Existe, em vários foros, interesse em discutir se, afinal, existe um olhar masculino e outro feminino no cinema. Cannes pode estar dando sua contribuição ao tema. Nenhum homem filmaria Vers la Lumière/Em Direção à Luz como a japonesa Naomi Kawase. Em 1971, Don Siegel filmou, com Clint Eastwood, a história de um soldado do Norte que se refugia num pensionato de mulheres, no Sul dos EUA, durante a Guerra Civil. Chamou-se, no Brasil, O Estranho Que Nós Amamos. Sofia Coppola está mostrando na competição do 70º Festival de Cannes a sua versão de The Beguiled. O filme chama-se Les Proies, em francês. O soldado agora é Colin Farrell e as mulheres se tornam suas presas.
Sofia ocupa-se da perturbação que o macho causa nas mulheres. Na história, há uma amputação que representa uma castração simbólica. Siegel, um diretor que veio da montagem, a filmava brutalmente, num momento em que o cinema, superado o código de censura da indústria, avançava em temas como sexo e violência. Sofia deixa esses detalhes, por importantes que sejam, fora do quadro. Portas fechadas. Há muitas no filme, representando, talvez, uma tentativa de abordagem psicanalítica, ou um pudor (feminino?) de não encher os olhos do público com uma violência que, de qualquer maneira, não dá conta do horror da realidade - o ataque do terror em Manchester. Isso não significa que The Beguiled não vá fundo na análise dos sexos.
O filme termina forte - cruel. O mesmo final de Siegel, mas filmado diferente. Filha de Francis Ford Coppola, Sofia conquistou seu espaço em Cannes. A crítica jovem a adora. No tapete vermelho, o público grita seu nome como os de Colin Farrell e Nicole Kidman, que estão no elenco, com Kirsten Dunst. Sexo, desejo, a mulher na indústria. Sobre tudo se falou na coletiva.
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