Grupo de realizadores cujos filmes foram selecionados para exibição no festival Cine PE (agendado para a semana de 23 a 29 de maio) divulgou um manifesto conjunto para comunicar a retirada das obras do evento em protesto contra a "escolha ideológica" das produções. Procurada pelo Viver, a direção do Cine PE ainda não se manifestou sobre o boicote.
De acordo com a nota pública emitida por sete profissionais, a curadoria do Cine PE "favorece um discurso partidário alinhado à direita conservadora e grupos que compactuaram e financiaram o golpe ao estado democrático de direito ocorrido no Brasil em 2016. Para nós, isso deixa claro o posicionamento desta edição, ao qual não queremos estar atrelados".
A posição do grupo é externada dois dias depois da divulgação da grade completa de filmes incluídos na mostra do evento. Em 2017, o festival exibirá, na primeira noite, o longa-metragem de Rodrigo Bittencourt sobre as origens do real (Real: O plano por trás da história), conjunto de medidas econômicas adotadas em 1993 para criação da moeda e redução da inflação no país, e o filme Jardim das aflições, sobre o pensador de direita e mentor de movimentos sociais como o Movimento Brasil Livre (MBL) Olavo de Carvalho - com direção de Josias Teófilo.
Gabi Saegesser, um das diretoras que assina a nota, afirma discordar da linha adotada pela organização do festival nos últimos anos, sobretudo no caso específico do produtor Alfredo Bertini, que em 2016 assumiu a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, da qual saiu em dezembro. A escolha inicial de inscrever o filme foi justamente para levar sua produção a um público que não acompanha outros festivais de cinema. "É uma janela", afirma.
A principal crítica de Saegesser é sobre a presença de O jardim das aflições, do pernambucano Josias Teófilo. "O filme vai contra qualquer possibilidade de diálogo, fala sobre o filósofo Olavo de Carvalho, um dos maiores representantes do conservadorismo de direita", diz. Para a cineasta, a presença do título na programação "é como se desrespeitasse a visão política e social de outros filmes e só reforça o ponto de vista do festival".
Assinam a nota conjunta os realizadores dos filmes Abissal (CE), A menina só (SC), Baunilha (PE), Iluminadas (PE), Não me prometa nada (RJ), O silêncio da noite é que tem sido testemunha das minhas amarguras (PE) e Vênus: Filó, a fadinha lésbica (MG). Os diretores planejam uma exibição paralela dos filmes simultaneamente ao Cine PE, pelo Cineclube CineRua, que realiza projeções ao ar livre em defesa dos cinemas de rua, a exemplo do Teatro do Parque, atualmente desativado.
O crítico de cinema Luiz Joaquim, único homenageado pernambucano nesta edição do evento, ainda não se posicionou sobre a questão. O jornalista revelou que, assim como os diretores, não tinha conhecimento da programação no momento do convite da organização, que vai prestar tributo aos atores Rodrigo Santoro e Cássia Kiss.
Cine PE
O festival é organizado pelo casal Bertini (Sandra e Afredo) desde o início, há 21 anos. Após a deposição da presidente Dilma Rousseff em um processo de impeachment consolidado no ano passado, ele foi convidado pelo Ministério da Cultura a assumir o cargo de secretário nacional do audiovisual, órgão vinculado ao Minc.
A permanência no posto durou apenas seis meses e atravessou um conflito público com o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, diretor do filme Aquarius, um dos artistas a protestar, no Festival de Cannes, contra o impeachment sofrido pela ex-presidente Dilma Rousseff. Ele e outras pessoas da equipe do filme, como os atores Sonia Braga, Maeve Jinkings e Humberto Carrão, carregaram mensagens como "Stop coup in Brazil" (Parem o golpe no Brasil, em tradução livre).
Bertini nomeou o crítico Marcos Petruccelli como um dos integrantes da comissão responsável por escolher o representante brasileiro na pré-indicação ao Oscar. Petruccelli havia criticado a manifestação na França na qual se envolveu Kleber Mendonça, com declarações interpretadas pelo meio cinematográfico como tendenciosas e capazes de influenciar a seleção do país à Academia. Cineastas chegaram a deixar a equipe e exigir a saída do crítico. Ele ficou, Aquarius foi preterido e o filme indicado pelo Brasil, O pequeno segredo, ficou de fora da disputa final. Kleber Mendonça presidirá, neste ano, a Semana da Crítica em Cannes.
Nota sobre a retirada de filmes da programação do Cine PE 2017:
"10 de maio de 2017
Decidimos tornar pública a decisão, conjunta, de retirar nossas obras da seleção do XXI Cine PE Festival Audiovisual, a ser realizado entre os dia 23 e 29 de maio de 2017, na cidade de Recife. Apenas no dia 08 de maio, através de veículos de imprensa, tomamos conhecimento da grade completa dos filmes que foram selecionados para o festival.
Constatamos que a escolha de alguns filmes para esta edição favorece um discurso partidário alinhado à direita conservadora e grupos que compactuaram e financiaram o golpe ao Estado democrático de direito ocorrido no Brasil em 2016. Para nós, isso deixa claro o posicionamento desta edição, ao o qual não queremos estar atrelados.
Reconhecemos a importância do Cine PE Festival Audiovisual, do qual muitos de nós já participaram em edições anteriores. Esperamos poder participar de edições futuras e mais conscientes, condizentes com sua grandeza histórica e relevância para a formação de público do cinema brasileiro.
