Muito antes de os premiados Carlos Saldanha (A era do gelo, Rio e Robôs) e Alê Abreu (O menino e o mundo) fazerem sucesso, conquistando o mercado brasileiro e internacional, animadores do Brasil já demonstravam talento. Tudo começou há um século com o curta-metragem Kaiser, que estreou em 22 de janeiro de 1917, no Rio de Janeiro. Produzido pelo empresário e político Sampaio Corrêa, o filme, na verdade, era uma charge animada do cartunista Seth, pseudônimo de Álvaro Marins (1891-1949). Sobrou apenas uma imagem de Kaiser, que ironizava o expansionismo alemão em meio às tensões da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
“O mercado de cinema de animação cresceu muito, o setor vive o seu melhor momento no país. Obras cheias de qualidade e diversidade representam o alto nível alcançado nesses 100 anos de história”, destaca Sávio Leite, diretor da Mostra Udigrudi Mundial de Animação (Mumia), que está completando 15 anos. Entre os fatores que colaboraram para isso estão os editais de fomento.
“Temos várias animações nacionais fazendo sucesso, como Peixonauta, Meu amigãozão e Historietas assombradas, só para citar algumas. Sem falar que uma delas concorreu ao Oscar em 2016 – O menino e o mundo. Em 2013, o Luiz Bolognesi, com Uma história de amor e fúria, levou o prêmio de melhor filme no festival francês de Annecy, o mais importante do mundo. Temos produzido muito mais e com qualidade, tanto curtas quanto longas”, frisa Leite.
Hoje, será lançado o DVD Coletânea Mumia de animações mineiras, que reúne 10 curtas emblemáticos da produção realizada de 1998 a 2015. “Minas cresceu nesse contexto. Belo Horizonte foi a primeira capital do país a ter um curso superior voltado para a animação, que existe desde 1982, na Universidade Federal de Minas Gerais. Muitos profissionais que hoje estão espalhados pelo mundo saíram daqui”, pontua Sávio Leite.
Um dos exemplos mineiros bem-sucedidos é a produtora Immagini Animation Studios, especializada em 2D e 3D, voltada para o público infantil e infantojuvenil. Dois de seus produtos estão sendo negociados com canais estrangeiros: as séries Caju e Malu, sobre um elefante historiador e uma fêmea de canarinho piloto de avião, e Chef Jeff (que deve virar longa), estrelada por um cozinheiro exótico que viaja pelo mundo coletando ingredientes raros.
“De uns cinco anos para cá, o mercado internacional passou a ver o Brasil como celeiro de talentos. Os profissionais de Minas são bem disputados. Muita gente daqui vai direto para os grandes estúdios, como a Disney”, revela o produtor-executivo da Immagini, Luiz Fernando de Alencar.
Rodrigo Guimarães, um dos sócios da produtora, adquiriu experiência internacional ao trabalhar por 11 anos na direção de arte de importantes estúdios. No seu currículo estão os filmes Animalia, Aprendiz de feiticeiro, Harry Potter e as relíquias da morte e Happy feet 2.
ESCOLAS
A zeropeia, baseado no livro homônimo do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, vai virar animação. Em 2004, a história foi musicada a convite dos irmãos Paulo Spósito e Regina Souza, sobrinhos do autor. O CD passou a ser usado nas escolas.
“Vendo esse movimento, comecei a imaginar a possibilidade de dar vida aos personagens usando as músicas do disco. Assim, surgiu a ideia de animar a história tendo como trilha sonora as canções já conhecidas das crianças”, comenta Paulo Spósito, produtor-executivo e idealizador do filme, que será lançado em novembro.
Ele lembra que o setor vem crescendo, apesar da crise. Empresas especializadas em marketing infantil detectaram que 70% dos pais atendem ao apelo dos filhos quando se trata de produtos de baixo custo. “O mercado brasileiro tende a crescer cerca de 10% ao ano. É muito mais do que vários setores da economia. Há um espaço muito grande para animações de qualidade brasileiras, pois elas representam apenas 2% dos produtos infantis consumidos”, conclui Spósito.
