- Foto: DivulgaçãoAo longo da narrativa de Barry Jenkins, o protagonista Chiron é interpretado por três diferentes atores e também vai mudando de nome. A questão dos atores explica-se porque Chiron, afinal, começa criança e termina homem feito. Mas os nomes ajudam a explicitar o que, no fundo, é o tema de Moonlight - Sob a Luz do Luar. Durante todo o tempo, Chiron está querendo se integrar, ser aceito. Cria personas para si mesmo. O desfecho, e o que ocorre na cena - admirável -, talvez indique que vai finalmente deixar de viver as vidas dos outros para encarar a sua.
Moonlight, que estreia nesta quinta, 23, poderá não tirar o Oscar de La La Land, o musical de Damien Chazelle, favorito na premiação da Academia neste domingo, 26. Mas é belíssimo, e o elenco todo - não apenas Mahershala Ali e Naomie Harris, indicados para melhor ator e atriz coadjuvantes - são excepcionais. Ele vai ganhar, tem de ganhar. Ela vai trombar com Viola Davis que, na realidade, é coprotagonista de Fences/Um Limite Entre Nós, mas está indicada como atriz secundária e vai levar pelo filme de Denzel Washington.
Denzel já disse que essa profusão de artistas negros no Oscar de 2017 não é uma questão de cota nem respostas da Academia aos protestos pela ausência de afro-americanos na premiação de 2016. Um Oscar branco? Com 19 indicados negros neste ano, o Oscar está (um pouco) mais mestiço, digamos assim. São filmes bons como Estrelas Além do Tempo, um pouco menos bons como Um Limite Entre Nós
. Ou então grandes como Moonlight. Uma pesquisa feita com quase 200 críticos de todo o mundo apontou Toni Erdmann, da alemã Maren Ade, como o melhor filme do ano passado. Em segundo, ficou o de Barry Jenkins. Para o repórter, que não curtiu tanto Toni Erdmann, Moonlight pode ser muito bem o primeiro. Ou Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, que, se não fosse aquela comissão, talvez pudesse estar no Oscar.
Garoto, Chiron sofre duplamente - com o que para ele é a rejeição da mãe drogada e com o bulliyng dos colegas na escola. Negro e pobre, ele se indaga se também é gay? Face ao mundo hostil, Chiron cria nomes - e identidades. Pratica a violência. Persegue-o uma lembrança. O toque do colega, daquela praia. À luz do luar, todos os garotos negros são blues (azuis, ou tristes?)
. Em todas as suas fases, ele será sempre solitário, até o reencontro naquela lanchonete que se assemelha a um quadro de Norman Rockwell. Sem entrar em detalhes, para não correr o risco de spoiler, o desfecho de Moonlight é o mais belo que há - esse homem poderá agora, quem sabe, viver sua vida. Moonlight termina em aberto. Será...? Será que vai tirar o Oscar de La La Land? Difícil. O musical (não alienado nem alienante) é o favorito, mas Caetano, na trilha, quem tem é Barry Jenkins, Cucurucucu Paloma.