Assinam os representantes dos filmes abaixo listados:
“Abissal” – Ceará
“A Menina Só” – Santa Catarina
“Baunilha” – Pernambuco
“Iluminadas” – Pernambuco
“Não me Prometa Nada” – Rio de Janeiro
“O silêncio da Noite é que tem sido testemunha das minhas amarguras” – Pernambuco
“Vênus – Filó a fadinha lésbica” – Minas Gerais"
De acordo com a nota pública emitida por sete profissionais, a curadoria do Cine PE "favorece um discurso partidário alinhado à direita conservadora e grupos que compactuaram e financiaram o golpe ao estado democrático de direito ocorrido no Brasil em 2016. Para nós, isso deixa claro o posicionamento desta edição, ao qual não queremos estar atrelados".
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Gabi Saegesser, um das diretoras que assina a nota, afirma discordar da linha adotada pela organização do festival nos últimos anos, sobretudo no caso específico do produtor Alfredo Bertini, que em 2016 assumiu a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, da qual saiu em dezembro. A escolha inicial de inscrever o filme foi justamente para levar sua produção a um público que não acompanha outros festivais de cinema. "É uma janela", afirma.
A principal crítica de Saegesser é sobre a presença de O jardim das aflições, do pernambucano Josias Teófilo. "O filme vai contra qualquer possibilidade de diálogo, fala sobre o filósofo Olavo de Carvalho, um dos maiores representantes do conservadorismo de direita", diz. Para a cineasta, a presença do título na programação "é como se desrespeitasse a visão política e social de outros filmes e só reforça o ponto de vista do festival".
Assinam a nota conjunta os realizadores dos filmes Abissal (CE), A menina só (SC), Baunilha (PE), Iluminadas (PE), Não me prometa nada (RJ), O silêncio da noite é que tem sido testemunha das minhas amarguras (PE) e Vênus: Filó, a fadinha lésbica (MG). Os diretores planejam uma exibição paralela dos filmes simultaneamente ao Cine PE, pelo Cineclube CineRua, que realiza projeções ao ar livre em defesa dos cinemas de rua, a exemplo do Teatro do Parque, atualmente desativado.
O crítico de cinema Luiz Joaquim, único homenageado pernambucano nesta edição do evento, ainda não se posicionou sobre a questão. O jornalista revelou que, assim como os diretores, não tinha conhecimento da programação no momento do convite da organização, que vai prestar tributo aos atores Rodrigo Santoro e Cássia Kiss.
Cine PE
O festival é organizado pelo casal Bertini (Sandra e Afredo) desde o início, há 21 anos. Após a deposição da presidente Dilma Rousseff em um processo de impeachment consolidado no ano passado, ele foi convidado pelo Ministério da Cultura a assumir o cargo de secretário nacional do audiovisual, órgão vinculado ao Minc.
A permanência no posto durou apenas seis meses e atravessou um conflito público com o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, diretor do filme Aquarius, um dos artistas a protestar, no Festival de Cannes, contra o impeachment sofrido pela ex-presidente Dilma Rousseff. Ele e outras pessoas da equipe do filme, como os atores Sonia Braga, Maeve Jinkings e Humberto Carrão, carregaram mensagens como "Stop coup in Brazil" (Parem o golpe no Brasil, em tradução livre).
Bertini nomeou o crítico Marcos Petruccelli como um dos integrantes da comissão responsável por escolher o representante brasileiro na pré-indicação ao Oscar. Petruccelli havia criticado a manifestação na França na qual se envolveu Kleber Mendonça, com declarações interpretadas pelo meio cinematográfico como tendenciosas e capazes de influenciar a seleção do país à Academia. Cineastas chegaram a deixar a equipe e exigir a saída do crítico. Ele ficou, Aquarius foi preterido e o filme indicado pelo Brasil, O pequeno segredo, ficou de fora da disputa final. Kleber Mendonça presidirá, neste ano, a Semana da Crítica em Cannes.
Nota sobre a retirada de filmes da programação do Cine PE 2017:
"10 de maio de 2017
Decidimos tornar pública a decisão, conjunta, de retirar nossas obras da seleção do XXI Cine PE Festival Audiovisual, a ser realizado entre os dia 23 e 29 de maio de 2017, na cidade de Recife. Apenas no dia 08 de maio, através de veículos de imprensa, tomamos conhecimento da grade completa dos filmes que foram selecionados para o festival.
Constatamos que a escolha de alguns filmes para esta edição favorece um discurso partidário alinhado à direita conservadora e grupos que compactuaram e financiaram o golpe ao Estado democrático de direito ocorrido no Brasil em 2016. Para nós, isso deixa claro o posicionamento desta edição, ao o qual não queremos estar atrelados.
Reconhecemos a importância do Cine PE Festival Audiovisual, do qual muitos de nós já participaram em edições anteriores. Esperamos poder participar de edições futuras e mais conscientes, condizentes com sua grandeza histórica e relevância para a formação de público do cinema brasileiro.
Assinam os representantes dos filmes abaixo listados:
“Abissal” – Ceará
“A Menina Só” – Santa Catarina
“Baunilha” – Pernambuco
“Iluminadas” – Pernambuco
“Não me Prometa Nada” – Rio de Janeiro
“O silêncio da Noite é que tem sido testemunha das minhas amarguras” – Pernambuco
“Vênus – Filó a fadinha lésbica” – Minas Gerais"