Em meio às altas temperaturas de um dos verões mais quentes dos últimos anos, a festiva capital espanhola abriga hoje a quarta edição do Prêmio Platino de Cinema Iberoamericano, que se postula como a maior celebração da sétima arte em língua espanhola e portuguesa. Entre os indicados nas 14 categorias, o Brasil comparece com Aquarius, concorrendo a melhor filme, direção (Kleber Mendonça Filho) e atriz (Sonia Braga); Boi neon, indicado a melhor direção de fotografia (Diego Garcia); Cinema novo, candidato a melhor documentário; e Bruxarias, que pode levar o prêmio de melhor animação.
A solenidade de entrega do prêmio, organizado pela Entidade de Gestão de Direitos dos Produtores Audiovisuais (Egeda) em parceria com a Federação Iberoamericana de Produtores Cinematográficos e Audiovisuais (Fipca), ocorre no espaço multieventos Caja Mágica, com direito a desfile de estrelas da América Latina, Portugal e Espanha pelo tapete vermelho.
O norte-americano Edward James Olmos, entusiasta da produção latina, é o homenageado com o troféu honorário desta edição. Até aqui, o Prêmio Platino já havia entregue a honraria à brasileira Sonia Braga, ao espanhol Antonio Banderas e ao argentino Ricardo Darín. Olmos tem uma extensa lista de interpretações de personagens hispânicos. Por seu desempenho como o tenente Marty Castillo, do seriado Miami vice, venceu o Emmy e o Globo de Ouro em 1985. Com O preço do desafio (1988), no qual interpreta o professor de origem latina Jaime Escalante, foi indicado ao Oscar de melhor ator. Fora das telas, a relação de Olmos com a comunidade latina é ainda mais forte. Ativista pelas causas hispanoamericanas nos EUA, ele fundou a Latin Public Broadcasting, em 1980, com o propósito de impulsionar e fomentar produções audiovisuais desses países nos Estados Unidos.
PACIÊNCIA “Usando a TV e o cinema como ferramenta, ele construiu uma enorme e exitosa carreira e recebe o Platino por todo o seu trabalho em favor dos latinos”, declarou Enrique Cerezo, presidente da Egeda, em seu discurso dirigido a Olmos na cerimônia especial realizada ontem, em Madri. Ao agradecer, Olmos disse: “É preciso ter paciência. Os Estados Unidos hoje têm muito dinheiro e dominam a produção mundial. Mas, quando criaram o Oscar, há 90 anos, eram 35 pessoas em um restaurante recebendo o prêmio. Por isso, na América Latina temos que seguir contando nossas histórias. Já na primeira edição do Prêmio Platino havia mil pessoas (no teatro) e vamos crescer mais”.
Questionado sobre o atual cenário político de seu país, regido pelas propostas polêmicas de Donald Trump, Olmos diz ter esperança em uma mudança. “Trump quer nos dividir, erguer um muro, mas tenho esperança de que tudo isso vá mudar. O preconceito hoje é muito forte porque há quem tenha medo dos latinos. Somos muitos e vamos crescer mais. E no cinema também vai ser assim.” Apesar das comparações e projeções feitas em relação a Hollywood nos debates paralelos à entrega do Prêmio Platino, o responsável pela iniciativa rechaça a ideia da disputa. “Não podemos competir com eles (Hollywood). Não é o caso. Eles são geniais fazendo filmes há muito tempo. O que temos que fazer é buscar também o nosso lugar. E o Prêmio Platino surgiu para reforçar isso”, afirma Enrique Cerezo, que também preside o Atlético de Madri, um dos mais importantes clubes do futebol europeu.
Ganhar o mundo via streaming
Se premiações mais tradicionais como as de Cannes e o Oscar têm enfrentado alguma estranheza e até protestos em relação à participação dos serviços de streaming e vídeo sob demanda no universo do cinema, o Prêmio Platino, contemporâneo das novas tecnologias, procura lidar bem com esse cenário. Nesta quarta edição, foi incluída a categoria melhor série iberoamericana de TV – de TV ou de streaming, como é o caso de Quatro estações em Havana, uma das indicadas. Com roteiro adaptado do drama policial do cubano Leonardo Padura, a série foi filmada na capital da ilha e estreou em dezembro no Netflix.
