Depois de filmar A última tentação de Cristo, em 1988, o diretor Martin Scorsese volta a abordar o cristianismo para falar sobre a espiritualidade. Mais do que isso, Silêncio, que estreia nesta quinta (9) no Brasil, é um filme sobre dúvidas e certezas e sua relatividade diante de contextos históricos e culturais.
Católico não praticante, o cineasta americano defendeu a necessidade dessa espiritualidade diante dos atuais “acontecimentos terríveis”, quando apresentou o filme em Paris. Scorsese afirma que a obra pretende “abrir um diálogo” com o espectador e mostrar “até que ponto a espiritualidade é parte integrante do ser humano”.
Baseado no romance homônimo do japonês Shusaku Endo, Silêncio narra o choque religioso e cultural de missionários jesuítas portugueses no Japão no século 17. Ao saber que seu mentor – Cristóvão Ferreira, interpretado por Liam Neeson – teria renegado a fé católica e adotado costumes locais, Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garupe (Adam Driver) viajam até o Japão para se certificar do fato.
No país asiático, a dupla se depara com o conflito religioso, em que cristãos convertidos são perseguidos, torturados e mortos por budistas. O silêncio de Deus diante do embate religioso e das provações às quais são submetidos faz os missionários questionarem a verdade de sua fé.
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Aos 74 anos, Scorsese assegurou que já “não tem nada a esconder”, nem precisa “demonstrar que sabe utilizar uma câmera”. “Este filme é o que sou agora. Não sigo a moda”, destacou. “De alguma forma, este é o filme que mais se entrelaçou com a minha vida pessoal”, admitiu.
Até mesmo as filmagens na natureza, que disse tê-lo feito descobrir, por exemplo, o som das marés, foi uma experiência mística. “Sou nova-iorquino, alérgico a tudo (...) e de repente me encontrei no topo de uma montanha”, explicou. “Vimos do silêncio e é para lá que vamos. Deveríamos aprender a nos sentir confortáveis com isso”, disse em alusão ao título do filme.
Silêncio foi exibido em sessão especial no Vaticano para 300 jesuítas, com quem o diretor conversou após a exibição. Na ocasião, Scorsese se reuniu com o papa Francisco, um membro da ordem jesuíta que, quando era um jovem padre na Argentina, quis ir ao Japão como missionário, mas foi impedido por motivos de saúde.