COLETÂNEA MUMIA DE ANIMAÇÕES MINEIRAS
Lançamento hoje (1/8), às 19h. Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. O DVD será distribuído gratuitamente.
Um robô humano
Por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro (Prodav), a Z1, produtora belo-horizontina de animação digital, conteúdo interativo e realidade virtual, conseguiu financiamento para concretizar a série que desbancou 18 concorrentes do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo.
Nino: viagem ao conhecimento conta a história do professor Cícero, um cientista enganado pelos colegas. Depois de perder a esposa e o segundo filho, ele abandona tudo, isola-se e cria seu próprio projeto: o robô Nino, máquina com sentimentos humanos e a inocência da infância.
“Essa animação foi realizada com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual. O tema sugerido foi uma série que abordasse o mundo da filosofia e do pensamento crítico das crianças, explorando perguntas próprias delas sobre a vida, amor, educação, perda e morte. A ideia é incentivá-las tanto a pensar quanto considerar diferentes respostas. A série vem sendo exibida por TVs públicas do país”, diz Ronaldo Zenóbio, sócio-diretor da Z1 e diretor de Nino.
O diretor da Z1 ressalta a qualidade dos filmes. “São trabalhos de alto nível que dificilmente seriam produzidos, mas agora temos essa oportunidade. Estamos contribuindo para o crescimento da economia criativa mineira. Várias ações vêm sendo realizadas no estado, como o MAX – Minas Gerais Audiovisual Expo, no fim deste mês. Players (representantes de canais e produtoras) de todo o Brasil virão a BH conhecer o conteúdo independente produzido aqui. Vamos apresentar o Nino lá”, informa.
Tubarão martelo
Quem também comemora a boa fase da animação é o cantor e compositor Cláudio Fraga, idealizador do projeto Tubarão Martelo e os habitantes do fundo do mar. Criada quando a escola do filho dele buscava ideias para o espetáculo de fim de ano, a iniciativa se expandiu: virou CD, musical, DVD e canal no YouTube – inclusive traduzida para inglês e espanhol. “O mercado de fora do país fica impressionado com o nível do nosso trabalho e dos animadores brasileiros. A tendência é só evoluir”, afirma Fraga.
“O mercado de cinema de animação cresceu muito, o setor vive o seu melhor momento no país. Obras cheias de qualidade e diversidade representam o alto nível alcançado nesses 100 anos de história”, destaca Sávio Leite, diretor da Mostra Udigrudi Mundial de Animação (Mumia), que está completando 15 anos. Entre os fatores que colaboraram para isso estão os editais de fomento.
“Temos várias animações nacionais fazendo sucesso, como Peixonauta, Meu amigãozão e Historietas assombradas, só para citar algumas. Sem falar que uma delas concorreu ao Oscar em 2016 – O menino e o mundo. Em 2013, o Luiz Bolognesi, com Uma história de amor e fúria, levou o prêmio de melhor filme no festival francês de Annecy, o mais importante do mundo. Temos produzido muito mais e com qualidade, tanto curtas quanto longas”, frisa Leite.
Hoje, será lançado o DVD Coletânea Mumia de animações mineiras, que reúne 10 curtas emblemáticos da produção realizada de 1998 a 2015. “Minas cresceu nesse contexto. Belo Horizonte foi a primeira capital do país a ter um curso superior voltado para a animação, que existe desde 1982, na Universidade Federal de Minas Gerais. Muitos profissionais que hoje estão espalhados pelo mundo saíram daqui”, pontua Sávio Leite.
Um dos exemplos mineiros bem-sucedidos é a produtora Immagini Animation Studios, especializada em 2D e 3D, voltada para o público infantil e infantojuvenil. Dois de seus produtos estão sendo negociados com canais estrangeiros: as séries Caju e Malu, sobre um elefante historiador e uma fêmea de canarinho piloto de avião, e Chef Jeff (que deve virar longa), estrelada por um cozinheiro exótico que viaja pelo mundo coletando ingredientes raros.