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“Tudo isso aconteceu de uma maneira tão rápida que ainda estamos assimilando. Dar visibilidade ao nosso trabalho numa plataforma como essa é uma grande oportunidade, porque ele pode ser visto em qualquer lugar do mundo. Assim que a série estreou no Netflix, conhecidos de vários países me ligaram para elogiar. Cada vez mais gente consome audiovisual por essas plataformas”, afirma o ator e diretor cubano Jorge Perugorría, protagonista de Quatro estações em Havana. Perugorría destaca a importância de o Netflix produzir séries latinas em sua língua original. “Narcos foi a primeira com idioma original e rompeu a barreira de os americanos só consumirem coisas em inglês. Agora, felizmente, podemos consumir em nossa língua original.”
Na mesma categoria e também do gênero drama policial está a série argentina El marginal. Inicialmente exibida na TV pública do país vizinho, a produção ficou disponível em outros 70 países por meio do Netflix. Estrela da obra, a atriz e produtora Martina Gusmán (Leonera) também exalta as possibilidades do streaming. “É chave essa nova plataforma. Poder escolher o que você quer ver, onde estiver, no tempo que quiser, isso está muito mais adequado aos tempos atuais, em que as pessoas têm cada vez menos tempo, sem falar na chance de distribuição para vários países. Na Argentina, por exemplo, não chegam filmes de tantos países aos cinemas. Mas no Netflix podemos vê-los.”
ACESSO Apesar das possibilidades de difusão em escala mundial de filmes e séries, o streaming é visto com ressalvas por uma parcela do setor audiovisual. É o caso da brasileira Marta Machado, diretora da animação Bruxarias, coprodução entre Espanha e Brasil, que concorre ao Prêmio Platino em sua categoria. “A gente tem um problema, que não é exclusivo da animação, mas de qualquer conteúdo que não seja norte-americano: o acesso à sala de cinema ainda é muito dominado por Hollywood. E isso não é diferente no streaming, que hoje se resume a Netflix, Amazon, Now e mais algumas. O que ocorre no streaming é muito parecido com os canais de TV – majors se juntando para dominar esses caminhos, adquirindo conteúdos de um jeito não muito justo. Eles pagam pelos filmes, mesmo não sendo mainstream, mas pagam pouco. A mesma lógica de outras janelas prevalece: pagar mais por quem teve bom desempenho no cinema e menos por quem não teve”, afirma a gaúcha.
O produtor argentino Fernando Sokolowicz (O cidadão ilustre), por sua vez, é um defensor da conquista de novos públicos via streaming. “Temos que gerar novas audiências. Tem gente que não vai ao cinema e essas plataformas têm sucesso porque permitem que essas pessoas vejam os filmes. Para mim, isso é um grande apoio ao cinema. Não significa que não produziremos para as salas e outras telas. Mas faremos filmes para que um brasileiro, colombiano ou argentino possa vê-lo mesmo vivendo na Tailândia ou nos Emirados Árabes. Isso só é possível por essas novas plataformas.”
Já o presidente da Egeda prefere emitir uma opinião conciliadora. “As salas de cinema nunca vão desaparecer. O streaming ajuda, porque permite que mais gente veja os filmes em todo lugar, em diferentes meios, e isso é ótimo”, diz Enrique Cerezo.
Favorito aos prêmios desta noite, O cidadão ilustre vai para a cerimônia com dois troféus já conquistados: melhor filme segundo a escolha do público e melhor ator (Oscar Martínez), categorias extras anunciadas ontem por uma das patrocinadoras do evento. A pop star uruguaia Natalia Oreiro foi a escolhida do público como melhor atriz. Ela também concorre na premiação principal pela atuação na cinebiografia Gilda - No me arrepiento de este amor, no papel da cantora argentina que morreu em um acidente de carro na década de 1990. Oreiro também apresentará a entrega dos prêmios, ao lado do humorista espanhol Carlos Latre.
