado momento, a já delicada situação de Mason piora. Num ato de desespero, ele acaba se inscrevendo no programa de Adam Rogers.
O circo de horror suicida é tão brutal e grotesco que custa a soar factível. Assim como a naturalidade com que a fictícia emissora e a plateia do reality encaram o programa. “Pessoas que aceitam dilacerar as próprias vísceras ao vivo, sob aplausos efusivos – tudo isso com a anuência de autoridades e instituições reguladoras – só mesmo em Hollywood”, chega-se a concluir num primeiro momento.
Não demora, contudo, para que a crítica de Sposito se torne clara para o espectador. Basta acessar o smartphone e navegar brevemente pela internet para perceber: degradação humana é, há um bom tempo, um dos principais ingredientes do entretenimento da vida real. E a dose exigida para satisfazer a audiência é cada vez maior.
Outra discussão que se observa no longa diz respeito à “inigualável liberdade” que, segundo o discurso sócio-político americano, só o liberalismo econômico pode proporcionar.