Pela primeira vez, os eventos serão realizados simultaneamente e com ações conjuntas. Iniciativa da Universo Produção, a Mostra CineBH chega à maior edição, exibindo 101 filmes em oito espaços. Da mesma produtora, o Brasil CineMundi, encontro de coprodução internacional, reúne 25 convidados de 13 países. Já a MAX, realização do governo do estado, é uma grande rodada de negócios, com direito a palestras, oficinas e encontros.
A noite de abertura terá duas exibições.
“Antecipamos o CineBH (realizado em outubro) para ‘casar’ com a MAX. São eventos complementares, a ideia é colocar Minas na vanguarda do audiovisual”, comenta Raquel Hallack, da Universo Produção. O CineBH nasceu no Bairro Santa Tereza, onde permaneceu até a quinta edição. Desde então, tornou-se itinerante. “Buscamos usar os equipamentos existentes e, como desafio, ocupar espaços alternativos. Esta edição dialoga com a nossa intenção inicial de ocupar o Centro. Há 11 anos, as pessoas não se misturavam, não havia coletivos e movimentos que hoje atuam na Região Central de BH”, comenta Raquel.
A programação de filmes do CineBH reúne a produção crítica voltada para questões do tempo histórico que vão contra a corrente das narrativas que dominam a produção em massa. Será homenageado o diretor, crítico e ator francês Pierre Léon, nome de referência da cena independente. Ele vai participar de sessões comentadas (haverá retrospectiva com 14 de seus títulos) e conversará com o público.
Diretora de fomento à indústria criativa da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), Fernanda Machado afirma que as iniciativas têm que se somar. No caso da MAX, além da rodada de negócios (na Serraria Souza Pinto), a intenção é atrair o espectador. “Não adianta fazer um evento como este se o público não entender o conteúdo que está sendo produzido aqui.
Além da feira na Serraria, a MAX vai contar com sessões na Praça da Estação (outras atrações serão Janela indiscreta, clássico de Alfred Hitchcock, e Blade runner – O caçador de androides, de Ridley Scott) e duas exposições no Museu de Artes e Ofícios (MAO). Uma aborda os 100 anos da história da animação e a outra, Um atrapalho no trabalho (apud Paulo Leminski), promove o diálogo das peças do MAO com a produção de imagens na arte contemporânea. A abertura contará com trabalho inédito de Cao Guimarães.
Ousadia e resistência Nos últimos meses, Marcelo Caetano exibiu seu primeiro longa, Corpo elétrico, em festivais, nacionais e internacionais dedicados à produção LGBT. “Esse mercado está num momento de estagnação criativa. Você tem dois padrões: os filmes de coming out, em que o personagem se assume no final, e o boy meets boy, como uma comédia romântica gay”, comenta.
Mineiro que deixou a BH natal há 15 anos, Caetano, de 35, vive entre São Paulo e Recife. Ele se recusa a cair no padrão. Corpo elétrico, que abre o CineBH amanhã e chega às salas da cidade na quinta-feira, é um exemplo disso. O filme nega a centralidade de dois eventos na vida de um homossexual: sair do armário e encontrar o amor.
“Ninguém é uma coisa só. Há também questões de trabalho, afeto. Tento eliminar a ideia de que o mundo inteiro está contra o personagem.
Corpo elétrico – o título veio do poema Eu canto o corpo elétrico, do americano Walt Whitman – não conta uma história com início, meio e fim. Mostra o momento presente de Elias (o estreante Kelner Macêdo), jovem de 23 anos, gay e paraibano, que trabalha numa fábrica de roupas no Bom Retiro, em São Paulo.
“Quando comecei a pensar no roteiro (escrito com Hilton Lacerda e Gabriel Domingues), pensei numa história tradicional, mas vi que esse não é o cinema que sei fazer. Gosto do cinema um pouco como experiência, que tira o espectador de seu lugar e o convida a participar”, afirma o diretor. Elias não tem um grande conflito. Sem namorado, está ora com um, ora com outro. Não há cobrança, tampouco culpa. Ainda que não haja amor romântico, o personagem e aqueles que convivem com ele – entre héteros, homos, drags, negros e brancos – transbordam de afeto. O cotidiano duro de Elias e amigos, as noites regadas a funk, cerveja e sexo são filmados de maneira quase documental.
É um filme sobre liberdade. “E também sobre o dilema entre o corpo que trabalha e quer prazer, sobre o equilíbrio em existir numa sociedade capitalista. O personagem nega dois pilares do amadurecimento: o relacionamento romântico monogâmico e o sucesso profissional. Ele vive à deriva da forma mais positiva possível, pois pode se transformar sempre”, acrescenta Caetano.
Como diz a letra de Talento, da MC Linn da Quebrada, que interpreta a personagem Simplesmente Pantera, “ser bicha é também poder resistir”.
CINEBH E BRASIL CINE MUNDI
De terça-feira a domingo (22 a 27/8). No Palácio das Artes, Cine-Theatro Brasil Vallourec, Cento e Quatro, Teatro Sesiminas, MIS Cine Santa Tereza, Museu de Artes e Ofícios, Sesc Palladium e Praça da Estação. Ingressos devem ser retirados na bilheteria 30 minutos antes da sessão. Programação completa: www.cinebh.com.br
MAX
De terça-feira a sábado (22 a 26/8). Na Serraria Souza Pinto, Praça da Estação e Museu de Artes e Ofícios. Programação completa: www.minasgeraisaudiovisualexpo.com.br
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