'O filme da minha vida', com direção de Selton Mello, estreia nos cinemas

Com roteiro baseado em livro de Antonio Skármeta, longa traz no elenco Johnny Massaro, Bruna Linzmeyer e Vicent Cassel e conta uma história de dilemas

Mariana Peixoto

O ator Johnny Massaro interpreta o protagonista Tony Terranova no longa. - Foto: Bananeira Filmes/Divulgação

Selton Mello teve várias conversas com Antonio Skármeta. Algumas delas atuaram como um trilho, como o que liga o trem de Remanso a Fronteira, os dois lugarejos fictícios na Serra Gaúcha onde é ambientada a história de Tony Terranova.

''Ele me disse coisas lindas, como, por exemplo, que o protagonista não se sente dono da própria história, mas sim um coadjuvante. E que, aos poucos, vai ganhando musculatura emocional. Disse também que é uma história em que os personagens têm sonhos baixos. Sonham em ir à cidade ao lado, ir ao cinema'', comenta Mello, que fez com que uma novela apenas mediana do autor chileno virasse o filme de sua vida. Pelo menos até agora.

Um pai de cinema, narrativa de Skármeta (O carteiro e o poeta) publicada originalmente em 2010 (e reeditada agora pela Record) inspirou o terceiro longa-metragem do ator e diretor de 44 anos. O filme da minha vida estreia nesta quinta-feira, 03, com a meta de levar aos cinemas público ao menos equivalente ao de O palhaço. Lançado em 2011, o segundo longa de Mello foi visto por 1,5 milhão de espectadores.

CAMINHO DO MEIO ''Este é um filme como eu gostaria que fosse o cinema comercial brasileiro.

Tem uma história clássica que uma pessoa sem muita cultura pode ver e uma pessoa com mais ferramentas enxergará outros signos. Não é um filme hermético, tampouco superpalatável. É, de novo, minha tentativa de ir no caminho do meio'', diz.

Ambientado na Serra Gaúcha, em 1963, O filme da minha vida conta a história de Tony (Johnny Massaro, revelado em Malhação, que Mello define como ''o nosso Louis Garrel''), um jovem à procura de seu lugar no mundo. Professor de francês sem muita motivação na escola local, está levando uma vida à espera. Isso porque seu pai, o francês Nicolas (Vincent Cassel), abandonou Tony e sua mãe, Sofia (Ondina Clais). Sentia saudades do país natal, foi o que argumentou, ao partir, no momento em que o filho retornava para casa.

Só que a vida não pode esperar e Tony, em meio aos livros e filmes pelos quais tem paixão, também descobre o amor. Que vem personificado na figura de Luna Madeira (Bruna Linzmeyer), a irmã do meio de seu aluno preferido, Augusto (João Pedro Prates). A história vai se desenrolando, até que o passado de Nicolas vem à tona e Tony coloca sua vida nos trilhos.

Selton Mello conta essa história aparentemente banal de maneira singular. Com um elenco que se destaca não só pela interpretação, mas pela força plástica (com destaque para os closes de Bruna Linzmeyer, Vincent Cassel e Johnny Massaro), ele vai desvelando um novelo de sutilezas.

A direção de arte é de Cláudio Amaral Peixoto e a fotografia, de Walter Carvalho. O filme da minha vida foi rodado em 2015, na região de Bento Gonçalves. ''Walter Carvalho é um pintor e, 20 anos atrás, nós nos encontramos em Lavoura arcaica (de Luiz Fernando Carvalho), um trabalho que mudou nossa vida'', diz ele.

A música aqui aparece quase como um elemento cênico. A trilha incidental foi criada por Plínio Profeta, que formou com Selton Mello e outros colaboradores um tour de force para a seleção das canções. Com Hier encore (Ainda ontem, sobre as lembranças de um homem a respeito de seus 20 anos), de Charles Aznavour, como fio condutor (Mello a descobriu no YouTube), a trilha destaca Nina Simone (I put a spell on you), The Animals (The house of the rising sun), Claude François (Comme d’habitude, a versão original de My way) e Sérgio Reis (Coração de papel).

Para Mello, a inadequação de Tony é também a de muitos jovens.
E a de si mesmo. ''É uma história simples, mas engenhosa. Um jovem virando adulto, todo o mundo se identifica de alguma forma. Os três protagonistas dos meus filmes (o de estreia é Feliz Natal, de 2008) são personagens que se sentem inadequados no mundo. Isso é pessoal para mim, e fazer estes filmes é muito terapêutico'', afirma ele, que também está no elenco.

Se n’O palhaço Mello vivia o protagonista (porque Wagner Moura e Rodrigo Santoro não puderam fazer o papel), aqui ele é Paco, um amigo da família Terranova que terá um papel determinante na desvelo da narrativa. Com o terceiro filme indo ao encontro do público, Mello hoje se vê como ator e diretor.

''A pior coisa que existe, para mim, é perder o tesão. Parei de fazer novela em 1999 (Força de um desejo) porque, na hora, vi que, se continuasse, ficaria rico e infeliz. Não queria fazer uma novela atrás da outra. Aí fui fazer cinema. Fiz Lisbela e o prisioneiro (Guel Arraes), mas fiz também filme do Carlão Reichenbach (Garotas do ABC, ambos de 2003).
Fiz comédia comercial e filme cabeça e experimental. Até que chegou a hora em que quis dirigir. Isso abriu um outro mundo. Fiquei três anos só fazendo (a série) Sessão de terapia. Quando saí de lá, quis voltar a atuar e fiz (a série) Ligações perigosas, um trabalho que adoro. Como ator e diretor, estou sempre pulando atrás do brilho no olho.''

 

Abaixo, confira ao trailer:

 

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