*O repórter viajou a convite da organização do Prêmio Platino
A solenidade de entrega do prêmio, organizado pela Entidade de Gestão de Direitos dos Produtores Audiovisuais (Egeda) em parceria com a Federação Iberoamericana de Produtores Cinematográficos e Audiovisuais (Fipca), ocorre no espaço multieventos Caja Mágica, com direito a desfile de estrelas da América Latina, Portugal e Espanha pelo tapete vermelho.
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O norte-americano Edward James Olmos, entusiasta da produção latina, é o homenageado com o troféu honorário desta edição. Até aqui, o Prêmio Platino já havia entregue a honraria à brasileira Sonia Braga, ao espanhol Antonio Banderas e ao argentino Ricardo Darín. Olmos tem uma extensa lista de interpretações de personagens hispânicos. Por seu desempenho como o tenente Marty Castillo, do seriado Miami vice, venceu o Emmy e o Globo de Ouro em 1985. Com O preço do desafio (1988), no qual interpreta o professor de origem latina Jaime Escalante, foi indicado ao Oscar de melhor ator. Fora das telas, a relação de Olmos com a comunidade latina é ainda mais forte. Ativista pelas causas hispanoamericanas nos EUA, ele fundou a Latin Public Broadcasting, em 1980, com o propósito de impulsionar e fomentar produções audiovisuais desses países nos Estados Unidos.
PACIÊNCIA “Usando a TV e o cinema como ferramenta, ele construiu uma enorme e exitosa carreira e recebe o Platino por todo o seu trabalho em favor dos latinos”, declarou Enrique Cerezo, presidente da Egeda, em seu discurso dirigido a Olmos na cerimônia especial realizada ontem, em Madri. Ao agradecer, Olmos disse: “É preciso ter paciência. Os Estados Unidos hoje têm muito dinheiro e dominam a produção mundial. Mas, quando criaram o Oscar, há 90 anos, eram 35 pessoas em um restaurante recebendo o prêmio. Por isso, na América Latina temos que seguir contando nossas histórias. Já na primeira edição do Prêmio Platino havia mil pessoas (no teatro) e vamos crescer mais”.
Questionado sobre o atual cenário político de seu país, regido pelas propostas polêmicas de Donald Trump, Olmos diz ter esperança em uma mudança. “Trump quer nos dividir, erguer um muro, mas tenho esperança de que tudo isso vá mudar. O preconceito hoje é muito forte porque há quem tenha medo dos latinos. Somos muitos e vamos crescer mais. E no cinema também vai ser assim.” Apesar das comparações e projeções feitas em relação a Hollywood nos debates paralelos à entrega do Prêmio Platino, o responsável pela iniciativa rechaça a ideia da disputa. “Não podemos competir com eles (Hollywood). Não é o caso. Eles são geniais fazendo filmes há muito tempo. O que temos que fazer é buscar também o nosso lugar. E o Prêmio Platino surgiu para reforçar isso”, afirma Enrique Cerezo, que também preside o Atlético de Madri, um dos mais importantes clubes do futebol europeu.
Ganhar o mundo via streaming
Se premiações mais tradicionais como as de Cannes e o Oscar têm enfrentado alguma estranheza e até protestos em relação à participação dos serviços de streaming e vídeo sob demanda no universo do cinema, o Prêmio Platino, contemporâneo das novas tecnologias, procura lidar bem com esse cenário. Nesta quarta edição, foi incluída a categoria melhor série iberoamericana de TV – de TV ou de streaming, como é o caso de Quatro estações em Havana, uma das indicadas. Com roteiro adaptado do drama policial do cubano Leonardo Padura, a série foi filmada na capital da ilha e estreou em dezembro no Netflix.
