Nascida na Bélgica, Zahira é uma garota de 18 anos como muitas outras daquele país europeu. Está no início da gravidez. O namorado, assim como ela, é muçulmano de família paquistanesa. Para a família de Zahira, a gravidez é mais do que indesejada.
No início de A garota ocidental, que chega nesta quinta (22) aos cinemas brasileiros, a adolescente está numa clínica de aborto. Evitar aquele bebê vai contra suas crenças, pois acabaria com uma vida. A médica esclarece dúvidas e explica que a intervenção, custeada pelo Estado, vai custar 3,50 euros. E que não haverá nada referente ao aborto em sua ficha médica. Zahira diz a ela que isso não é um problema. Sua família está mais do que ciente da gravidez (ela é acompanhada na clínica pelo irmão mais velho, Amir). A dúvida está com ela.
“Quando o filme começa, o ‘problema’ será resolvido porque a coisa mais importante para a família de Zahira é a aparência. Os pais acreditam que tudo terá acabado rapidamente porque ela vai fazer um aborto, ninguém vai saber, eles vão escolher um marido, ela vai se casar com o escolhido e ainda terá o hímen reconstituído”, explica Stephan Streker, diretor de A garota ocidental.
A gravidez da personagem é apenas a ponta do iceberg de um drama que trata de tradições e crenças levadas a ferro e fogo. “Seguindo a tradição, o noivo deve ser muçulmano, paquistanês e ter sido escolhido pela família”, continua Streker. E Zahira deve ter um casamento arranjado, a exemplo de sua irmã mais velha, de sua mãe e de várias gerações de paquistanesas.
COMOÇÃO O drama de Zahira é, na verdade, a história real da jovem Sadia Sheikh. Em 2007, uma tragédia tomou conta da família paquistanesa que vivia em Charleroi, no interior da Bélgica. O caso, de acordo com Streker, gerou comoção nacional. A despeito da inspiração verídica, o diretor não se pauta pelo ocorrido em A garota ocidental. A única informação que o filme dá ao espectador é: “baseado em fatos”.
“Aquela história não me interessou de imediato. Só muitos anos mais tarde, quando me encontrei por acaso com o melhor amigo do irmão de Sadia, e ele me disse como aquela família se amava, é que atentei para o fato. O filme é uma tragédia grega dos dias atuais. Apesar do amor que unia aquela família, havia algo maior que faria tudo explodir.”
Tratando de um tema difícil, o cineasta poderia muito facilmente cair nos pré-julgamentos. Streker não toma partido. “Escolher um lado, mostrando ‘este é o bom, este é o ruim’, não é uma maneira interessante de apresentar uma narrativa. A personagem Zahira não foi vítima de monstros, mas de uma situação monstruosa.”
DELICADEZA Mesmo com a tragédia iminente, a narrativa segue com delicadeza. Zahira é interpretada por Lina El Arabi, jovem francesa de origem marroquina escolhida por Streker por ser “iniciante absoluta”. “Lina atua muito naturalmente, ainda mais num tema difícil como esse”, comenta o diretor. Usa roupas ocidentais e a melhor amiga é belga, mas usa o lenço para cobrir os cabelos quando está com a família, sempre muito unida. Vai convivendo da única maneira que consegue entre os dois mundos até que a tradição pesa além do que ela pode suportar.
A garota ocidental (cujo título original é Noces, casamento em francês) teve première no Festival de Toronto, em 2016. Coprodução da Bélgica, França, Luxemburgo e Paquistão, o filme é falado em francês e urdu (língua oficial do Paquistão).
Já lançado em uma dezena de países, o longa não tem, por ora, estreia prevista no Paquistão. “O mais importante é que conseguimos uma coprodutora de Karachi (a cidade mais populosa daquele país). Mas se ele não for lançado lá, não será por razões morais, e sim estéticas. Os filmes paquistaneses são muito diferentes do que faço (lembram a produção de Bollywood, a meca indiana do cinema). Na verdade, esse filme não foi feito para o público paquistanês, mas para todo o mundo”, conclui.
No início de A garota ocidental, que chega nesta quinta (22) aos cinemas brasileiros, a adolescente está numa clínica de aborto. Evitar aquele bebê vai contra suas crenças, pois acabaria com uma vida. A médica esclarece dúvidas e explica que a intervenção, custeada pelo Estado, vai custar 3,50 euros. E que não haverá nada referente ao aborto em sua ficha médica. Zahira diz a ela que isso não é um problema. Sua família está mais do que ciente da gravidez (ela é acompanhada na clínica pelo irmão mais velho, Amir). A dúvida está com ela.
“Quando o filme começa, o ‘problema’ será resolvido porque a coisa mais importante para a família de Zahira é a aparência. Os pais acreditam que tudo terá acabado rapidamente porque ela vai fazer um aborto, ninguém vai saber, eles vão escolher um marido, ela vai se casar com o escolhido e ainda terá o hímen reconstituído”, explica Stephan Streker, diretor de A garota ocidental.
A gravidez da personagem é apenas a ponta do iceberg de um drama que trata de tradições e crenças levadas a ferro e fogo. “Seguindo a tradição, o noivo deve ser muçulmano, paquistanês e ter sido escolhido pela família”, continua Streker. E Zahira deve ter um casamento arranjado, a exemplo de sua irmã mais velha, de sua mãe e de várias gerações de paquistanesas.
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“Aquela história não me interessou de imediato. Só muitos anos mais tarde, quando me encontrei por acaso com o melhor amigo do irmão de Sadia, e ele me disse como aquela família se amava, é que atentei para o fato. O filme é uma tragédia grega dos dias atuais. Apesar do amor que unia aquela família, havia algo maior que faria tudo explodir.”
Tratando de um tema difícil, o cineasta poderia muito facilmente cair nos pré-julgamentos. Streker não toma partido. “Escolher um lado, mostrando ‘este é o bom, este é o ruim’, não é uma maneira interessante de apresentar uma narrativa. A personagem Zahira não foi vítima de monstros, mas de uma situação monstruosa.”
DELICADEZA Mesmo com a tragédia iminente, a narrativa segue com delicadeza. Zahira é interpretada por Lina El Arabi, jovem francesa de origem marroquina escolhida por Streker por ser “iniciante absoluta”. “Lina atua muito naturalmente, ainda mais num tema difícil como esse”, comenta o diretor. Usa roupas ocidentais e a melhor amiga é belga, mas usa o lenço para cobrir os cabelos quando está com a família, sempre muito unida. Vai convivendo da única maneira que consegue entre os dois mundos até que a tradição pesa além do que ela pode suportar.
A garota ocidental (cujo título original é Noces, casamento em francês) teve première no Festival de Toronto, em 2016. Coprodução da Bélgica, França, Luxemburgo e Paquistão, o filme é falado em francês e urdu (língua oficial do Paquistão).
Já lançado em uma dezena de países, o longa não tem, por ora, estreia prevista no Paquistão. “O mais importante é que conseguimos uma coprodutora de Karachi (a cidade mais populosa daquele país). Mas se ele não for lançado lá, não será por razões morais, e sim estéticas. Os filmes paquistaneses são muito diferentes do que faço (lembram a produção de Bollywood, a meca indiana do cinema). Na verdade, esse filme não foi feito para o público paquistanês, mas para todo o mundo”, conclui.