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Cannes exibe filmes com crianças em tramas cruéis e violentas

Os diretores Yorgos Lanthimos e Michael Haneke apostam no terror psicológico para conquistar a Palma de Ouro

AFP

Nicole Kidman é a estrela do filme 'The killing of sacred deer', que estreou na última segunda, 21, no festival francês. - Foto: Laurent Emmanuel/AFP

As crianças marcam presença no Festival de Cannes, mas se os filmes exibidos exaltavam seu espírito combativo ou sua vulnerabilidade, The killing of a sacred deer e Happy end, exibidos na última segunda, 22, mostraram um lado diabólico da garotada.

Protagonizada por Nicole Kidman e Colin Farrell, a cruel trama de terror de The killing of a sacred deer, do grego Yorgos Lanthimos (O lagosta), prendeu a atenção do público da Croisette, que segurou a respiração do início ao fim. A tensão psicológica, reforçada pela trilha sonora digna de uma produção de Hitchcock, fez com que alguns espectadores deixassem a sala.

Kidman e Farrell, também protagonistas de um outro filme na disputa, O estranho que nós amamos (de Sofia Coppola), encarnam um rico casal de médicos que formam uma família feliz ao lado dos dois filhos. Mas a vida deles se transforma em pesadelo, depois que o filho de um paciente que Farrell não conseguiu salvar durante uma cirurgia começa a buscar vingança.

O adolescente, interpretado pelo ator irlandês Barry Keoghan, é frio, impiedoso e diabólico. ''Meus filhos não vão ver esse filme'', brincou Nicole Kidman, depois da exibição.

MORTE

Por sua vez, o austríaco Michael Haneke converteu a pequena Eve (Fantine Harduin) em autêntica diabinha de 13 anos em Happy end, drama sobre uma família burguesa que mora no Norte da França e se vê confrontada com a morte.

 

 

 

Traumatizada pela separação dos pais, Eve começa a demonstrar tendências suicidas e assassinas. A personagem lembra as crianças de A fita branca, que deu a Haneke uma Palma de Ouro.

As primeiras reações da crítica colocaram o filme de Lanthimos entre os favoritos para o maior prêmio do festival e elogiaram Kidman. Happy end dividiu o público: alguns tacharam a produção como ''a melhor de Haneke''; outros a consideraram ''um trabalho menor''.

Por enquanto, o filme favorito da crítica é Loveless, do russo Andrei Zvyaguintsev (Leviatã), que aborda a insuportável vida de um menino de 12 anos, Aliocha (Matvey Novikov), cujos pais não se amam e também não gostam dele.

 

COMÉDIA

No fim de semana, chamou a atenção o novo filme de Noah Baumbach, The Meyerowitz stories, estrelado por Dustin Hoffman, Adam Sandler e Ben Stiller.

Com ingredientes próprios das comédias de Woody Allen, Baumbach narra o reencontro de uma família nova-iorquina ao redor do patriarca, um artista em decadência. Aos poucos, feridas e rancores do passado retornam, entre refeições e reuniões domésticas.

''O que me interessa é a diferença entre o que somos realmente e o que gostaríamos de ser. Neste filme, queria abordar o tema do sucesso, o que ele significa para diferentes pessoas'', explicou o diretor.

Em alguns momentos, The Meyerowitz stories lembra o estilo do diretor de Manhattan e Hannah e suas irmãs: personagens histéricos, velhos rabugentos, diálogos afiados, situações hilariantes e enredos familiares.

No epicentro da trama está o veterano Dustin Hoffman no papel de um outrora famoso escultor.

Ben Stiller e Adam Sandler interpretam os filhos, enquanto a britânica Emma Thompson completa a família. O filme conta ainda com uma ponta de Sigourney Weaver.

Sandler, mais conhecido por papéis em comédias que a crítica considera apelativas, desta vez foi bastante elogiado pela imprensa por sua interpretação de um músico sem trabalho e em processo de divórcio. Algumas publicações chegaram a especular seu nome como forte candidato ao prêmio de melhor ator em Cannes.

''Como Adam Sandler pode ser bom quando não protagoniza filmes típicos de Adam Sandler'', afirmou o site Indie Wire. O jornal britânico The Guardian o considerou ''um ator formidável na tela''.

The Meyerowitz stories é o segundo longa da Netflix em Cannes, ao lado do sul-coreano Okja. A seleção provocou grande polêmica, pois a plataforma de streaming não exibirá os filmes nas salas de cinema. Inclusive, as produções receberam vaias em sessões para jornalistas. (AFP)

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