Mostra Faces do Subúrbio traz o diretor Emílio Fontana a BH

Com exibições gratuitas, a mostra apresenta 23 filmes que discutem as diversas representações do espaço periférico no cinema brasileiro

Márcia Maria Cruz
  'Nenê Bandalho' será exibido no Sesc Palladium cem sessão comentada pelo diretor Emílio Fontana - Foto: Mostra Faces do Subúrbio/Divulgação
A 1ª Mostra Faces do Subúrbio exibe hoje (10) o filme Nenê Bandalho (1971), que se tornou um símbolo na luta contra a ditadura. Após a exibição, haverá bate-papo com o diretor Emílio Fontana, de 87 anos. “Vou abrir a sessão falando de uma história que poucas pessoas sabem. Quando o 'Nenê' estava previsto para ser exibido no Festival de Brasília era cotado para receber o prêmio de melhor filme, mas recebemos recado do ministro da Justiça. Quando seria avaliado pelo juri popular, a Polícia Federal aprendeu o projetor. Na época, o festival foi suspenso pela ditadura, sendo retomado anos depois”, recorda-se. Às 17h30, será exibido Crueldade Mortal, de Luiz Paulino dos Santos. As exibições acontecem até 17 de agosto.

Emílio destacou que não é ativista, mas como artista não pode se eximir em relação ao momento que o país vive.
“O que me entristece é perceber que minha obra ainda é atual”, afirma. O personagem Nenê é perseguido como se fosse um bicho pela polícia e pela comunidade. Mas o filme mostra como o desenrolar dos fatos levou Nenê a ser conhecido como um assassino. “O filme nos inspira a pensar como consumo é a grande arma da direita e da injustiça social, mostra como a classe dominante ainda nada de braçadas”, afirma. O diretor afirma que tem cada vez se interessado mais pela cultura hip hop, universo a que a mostra lança olhar. Na próxima terça-feira (15)  às 17h30, será exibido Aqui Favela, o Rap Representa, de Junia Torres e Rodrigo Siqueira.

O curador da mostra Affonso Uchôa compôs um panorama do cinema que trata da periferia ou que seja produzido lá. “Gostaria de fazer um painel sobre a relação cinema e periferia. Para dar ideia da diversidade, busquei filmes de todas as épocas, documentários, ficção ou que está entre as duas coisas. Filme com pegada social, engajados politicamente e filmes com um olhar um pouco amargo, não idealizado, sobre a periferia.” Affonso fez a busca tendo como ponto de partida o  Cinema Novo e chegou até a produção mais contemporânea, que tem  jovens de periferia como produtores.  “O Cinema Novo foi o ponto de virada. A primeira vez que o cinema se voltou para a periferia. Mudou o olhar e passou a entender a favela como espaço importante para se entender a sociedade brasileira”, diz.

"Ostentação', de Fernando Rossi e Marcelo Lin - Foto: Mostra Faces do Subúrbio/Divulgação
Uma das sessões especiais trará cinco curtas-metragens de jovens da região metropolitana de Belo Horizonte que atuam no cinema. “A ideia é apresentar o início dessa produção desses jovens, como eles começam a fazer cinema, como trazem os lugares onde vivem, como abordam a questão da memória”, afirma.
No curta Preterir, Marcos Donizetti propõe reflexão sobre a solidão da mulher negra, a partir de histórias e vivências de mulheres de diferentes idades, moradoras da capital e região metropolitana. Fernando Rossi e Marcelo Lin apresentam o curta Ostentação, em que faz reflexão sobre como a ideia de exibir bens materiais está presente na sociedade contemporânea.  

Um dos homenageados da mostra é o diretor carioca Aloysio Raulino (1947-2013). Na quinta-feira (17), haverá exibição de diversos curtas do diretor com sessão comentada por Daniel Ribão. “Nessa mostra buscamos por filmes que não mostrassem a periferia de forma estereotipada. O Aloysio Raulino é uma inspiração de como o cinema pode colocar em xeque o estigma ao propor novas imagens da periferia”, afirma Affonso. 
 
A mostra abriu espaço para que os jovens das comunidades de Belo Horizonte pudessem descer para o Sesc Palladium para se apresentarem. Foi o que aconteceu no último sábado quando foi exibido A batalha do passinho, de Emílio Domingos. Logo depois, o Sesc Palladium se tornou palco da Disputa Nervosa, nome dado pelo La da Favelinha à competição dos dançarinos. “A recepção do público está sendo muito boa. Não é um público de cinéfilo, mas de pessoas interessadas em descobrir.  Fizemos a mostra na aposta que a imagem estereotipadas podem ser mudadas.
E é muito legal as pessoas verem com esses meninos são talentosíssimos”, afirma Affonso.
 
1ª Mostra Faces do Subúrbio até  17 de agosto no Cine Sesc Palladium. A entrada para toda a programação é gratuita, com retirada de ingressos 30min antes da sessão. Telefone: (31) 3270-8100. Programação completa   na página do Facebook. 
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