Premiado em Gramado, As duas Irenes estreia hoje em BH

Filme conta sobre duas garotas chamadas Irene que descobrem ter algo em comum além do nome

por Mariana Peixoto 14/09/2017 08:00

FOTOS: VITRINE FILMES/DIVULGAÇÃO
Priscila Bittencourt e Isabela Torres foram selecionadas para o elenco em um teste para jovens atrizes realizado em Goiânia (foto: FOTOS: VITRINE FILMES/DIVULGAÇÃO )
Irene tem 13 anos. É a filha do meio de Tonico e Mirinha. Encontra-se numa espécie de limbo. Ainda não amadureceu como a irmã mais velha, a debutante Solange. E já perdeu a graça infantil que hoje pertence à irmã caçula, Cora. Um tanto retraída, quase um patinho feio, um dia Irene tem uma revelação.

Descobre que não está só. Que existe, na pequena cidade onde vive, uma outra Irene. Também de 13 anos, desinibida, capaz de arrancar aplausos num desfile, de beijar o garoto de quem gosta. Não é só o nome e a idade que as une. Irene, a primeira, descobre ainda que a segunda Irene é sua meia-irmã. Seu pai tem uma segunda família.

As duas Irenes, que estreia hoje no Cine Belas Artes e amanhã no Cine 104, é o primeiro longa-metragem do goiano Fábio Meira. Lançado em fevereiro no Festival de Berlim, levou cinco prêmios em agosto em Gramado e participou, também no mês passado, do CineBH.

O roteiro, escrito por Meira, veio de um segredo de sua própria família. Quando garoto, o diretor descobriu que seu avô tinha duas filhas com o mesmo nome. Foram nove anos para que o filme saísse do papel e chegasse aos cinemas.

SEGREDO
O interessante aqui é que o segredo é apenas o mote para que as duas meninas se unam. Uma Irene completa a outra. Juntas, essa história de descobertas vai descortinando o processo de amadurecimento de duas adolescentes que vivem num Brasil de outrora (o local e o tempo não são determinados), mas que dialoga com o Brasil de hoje.

É um filme de sutilezas, que carrega nos símbolos. As folhas das árvores vão mudando de tom de verde no decorrer da narrativa, denotando a mudança das personagens. Há ainda muitas portas, janelas e frestas, o que pode significar uma possibilidade de virada para aquelas meninas.



Marco Ricca interpreta Tonico, o pai bígamo, e único personagem masculino relevante da narrativa. A força aqui está nas mulheres, principalmente nas duas protagonistas. A Irene da família oficial, digamos assim, é interpretada por Priscila Bittencourt. Já a segunda Irene é papel de Isabela Torres. As duas atrizes, goianas, foram selecionadas por meio de testes com 250 adolescentes.

O longa-metragem ainda traz um pé em Minas Gerais. Duas atrizes do Grupo Galpão, Inês Peixoto e Teuda Bara, estão no elenco. Inês interpreta Neuza, a costureira apaixonada por Tonico e mãe da “segunda” Irene – é impressionante a semelhança de Isabela com a atriz. Inês e Teuda não contracenam, já que a segunda interpreta a babá da primeira família de Tonico.



três perguntas para...

INÊS PEIXOTO
ATRIZ


Você tem, nos últimos anos, feito participações no cinema. Além de As duas Irenes atuou em Redemoinho e Quase memória (ambos de 2016). Com tantos anos de teatro (35), como é fazer agora cinema?

Parto dos princípios que me formaram no teatro. É um jogo com o outro e também presença, concentração e relaxamento. Isso me rege. É uma equalização, um ajuste de expansão e retração da emoção. No teatro você expande; para a câmera você retrai. Acho bonito passear pelas plataformas diferentes da interpretação, pois você consegue dar elasticidade a suas emoções. Agora, para mim é sempre um começar, pois cada personagem traz algo de novo.

Em uma cena de As duas Irenes, sua personagem, Neuza, remete a tantos papéis que você já fez com o Galpão, ao tocar o acordeom. De quem foi a ideia?


Antes de começarem as filmagens, fiquei dois dias em Goiás Velho para conhecer a Bela (Isabela Torres, a atriz que interpreta sua filha no filme). Aí o (diretor) Fábio (Meira) me falou que queria que eu trouxesse alguma coisa musical para a personagem. Havia duas músicas para escolher, e fiquei com Meu primeiro amor (Cascatinha e Inhana). Liguei para o Fernando Muzzi, parceiro do Galpão, e pedi que ele fizesse um arranjo ‘facinho’ dessa música para acordeom, pois eu tinha pouco tempo para me preparar. O Fábio não queria nada elaborado, então foi como uma experimentação no set.

A despeito da realidade machista que dá a partida na história, As duas Irenes é um filme extremamente feminino, não?

Após assistir ao filme, percebemos a dimensão de ver as duas mães, Neuza e Mirinha, submetidas à condição da bigamia. É uma aceitação submissa, triste. Mas, de repente, as mulheres que elas trouxeram ao mundo fazem uma grande virada nesta situação através do amor e do entendimento. O filme é um desfile de delicadezas.

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