Na noite do próximo domingo, 26, enquanto o Brasil curte a folia de carnaval, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood promove em Los Angeles a 89ª cerimônia de entrega do Oscar. Se em outros tempos os olhares do público e da crítica estavam mais voltados para os modelitos milionários usados pelas estrelas no tapete vermelho e as escolhas do júri, o foco agora é outro. Representatividade é a palavra-chave neste ano. Mais do que saber quais filmes serão premiados e se La la land: Cantando estações, com suas 14 indicações, vai se tornar a produção com mais estatuetas da história, há expectativa sobre a atuação política das estrelas durante a festa. Num cenário turbulento nos Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump, o Oscar, definitivamente, deixou de ser apenas entretenimento.
Clique nos nomes dos filmes e saiba onde e em que horários estão em cartaz em BH
» Aliados
Melhor figurino
» A qualquer custo
Melhor filme
Melhor roteiro original
Melhor edição
Melhor ator coadjuvante
(Jeff Bridges)
» Até o último homem
Melhor filme
Melhor diretor (Mel Gibson)
Melhor edição
Melhor ator (Andrew Garfield)
Melhor mixagem de som
Melhor edição de som
» Estrelas além do tempo
Melhor filme
Melhor atriz coadjuvante (Octavia Spencer)
Melhor roteiro adaptado
» Eu não sou seu negro
Melhor documentário
» Jackie
Melhor atriz (Natalie Portman)
Melhor figurino
Melhor trilha sonora
» La la land: Cantando estações
Melhor filme
Melhor diretor (Damien Chazelle)
Melhor ator (Ryan Gosling)
Melhor atriz (Emma Stone)
Melhor roteiro original
Melhor fotografia
Melhor edição
Melhor figurino
Melhor mixagem de som
Melhor edição de som
Melhor desenho de produção
Melhor trilha
Melhor canção: Audition (The fools who dream) e City of stars
» Lion: Uma jornada para casa
Melhor filme
Melhor ator coadjuvante (Dev Patel)
Melhor atriz coadjuvante (Nicole Kidman)
Melhor roteiro adaptado
Melhor fotografia
Melhor trilha
» Manchester à beira-mar
Melhor filme
Melhor diretor (Kenneth Lonergan)
Melhor ator (Casey Affleck)
Melhor ator coadjuvante (Lucas Hedges)
Melhor atriz coadjuvante (Michelle Williams)
Melhor roteiro original
» Moana – Um mar de aventuras
Melhor longa de animação
Melhor trilha sonora
» Moonlight: Sob a luz do luar Com oito indicações, estreia na próxima quinta-feira
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Apoiada por milhões na internet, a campanha ecoou na Academia, forçando a atual presidente, Cheryl Boone Isaacs (mulher e negra), a anunciar às pressas medidas para tornar a premiação mais diversa e inclusiva: 623 novos membros foram admitidos, sendo 286 mulheres e 255 não-brancos, ou seja: negros, latinos e pessoas de outras origens e etnias. O ator John Boyega e a atriz Loretta Devine, além da diretora brasileira Anna Muylaert, do filme Que horas ela volta?, são alguns dos integrantes da lista. Até então, a Academia costumava incluir não mais que 200 novatos por ano em seu quadro, que era composto por 6.621 membros, sendo 93% deles de pele branca e 76%, homens. As mudanças parecem ter surtido efeito. Neste ano, em todas as principais categorias há ao menos um artista negro.
RIVAL Moonlight: Sob a luz do luar, de Barry Jenkins, surge como o maior rival de La la land: Cantando estações na disputa de melhor filme. Indicado em oito categorias, o filme conta a trajetória de um garoto negro e pobre da periferia de Miami, que cresce cercado pelo tráfico de drogas e pela violência. É um drama sobre o autoconhecimento do protagonista, que inclui seus conflitos para aceitar-se gay.
Jenkins, de 37 anos, há menos de 10 no cinema, foi indicado a melhor diretor, enquanto Mahershala Ali e Naomie Harris disputam melhor ator e atriz coadjuvantes, respectivamente. Além de Moonlight, os longas Um limite entre nós e Estrelas além do tempo também colocam em primeiro plano tramas (e artistas) negros.
