Em 8 de julho de 2010, a capa da edição norte-americana da revista Rolling Stone trazia Lady Gaga ''contando tudo''. Na parte de baixo, em letras pequenas, um título realmente bombástico: ''O general de Obama: por que ele está perdendo a guerra''.
A chamada fazia referência à reportagem O general fugitivo, extenso perfil de Stanley McChrystal, então comandante do presidente norte-americano Barack Obama no Afeganistão. O material do jornalista Michael Hastings, resultado de 20 horas de entrevista com o militar e sua equipe, resultou na imediata renúncia de McChrystal.
O artigo deixava clara a oposição que o general quatro estrelas fazia à administração Obama, que tinha como meta retirar as tropas daquele país. Dois anos mais tarde, Hastings publicou o livro, logo tornado best-seller, The operators: The wild and terrifying inside story of America’s war in Afghanistan (Os operadores: A história selvagem e aterrorizante dentro da guerra da América no Afeganistão, em tradução livre), que ia mais a fundo nessa história
PARÓDIA
Com estreia nesta sexta-feira, 26, na Netflix, War machine, investimento milionário da plataforma de streaming em um longa-metragem (custou US$ 60 milhões), usa a história real para, na ficção, discutir a razão de uma guerra. Dirigido por David Michôd (de Reino animal e Rover: a caçada), o filme pretende fazer paródia de um conflito militar.
Brad Pitt (o projeto é de sua produtora, a Plan B) é o general Glen McMahon, que chega ao Afeganistão em 2010 com a estrela em alta. Militar durão, tem disciplina que faz jus a sua formação. Dorme quatro horas por dia, corre quilômetros toda manhã, só pensa em trabalho e é idolatrado por sua equipe.
McMahon quer livrar os afegãos dos insurgentes e devolver o país à população local. Para tal, tem que entrar em guerra.
BASTARDOS
Pitt, quem diria, é o maior desacerto. Seu McMahon é uma variação canhestra do caçador de nazistas que interpretou em Bastardos inglórios. É difícil prestar atenção no que ele fala, ao vê-lo sempre com a testa esquerda arqueada e o olho direito entreaberto. Mais: à medida que a narrativa avança e a guerra que ele espera não acontece, o tom do personagem vai se tornando melancólico.
War machine não se encontra. Está sendo vendido como uma comédia, mas só consegue suscitar alguns sorrisos amarelos. Tampouco pode ser levado a sério, ainda que tenha momentos dramáticos.
Sua tentativa de fazer uma crítica ao belicismo norte-americano é válida, bem como a intenção da Netflix de investir pesado em longas. Mas, como realização, War machine é um tiro no pé.
Abaixo, confira o trailer de War machine:
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