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“Tudo isso aconteceu de uma maneira tão rápida que ainda estamos assimilando. Dar visibilidade ao nosso trabalho numa plataforma como essa é uma grande oportunidade, porque ele pode ser visto em qualquer lugar do mundo. Assim que a série estreou no Netflix, conhecidos de vários países me ligaram para elogiar. Cada vez mais gente consome audiovisual por essas plataformas”, afirma o ator e diretor cubano Jorge Perugorría, protagonista de Quatro estações em Havana. Perugorría destaca a importância de o Netflix produzir séries latinas em sua língua original. “Narcos foi a primeira com idioma original e rompeu a barreira de os americanos só consumirem coisas em inglês. Agora, felizmente, podemos consumir em nossa língua original.”
Na mesma categoria e também do gênero drama policial está a série argentina El marginal. Inicialmente exibida na TV pública do país vizinho, a produção ficou disponível em outros 70 países por meio do Netflix. Estrela da obra, a atriz e produtora Martina Gusmán (Leonera) também exalta as possibilidades do streaming. “É chave essa nova plataforma. Poder escolher o que você quer ver, onde estiver, no tempo que quiser, isso está muito mais adequado aos tempos atuais, em que as pessoas têm cada vez menos tempo, sem falar na chance de distribuição para vários países. Na Argentina, por exemplo, não chegam filmes de tantos países aos cinemas. Mas no Netflix podemos vê-los.”
ACESSO Apesar das possibilidades de difusão em escala mundial de filmes e séries, o streaming é visto com ressalvas por uma parcela do setor audiovisual. É o caso da brasileira Marta Machado, diretora da animação Bruxarias, coprodução entre Espanha e Brasil, que concorre ao Prêmio Platino em sua categoria. “A gente tem um problema, que não é exclusivo da animação, mas de qualquer conteúdo que não seja norte-americano: o acesso à sala de cinema ainda é muito dominado por Hollywood. E isso não é diferente no streaming, que hoje se resume a Netflix, Amazon, Now e mais algumas. O que ocorre no streaming é muito parecido com os canais de TV – majors se juntando para dominar esses caminhos, adquirindo conteúdos de um jeito não muito justo. Eles pagam pelos filmes, mesmo não sendo mainstream, mas pagam pouco. A mesma lógica de outras janelas prevalece: pagar mais por quem teve bom desempenho no cinema e menos por quem não teve”, afirma a gaúcha.
O produtor argentino Fernando Sokolowicz (O cidadão ilustre), por sua vez, é um defensor da conquista de novos públicos via streaming. “Temos que gerar novas audiências. Tem gente que não vai ao cinema e essas plataformas têm sucesso porque permitem que essas pessoas vejam os filmes. Para mim, isso é um grande apoio ao cinema. Não significa que não produziremos para as salas e outras telas. Mas faremos filmes para que um brasileiro, colombiano ou argentino possa vê-lo mesmo vivendo na Tailândia ou nos Emirados Árabes. Isso só é possível por essas novas plataformas.”
Já o presidente da Egeda prefere emitir uma opinião conciliadora. “As salas de cinema nunca vão desaparecer. O streaming ajuda, porque permite que mais gente veja os filmes em todo lugar, em diferentes meios, e isso é ótimo”, diz Enrique Cerezo.
Favorito aos prêmios desta noite, O cidadão ilustre vai para a cerimônia com dois troféus já conquistados: melhor filme segundo a escolha do público e melhor ator (Oscar Martínez), categorias extras anunciadas ontem por uma das patrocinadoras do evento. A pop star uruguaia Natalia Oreiro foi a escolhida do público como melhor atriz. Ela também concorre na premiação principal pela atuação na cinebiografia Gilda - No me arrepiento de este amor, no papel da cantora argentina que morreu em um acidente de carro na década de 1990. Oreiro também apresentará a entrega dos prêmios, ao lado do humorista espanhol Carlos Latre.
*O repórter viajou a convite da organização do Prêmio Platino