Ajuste os óculos. Encaixe-se confortavelmente na cadeira e tente não se assustar. A qualquer momento, objetos, monstros (ou o que quer seja) podem saltar da tela direto para os seus olhos. Essa experiência do 3D nos cinemas já foi novidade e encantou milhões de pessoas mundo afora em produções como Avatar (2009). O formato, no entanto, enfrenta cada vez mais resistência e deve se tornar, aos poucos, bem menos comum.
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A verdade é que, desde o auge, em 2010, as receitas com 3D nos EUA apenas diminuíram. O ano de 2010 é um marco por causa de sucessos em 3D como Toy story 3 e Alice no país das maravilhas, além de contabilizar boa parte da bilheteria de Avatar (lançado em dezembro do ano anterior). Em 2010, 21% dos US$ 10,6 bilhões arrecadados vieram das vendas de ingressos em 3D.
Recentemente, grandes empresas do ramo, como a Imax, anunciaram que o formato vai ficar de lado e que o 3D será usado em menos produções do que atualmente. Greg Foster, executivo da companhia, afirmou, ao anunciar a decisão de investir menos no formato, que ouviu os parceiros no cinema e que o 3D não é mais o padrão.
Foster citou o exemplo de Dunkirk (de Cristopher Nolan), que obteve sucesso nas bilheterias apenas em 2D. Ele lembrou também que o blockbuster Blade runner 2049 não será lançado em 3D.
QUALIDADE
Parte da culpa para esse declínio é da própria indústria, apontam especialistas. Analista de mídia e de mercado da área, Paul Dergarabedian acredita que a falta de qualidade influenciou nas baixas. “A indústria estava empolgada no começo. Então, vários filmes que não foram feitos originalmente em 3D foram convertidos para capitalizar a oportunidade, e acho que o público realmente percebeu a diferença”, explicou, em entrevista ao Hollywood Reporter. O custo dos ingressos também influenciou nas quedas, acredita o analista. “A qualidade não era a que deveria ser. E não só isso, mas o alto preço dos ingressos também dificultou”, disse.
Mestre em economia e políticas públicas e pós-graduado em regulação da atividade cinematográfica e audiovisual pela UFRJ, Vinicius Portela concorda que, em certa medida, essa, de fato, foi uma das causas. “Nos números globais, talvez não faça tanta diferença. Em filmes de ação, aventura, o 3D acaba tendo um efeito, mas há outra parte do público, ligada em filmes diferentes, que não tem vontade de assistir em 3D, porque acha que ele é uma perfumaria que aumenta o preço e não faz diferença”, comenta.
Portela, que é autor do livro Agência nacional do cinema — Ancine, aponta a crise econômica como outro motivo para a indústria evitar o 3D. “Um dos motivos dessa queda tem a ver com a crise americana e os cortes nessas áreas mais experimentais. Enquanto não houver um crescimento econômico muito forte lá, a tendência é que isso seja deixado de lado”, explica. “As produtoras concluíram que o 3D era muito caro e o custo/benefício não compensa mais”, indica. Ele observa também que, para uma boa transmissão e exibição no formato, é necessário que a produção, desde o início, seja feita em 3D.
Enquanto os EUA puxam os números para baixo, no mercado asiático (sobretudo no chinês) o movimento é contrário. Por lá, o 3D é praticamente padrão. Na Ásia-Pacífico, 78% das exibições são feitas no formato.
No Brasil
Por enquanto, a queda nos números do 3D não se refletiu em cinemas brasileiros. Segundo relatório da Agência Nacional do Cinema, em 2016, havia 1.280 salas com capacidade de projetar filmes no formato no país. Número maior do que em 2015, quando havia 1.190. O professor Vinicius Portela acredita, no entanto, que o declínio por aqui, assim como nos EUA, é inevitável. “Os grandes públicos ainda são os de filmes americanos. E a indústria do cinema nacional tem uma tendência forte a seguir o que ocorre nos EUA.” Com a diminuição da produção em 3D no cinema americano, a reprodução dessa tendência no Brasil será consequência, avalia Portela.