São Paulo – Como qualquer outro ator, o britânico Charlie Hunnam, de 37 anos, já levou muitos nãos na carreira. Quando jovem, tentou entrar para o elenco da série Dawson’s creek (1998-2003). Não passou nos testes. Mais experiente, fez uma tentativa de peso: o papel-título da franquia Thor (lançada em 2011). Perdeu feio para Chris Hemsworth.
Já como protagonista da série Sons of anarchy (2008-2014), veio o não que lhe trouxe fama. Só que desta vez, a negativa partiu dele. Em outubro de 2013, 40 dias após ter seu nome anunciado como intérprete de Christian Grey, o multimilionário sádico da série Cinquenta tons de cinza, a Universal Pictures afirmou que o ator havia voltado atrás. O papel, de acordo com o anúncio oficial, causaria conflitos do cronograma de gravações de Hunnam com Sons of anarchy.
Quando soube que Guy Ritchie capitanearia uma nova franquia de Rei Arthur, Hunnam não pensou duas vezes. Faria o que fosse possível para não levar um não. O que quase ocorreu, pois seu nome não era o primeiro da lista (entre os finalistas estavam Henry Cavill e Jai Courtney).
“Você está um lixo. Não é o que eu quero”, foi o que Hunnam ouviu de Ritchie na primeira vez que encontrou o diretor. O ator havia perdido muito peso para a temporada final de Sons of anarchy. “Eu disse a ele: ‘Não se preocupe com o físico, eu vou dar um jeito. Vou te provar que posso’”, contou Hunnam, que esteve no Brasil esta semana para promover o filme.
Hunnam, é bem verdade, não é tão grande quanto aparece na tela de Rei Arthur: A lenda da espada, que estreia hoje nos cinemas brasileiros. Afirma já ter chegado a seu físico ideal, depois da mudança que sofreu para encarnar o papel. “Foram seis, sete semanas carregando muito peso, malhando duas vezes por dia e cozinhando minha própria comida”, conta.
A preocupação de Ritchie faz sentido. O Arthur que se vê nas telas está longe de ser rei. É um homem das ruas, que vive de pequenos golpes. Também adora uma luta de rua. Foi criado por prostitutas, que encontraram o garoto, ainda pequeno, num bote.
Quando é obrigado, como todos os homens do povo, a tentar remover a espada Excalibur, presa há décadas numa pedra, seu destino se revela. Ele é o filho do rei Uther (Eric Bana), que foi morto pelo próprio irmão, Vortigern (Jude Law), para alcançar o trono.
A narrativa tem início com a traição de Uther. Colocando muita fantasia na narrativa medieval (daí incluem-se feiticeiras que vivem como serpentes, enormes elefantes e muita magia), o diretor coloca Arthur como o centro da disputa de poder. A partir do momento em que ele é reconhecido como o herdeiro natural do trono, o filme segue a linha bem contra o mal. Regado a muita testosterona, com seguidas sequências de lutas, batalhas épicas e algum humor. Nada muito diferente de outros filmes do diretor, só que num outro cenário.saiba mais
Com orçamento de US$ 175 milhões, Rei Arthur: A lenda da espada amealhou, até agora, US$ 46 milhões, dos quais apenas US$ 16 milhões foram do mercado norte-americano. Com isso, a probabilidade é alta de que a renda não consiga cobrir o orçamento, causando um rombo nos estúdios.
Hunnam, obviamente, foge do assunto. “Você coloca muito tempo, energia e esperança num projeto. Mas não se sabe o que passa pela cabeça do público. E no fim, é ele quem resolve. Se tivermos sorte, poderemos voltar com a história, mas me liberei de qualquer expectativa. Gostaria muito de vivenciar o triângulo amoroso entre Arthur, Guinevere e Lancelot, coisa que o primeiro filme não teve tempo para mostrar.”
O filme, na realidade, não dá respiro para qualquer intenção romântica. É uma produção de personagens masculinos, como toda a filmografia de Ritchie. Hunnam ri ao falar de como o diretor fala de seu universo. “Ele usa a expressão ‘homens da caverna de caxemira’. Ou seja, é masculino, mas com um pouco de sofisticação. Com isto, tentei criar um Arthur mais acessível, um novo homem.”
Nascido em Newcastle, no Reino Unido, Hunnam sempre conviveu com a lenda do rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. “Como sou inglês, conheço essa história desde criança.” E Excalibur (1981), de John Boorman, foi um dos filmes que o levaram a querer ser ator. “Devo tê-lo visto umas 50 vezes na infância.”
Para o personagem, no entanto, ele buscou outra fonte de inspiração. “Hoje em dia, filmes como este são espetáculos com muitos efeitos especiais e cenas de ação. Para mim, não é mais tão excitante trabalhar dessa forma, quero colocar um pouco de substância. O que fiz foi tentar intensificar a relação entre medo e fé. Fiquei realmente obcecado pelo livro Mais esperto que o diabo, do escritor Napoleon Hill (que foi assessor do presidente Franklin Delano Roosevelt e tem uma obra extensa sobre realização pessoal). No último diálogo entre Arthur e Vortigern, o primeiro diz que ‘ele fazia sentido para o diabo’. Isto vem do escritor.”
Confira o trailer de 'Rei Arthur'
PAPILLON Com Rei Arthur vingando ou não nas bilheterias, Hunnam não tem do que reclamar do atual momento da carreira. Ainda lança neste ano dois longas. O primeiro, que chega ao Brasil em junho, é Z: A cidade perdida, de James Gray, sobre o arqueólogo e explorador britânico Percival Fawcett, que desapareceu na Serra do Roncador, no Mato Grosso, na década de 1920 quando procurava uma civilização perdida (as cenas no Brasil foram rodadas na Colômbia).
O outro é uma nova versão de Papillon, que conta a história de condenados que vivem na Ilha do Diabo, na Guiana Francesa. O primeiro filme, de 1973, era protagonizado por Steve McQueen e Dustin Hoffman. A nova produção é dirigida por Michael Noer. Hunnam interpreta o papel-título, o mesmo que foi de McQueen.
“Na verdade, este filme não é um remake. Para o roteiro, fomos na fonte (a biografia de Henri Charrière, um ex-militar que foi condenado injustamente à prisão perpétua e enviado para a América do Sul). Estou relutante em falar sobre o primeiro filme porque quem gostaria de ser comparado a Steve McQueen? Mas sei que, quando ele for lançado, vou ter que ouvir as comparações. Estou apavorado com isto”, conclui.
A repórter viajou a convite da Warner