Indicado a melhor ator, Denzel Washington pode ganhar sua terceira estatueta pelo papel em Um limite entre nós, que ele também dirige. Baseado na peça teatral de mesmo nome, o filme conta a história de um jovem que sonha em virar jogador de beisebol. Estrelas além do tempo, que tem Octavia Spencer concorrendo a melhor atriz coadjuvante, mostra o racismo enfrentado por calculistas negras na Nasa e sua contribuição para o programa espacial americano.
Ao todo, são sete indicados não-caucasianos num total de 25 indicações pessoais. Em quase 90 anos de premiação, somente 15 atores e atrizes negros ganharam a estatueta. O diretor de Moonlight é apenas o quarto negro na história do Oscar a ser indicado, sendo que nenhum dos anteriores venceu.
A questão racial não é a única a reivindicar espaço de debate no cinema. Entre os 62 filmes presentes nas indicações deste ano, somente três são dirigidos por uma mulher: o documentário A 13ª emenda, de Ava Duvernay, o curta documental Joe’s violin, de Kahanne Cooperman, e o longa alemão Toni Erdmann, de Maren Ade, favorito a melhor filme estrangeiro. No histórico da Academia, indicações para mulheres na categoria direção são apenas quatro até hoje: Lina Wertmüller (Pasqualino sete belezas, 1977), Jane Campion (O piano, 1994), Sofia Coppola (Encontros e desencontros, 2004) e Kathryn Bigelow (Guerra ao terror, 2010), única a vencer.
Os protestos femininos por mais espaço e equidade salarial já vêm ocorrendo há alguns anos. Em 2015, Patricia Arquette fez um forte discurso pela igualdade de gênero ao receber o Oscar de melhor atriz coadjuvante por seu papel em Boyhood. Na cerimônia do Globo de Ouro, em janeiro, quando recebeu um prêmio pela carreira, Meryl Streep se posicionou fortemente a favor não só das mulheres, mas de todos as minorias. Ela defendeu a diversidade e atacou as políticas anti-imigratórias do recém-empossado presidente Donald Trump. “Se mandarmos todos os estrangeiros embora, não vamos ter nada a que assistir a não ser futebol e artes marciais. E isso não é o que a arte deve ser”, disse a atriz, indicada pela 20ª vez ao Oscar, desta vez por Florence: Quem é essa mulher?.
RECORDE À parte o engajamento envolvendo a premiação, o Oscar de 2017 também pode garantir um lugar na história para La la land: Cantando estações. Presente em 13 das 24 categorias, o musical dirigido por Damien Chazelle, de 31, igualou o recorde de indicações de A malvada (1950) e Titanic (1998). São 14 no total, já que ele emplacou duas músicas na disputa por melhor canção original. Com isso, pode superar o recorde de Ben-Hur (1960), Titanic e Senhor dos anéis: O retorno do rei (2004), que venceram em 11 categorias cada.
Mesmo antes do Oscar, La la land já havia virado fenômeno. No Globo de Ouro, venceu os sete prêmios para os quais foi indicado. Da Academia Britânica recebeu mais cinco troféus no Bafta (British Academy Film Awards), realizado no início deste mês.
A história que vem arrancando suspiros pelas salas de todo o planeta é sobre um casal sonhador e apaixonado. Ela, uma jovem aspirante a atriz. Ele, um músico de jazz que deseja abrir seu próprio clube dedicado ao gênero. Os protagonistas são interpretados por Emma Stone, indicada anteriormente uma única vez, em 2014, por Birdman, e Ryan Gosling, indicado em 2006, por Half Nelson.
Dois atores jovens, de pele branca, cabelos e olhos claros, estrelando um romance com bela trilha sonora e paisagens atraentes de Los Angeles como cenário. Referências e inspirações em clássicos do passado, como Casablanca e Cantando na chuva, se misturam a uma roupagem moderna. Se é verdade que essa fórmula derreteu corações no mundo inteiro, é também fato que Moonlight tem a torcida dos que acham que está na hora de Hollywood parar de enaltecer a si mesma e referendar a disposição daqueles que querem usar o cinema para refletir sobre os problemas de sua época – e não para escapar deles.
Se o Oscar vai premiar o feijão ou o sonho é o que saberemos no domingo que vem. Certo é que, para muita gente, a maior torcida no Oscar 2017 é para a representatividade sair como a grande vencedora, com as vozes das minorias se erguendo em Hollywood mais alto do que qualquer muro.