Um garoto de 17 anos que se sente muito só e tem o hábito de se masturbar enquanto telefona para as pacientes da mãe, que é psicóloga. Uma mulher de 43 anos, cujo marido saiu de casa, que enfrenta a solidão tentando conversar com o silêncio. É assim que o roteirista Felipe Sholl descrevia seu primeiro longa-metragem como diretor, Fala comigo, que chega hoje aos cinemas (Belas Artes e Cine 104, em Belo Horizonte), depois de ter vencido a edição 2016 do Festival do Rio.
Com o passar do tempo – a primeira versão da história ficou pronta em 2005, quando Sholl ainda estudava roteiro – as respostas do diretor foram mudando. “É sobre pessoas que procuram o amor em lugares improváveis”; “É sobre intimidade e como achar intimidade nos dias atuais” foram algumas das novas definições para a história.
saiba mais
Festival de Locarno, da Suíça, seleciona três títulos brasileiros
Festival de Gramado 2017 divulga filmes em competição
Netflix divulga imagens do primeiro filme original gravado no Brasil
'Deslembro' mostra crise de adolescente filha de militantes políticos
Livro sobre a animação brasileira mostra como o gênero se fortaleceu no país
O romance de Ângela (Karine Teles) e Diogo tem na música um ponto de contato. Ela estudou piano; ele toca violão e compõe. A canção Tudo que a vida me der, que Diogo canta para Ângela no primeiro encontro e se torna uma espécie de música do casal, foi escrita (previamente ao filme) por Tom, que é ex-guitarrista da banda Dônica e filho do músico Paulinho Moska.
SOLAR “Eu estava meio sem graça de pedir ao Tom para me mostrar uma música dele, porque, se não gostasse, seria constrangedor. Mas a Karine pediu, e ele veio com essa, que é perfeita para a cena. Não precisei fazer nenhum ajuste”, diz Sholl. O diretor afirma que, por causa da “personalidade solar” de Tom, adaptou o roteiro para tornar o personagem menos “sombrio” do que era no papel.
Por seu desempenho como Ângela, Karine Teles recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival do Rio, o que tornou Fala comigo vencedor em duas importantes categorias. “É maravilhoso ganhar prêmio. Além do orgulho e da honra que a gente sente, tem repercussões práticas excelentes. As pessoas passam a valorizar o seu trabalho”, afirma o diretor.
O outro lado da moeda das premiações, que se afigura como alta expectativa em torno dos futuros trabalhos dos premiados, Sholl diz já conhecer bem. “Tenho 35 anos. Quando fui para o Festival de Berlim e ganhei o Teddy (com o curta-metragem Tá), tinha 26 e senti mais esse peso. Fui chamado de promessa, fui chamado de aposta. Dá um medinho. Será que vou cumprir a promessa? Mas, ao mesmo tempo, é uma coisa que te empurra. Essa responsabilidade me faz tentar mais fazer o melhor filme que eu puder fazer.”
Classificado pelo Festival de Berlim como um prêmio “engajado”, o Teddy é atribuído a “filmes e pessoas que abordam temáticas queer em larga escala e contribuem assim com mais tolerância, aceitação, solidariedade e igualdade na sociedade”.
Com seu próximo projeto de longa, Glória, Sholl diz querer “passar uma mensagem de aceitação dos profissionais do sexo na nossa sociedade”. A história é a de um “jovem de 20 e poucos anos, de família rica do interior do Nordeste, que vai para o Rio fazer mestrado em antropologia”, conta o diretor e roteirista. “A tese dele é sobre profissionais do sexo cariocas, e ele mesmo vai se tornar garoto de programa. O filme fala sobre sexualidade e prostituição. Em geral, deixar de ser garoto de programa envolve a ideia de redenção. No caso desse personagem, ele é salvo pela prostituição.”
Confira o trailer: