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Filme sobre fãs brasileiros da estrela norte-americana Beyoncé vai além do culto à celebridade

Documentário mostra como jovens enfrentam o preconceito, o racismo e a homofobia

Pedro Antunes/Estadão Conteúdo Mariana Peixoto

Afinal, quem são esses jovens que acampam do lado de fora de ginásios e estádios por semanas para assistir a um show? Olhando de fora, nossos preconceitos afloram: devem ser descerebrados que não estudam, não trabalham e não têm qualquer preocupação na vida.
Gabriela Electra, personagem do documentário Waiting for B., comanda um grupo cover da estrela norte-americana - Foto: Vitrine Filmes/divulgação


O documentário Waiting for B., de Paulo César Toledo e Abigail Spindel, que será exibido hoje e no dia 15, às 19h30, no Cine Belas Artes, mostra exatamente o contrário. A B. do título é Beyoncé, que, em 15 de setembro de 2013, apresentou The Mrs. Carter show no Estádio do Morumbi, em São Paulo.

Em 20 de julho daquele ano, 57 dias antes do show, o jovem Charlles Angels chegou ao estádio. Montou ali a primeira barraca. Cinco dias depois, foi montada a quinta e última. Em cada uma delas, pelo menos 30 jovens se revezavam. A intenção era uma só: garantir o melhor lugar para ver Beyoncé.

Cada um pagou caro pelo ingresso na chamada pista premium, na frente do palco. Só que havia um valor extra, correspondente a US$ 700, que liberava a entrada duas horas antes da abertura oficial dos portões. Os jovens que acampavam não tinham dinheiro para tal. Então, criaram um método próprio (o organizador era Charlles Angels) para garantir o melhor lugar
. Havia senhas e contagens diárias. Quem faltasse a seu turno ia para o fim da fila.

NOTINHA

No fim de julho, o realizador Paulo César Toledo leu uma notinha no jornal sobre a fila. Acampamentos são comuns em turnês de estrelas, mas não dois meses antes do show. “Na época, conhecia pouco sobre Beyoncé. A gente (Abigail Spindel, codiretora, é mulher de Toledo) estava atrás de um tema para um documentário em curta. Vivia tentando descolar uma grana, mas não rolava. Vimos que teríamos que produzir o filme por conta própria”, conta ele.

Já no final de julho, o casal, munido de câmeras, chegou ao acampamento no Morumbi. Até a data do show, eles foram lá a cada dois ou três dias. “O tema combina com o estilo que me interessa, o documentário de observação. Sabia que tinha um grupo de personagens interessantes, mas a única maneira de registrar isso era a observação, não sentá-los lado a lado para entrevistas”, acrescenta Toledo.

E é aí que as histórias afloram

. O grupo é majoritariamente formado por homossexuais, boa parte deles negros. São trabalhadores – um dos personagens mais interessantes é Junnior Martins, cabeleireiro do badalado salão Celso Kamura, que encarava, diariamente, viagem de três horas até o estádio. Ou Gabriela Electra, que comandava um grupo cover de Beyoncé.

 

 

 

MAQUIAGEM

Toledo e Abigail foram também à casa dos personagens e a seus locais de trabalho. Vêm à tona, entre piadas, passos de dança e muita maquiagem, discussões interessantes. Beyoncé tem preconceito com a própria pele porque pinta o cabelo de louro, opina um. Outro discorda, acha que você pode fazer o que quiser com seu cabelo. Um terceiro, que se veste de Beyoncé, comenta o preconceito que sofreu a vida inteira: da família, por ser gay; dos gays, por ser negro. E há a menina que resolveu estudar inglês por conta da cantora.

“No começo (da captação), a gente ainda tinha a ideia de fazer um curta. Conforme fomos voltando e o acampamento se tornando cada vez mais rico de assuntos, nos definimos pelo longa”, acrescenta Toledo. Com uma série de parcerias, o documentário foi finalizado entre 2014 e 2015.

Até a estreia comercial, Waiting for B. participou de 36 festivais em vários países – levou prêmios no Mix Brasil (melhor longa nacional), In-Edit Brasil e Queer Lisboa (em ambos, ganhou o troféu de melhor documentário pelo público).