“De uns cinco anos para cá, o mercado internacional passou a ver o Brasil como celeiro de talentos. Os profissionais de Minas são bem disputados. Muita gente daqui vai direto para os grandes estúdios, como a Disney”, revela o produtor-executivo da Immagini, Luiz Fernando de Alencar.
Rodrigo Guimarães, um dos sócios da produtora, adquiriu experiência internacional ao trabalhar por 11 anos na direção de arte de importantes estúdios. No seu currículo estão os filmes Animalia, Aprendiz de feiticeiro, Harry Potter e as relíquias da morte e Happy feet 2.
ESCOLAS
A zeropeia, baseado no livro homônimo do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, vai virar animação. Em 2004, a história foi musicada a convite dos irmãos Paulo Spósito e Regina Souza, sobrinhos do autor. O CD passou a ser usado nas escolas.
“Vendo esse movimento, comecei a imaginar a possibilidade de dar vida aos personagens usando as músicas do disco. Assim, surgiu a ideia de animar a história tendo como trilha sonora as canções já conhecidas das crianças”, comenta Paulo Spósito, produtor-executivo e idealizador do filme, que será lançado em novembro.
Ele lembra que o setor vem crescendo, apesar da crise. Empresas especializadas em marketing infantil detectaram que 70% dos pais atendem ao apelo dos filhos quando se trata de produtos de baixo custo. “O mercado brasileiro tende a crescer cerca de 10% ao ano. É muito mais do que vários setores da economia. Há um espaço muito grande para animações de qualidade brasileiras, pois elas representam apenas 2% dos produtos infantis consumidos”, conclui Spósito.
COLETÂNEA MUMIA DE ANIMAÇÕES MINEIRAS
Lançamento hoje (1/8), às 19h. Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. O DVD será distribuído gratuitamente.
Um robô humano
Por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro (Prodav), a Z1, produtora belo-horizontina de animação digital, conteúdo interativo e realidade virtual, conseguiu financiamento para concretizar a série que desbancou 18 concorrentes do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo.
Nino: viagem ao conhecimento conta a história do professor Cícero, um cientista enganado pelos colegas. Depois de perder a esposa e o segundo filho, ele abandona tudo, isola-se e cria seu próprio projeto: o robô Nino, máquina com sentimentos humanos e a inocência da infância.
“Essa animação foi realizada com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual. O tema sugerido foi uma série que abordasse o mundo da filosofia e do pensamento crítico das crianças, explorando perguntas próprias delas sobre a vida, amor, educação, perda e morte. A ideia é incentivá-las tanto a pensar quanto considerar diferentes respostas. A série vem sendo exibida por TVs públicas do país”, diz Ronaldo Zenóbio, sócio-diretor da Z1 e diretor de Nino.
O diretor da Z1 ressalta a qualidade dos filmes. “São trabalhos de alto nível que dificilmente seriam produzidos, mas agora temos essa oportunidade. Estamos contribuindo para o crescimento da economia criativa mineira. Várias ações vêm sendo realizadas no estado, como o MAX – Minas Gerais Audiovisual Expo, no fim deste mês. Players (representantes de canais e produtoras) de todo o Brasil virão a BH conhecer o conteúdo independente produzido aqui. Vamos apresentar o Nino lá”, informa.
Tubarão martelo
Quem também comemora a boa fase da animação é o cantor e compositor Cláudio Fraga, idealizador do projeto Tubarão Martelo e os habitantes do fundo do mar. Criada quando a escola do filho dele buscava ideias para o espetáculo de fim de ano, a iniciativa se expandiu: virou CD, musical, DVD e canal no YouTube – inclusive traduzida para inglês e espanhol. “O mercado de fora do país fica impressionado com o nível do nosso trabalho e dos animadores brasileiros. A tendência é só evoluir”, afirma Fraga.