Uma versão reduzida de uma longa carta dirigida à comunidade cinematográfica internacional encerrou, ontem, a coletiva de imprensa do filme Joaquim. O longa, filmado em Diamantina, é a única das 12 produções brasileiras selecionadas para o Festival de Berlim que concorre ao Urso de Ouro.
O diretor Marcelo Gomes se dirigiu ao grupo de jornalistas presentes “não como o diretor de Joaquim, mas como parte dos cineastas brasileiros que estão na Berlinale” para ler, em inglês, o manifesto que fala do risco que a produção autoral está correndo. Assinaram a carta os diretores e produtores de 11 dos 12 filmes que participam da Berlinale.
O tom do manifesto foi ao encontro também à conversa de Gomes e sua equipe com os jornalistas presentes. Joaquim conta a história de Joaquim José da Silva Xavier. Mas o filme de Gomes está longe de ser uma cinebiografia tradicional. A narrativa, coprodução Brasil e Portugal, é uma ficção sobre o processo de conscientização política de Tiradentes. Em cena está o homem, não o mártir.
“À medida que eu lia livros sobre o período colonial no Brasil, que falavam da vida cotidiana daquelas pessoas, mais entendia o Brasil de hoje. As cicatrizes da sociedade daquela época são reproduzidas hoje no Brasil, só que em outra dimensão”, explicou o diretor, que voltou a Berlim três anos depois de apresentar o longa O homem das multidões (codirigido com Cao Guimarães).
O elenco conta com atores de diferentes nacionalidades
Machado divide a cena com intérpretes como Isabél Zuaa, nascida em Lisboa de pais africanos (a mãe de Angola e o pai da Guiné-Bissau, ambas ex-colônias portugueses). Na história, ela é uma escrava por quem Joaquim se apaixona – tanto por isto, tenta comprar sua liberdade. “Encontro o racismo no meu dia a dia. Isso é algo que liga a personagem com a minha vida”, comentou a atriz.
Não faltaram analogias do que é visto na tela do que se vive nos dias de hoje. “Cada colonização é um processo muito cruel. Mas os ingleses e os espanhóis foram para suas colônias com as famílias. Os portugueses não
Um jornalista português, comentando sobre a linha adotada no longa, comentou que o filme deve causar polêmica em seu país, pois “coloca a culpa da corrupção nos portugueses”. Um das produtoras do filme, a portuguesa Pandora da Cunha Telles, concordou com ele. “Espero que ele provoque polêmica, pois temos que questionar toda a colonização portuguesa. É nosso papel fazer isto tanto em relação ao Brasil quanto com a África.”
A exibição de Joaquim para a imprensa ocorreu na manhã de quarta-feira. À noite, o longa foi exibido no Berlinale Palast, principal sala de exibição do festival. O resultado da 67ª edição do evento será anunciado amanhã.