Numa reunião prevista para as 10h desta sexta (15/9) na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, deverá ser definido o título que o Brasil apresentará à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood como o seu representante na disputa pelo Oscar 2018 de melhor filme estrangeiro. O longa será escolhido entre 23 produções que se inscreveram na seleção aberta pelo Ministério da Cultura (confira a lista nesta página).
É de se supor que, uma vez divulgado o resultado, as reações se dividam entre a alegria dos que torciam pelo vencedor e o inconformismo dos fãs dos preteridos – exatamente como em todos os anos. O que haverá de diferente desta vez é que os responsáveis pela escolha mudaram.
saiba mais
A tarefa de indicar o candidato brasileiro, por decisão do ministro Sérgio Sá Leitão (Cultura), passou às mãos da Academia Brasileira de Cinema, que seria a congênere nacional da Academia de Hollywood. A ABC montou uma comissão com sete membros, sob a presidência do distribuidor Jorge Peregrino. Ele vai propor aos seus presididos, hoje, que escolham simplesmente “o melhor filme” e abandonem a ideia de tentar adivinhar o gosto da Academia de Hollywood, conforme disse em entrevista ao Estado de Minas.
“Acho muito brasileiro a gente querer saber qual é o gosto das pessoas que estão votando na Academia (de Hollywood). É muita pretensão. Se eu tivesse essa sapiência, já teria acertado”, afirma.
O retrospecto do desempenho do Brasil nessa categoria corrobora as palavras de Peregrino. Na história do Oscar, o país teve apenas quatro indicações a melhor filme estrangeiro, sendo a última em 1999 (Central do Brasil, que obteve também a indicação de melhor atriz para Fernanda Montenegro). Ainda assim, o argumento de escolher “o melhor filme para o Oscar” foi incansavelmente brandido, inclusive no ano passado, quando David Schurmann argumentou que seu filme tinha “chances reais”, por supostamente ser palatável à Academia, o que não se poderia dizer de Aquarius.
No fim das contas, Pequeno segredo não obteve uma vaga na disputa, e o vencedor foi o iraniano O apartamento, de Asghar Farhadi, que também esteve na competição pela Palma de Ouro em Cannes, ao lado do filme de Kleber Mendonça Filho, e obteve as Palmas de melhor roteiro (o próprio Farhadi) e ator (Shahab Hosseini). Mas, mesmo que a ideia de tentar corresponder a um suposto gosto dominante da Academia de Hollywood seja deixada de lado, resta saber o que é “o melhor filme” na opinião da comissão.
CANDIDATOS
Entre os 23 inscritos, há filmes que se dedicam ao passado colonial brasileiro, como Joaquim, de Marcelo Gomes, e Vazante, de Daniela Thomas; cinebiografias de grandes nomes da nossa música, como Elis, de Hugo Prata, e João – O maestro, de Mauro Lima, além de títulos que tentam capturar o sentimento dos cidadãos comuns no Brasil de hoje, caso de Corpo elétrico, de Marcelo Caetano, e Como nossos pais, de Laís Bodanzky, sem falar nas produções diretamente relacionadas à tumultuada vida política e econômica do país, como Real – O plano por trás da história, de Rodrigo Bittencourt, e Polícia Federal – A lei é para todos, de Marcelo Antunez.
Peregrino afirma discordar também de que seja instituído como critério de escolha o privilégio a histórias e/ou modos de contá-las genuinamente brasileiros. “Todos esses filmes demonstram uma visão de um momento do Brasil”, sintetiza. Porém, a escolha de Bingo – O rei das manhãs, de Daniel Rezende (indicado ao Oscar de melhor montagem por Cidade de Deus, em 2004), para competir na categoria de filme estrangeiro do prêmio Goya, o “Oscar espanhol”, definida anteontem por uma comissão da qual Peregrino fez parte, pode ser um indicativo do tom das discussões de hoje na Cinemateca.
Na justificativa de sua decisão, a comissão anotou que optou pelo filme de Rezende por “ser uma obra cinematográfica com consistente marca autoral, força criativa ao apresentar um universo genuinamente brasileiro e capacidade de se comunicar com plateias de todo o mundo”.
Agora, é tentar completar a cartela de adivinhações e ver quem diz “bingo”!
SAIBA MAIS
A comissão de seleção
Convidada pelo Ministério da Cultura a assumir a responsabilidade da definição do aspirante brasileiro ao Oscar de melhor filme estrangeiro, a Academia Brasileira de Cinema indicou de pronto três de seus membros como integrantes do comitê de seleção, segundo Jorge Peregrino, para atender em tempo à exigência da Academia de Hollywood de receber previamente os nomes dos responsáveis pela escolha.
Além de Peregrino, que é vice-presidente da ABC, constavam os nomes da produtora Iafa Britz e do diretor
do Canal Brasil Paulo Mendonça. Mendonça alegou conflito de interesses, já que tem participação em filmes concorrentes e se retirou, sendo substituído pelo suplente, o produtor André Carreira.Em seguida, a Academia Brasileira de Cinema abriu inscrição para os acadêmicos interessados em participar do comitê e submeteu os nomes dos inscritos à votação de todos os seus membros, segundo Peregrino. Os mais votados foram: David Schurmann (diretor), Doc Comparato (roteirista), João Daniel Tikhomiroff (produtor e diretor) e Mauro Faria Jr. (diretor).
CANDIDATOS INÉDITOS
Alguns dos filmes que pleiteiam ser o representante do Brasil no Oscar ainda não estrearam nos cinemas. É o caso de Vazante, de Daniela Thomas, que está em competição a partir de hoje no 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (leia mais na página 4) e tem lançamento previsto para 9 de novembro, e de Gabriel e a montanha, de Fellipe Barbosa, cuja estreia está marcada para 2 de novembro. De acordo com as regras da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, os filmes inscritos têm que ter estreado em seus países de origem entre 1º de outubro de 2016 e 30 de setembro de 2017. Mas a Academia especifica na exigência um mínimo de “sete dias consecutivos em cartaz numa sala comercial”. Para cumprir a regra, os produtores podem se ater rigorosamente a esse critério e colocar o filme em cartaz por uma semana numa sala brasileira, mantendo a estreia nacional para depois desse prazo. Foi o que fez no ano passado Pequeno segredo.
23 FILMES E UMA SENTENÇA
Confira os títulos que disputam hoje a escolha
do representante brasileiro no Oscar 2018
» A família Dionti, de Alan Minas
» A Glória e a Graça, de Flávio Tambellini
» Bingo – O rei das manhãs, de Daniel Rezende
» Café – Um dedo de prosa, de Maurício Squarisi
» Cidades fantasmas, de Tyrell Spencer
» Como nossos pais, de Laís Bodanzky
» Corpo elétrico, de Marcelo Caetano
» Divinas divas, de Leandra Leal
» Elis, de Hugo Prata
» Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé
» Fala comigo, de Felipe Sholl
» Gabriel e a montanha, de Fellipe Barbosa
» História antes da história (animação), de Wilson Lazaretti
» Joaquim, de Marcelo Gomes
» João, o maestro, de Mauro Lima
» La vingança, de Fernando Fraiha e Jiddu Pinheiro
» Malasartes e o duelo com a Morte, de Paulo Morelli
» O filme da minha vida, de Selton Mello
» Polícia Federal – A lei é para todos, de Marcelo Antunez
» Por trás do céu, de Caio Sóh
» Quem é Primavera das Neves, de Ana Luiza Azevedo e Jorge Furtado
» Real – O plano por trás da história, de Rodrigo Bittencourt
» Vazante, de Daniela Thomas