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Festival de Berlim começa nesta quinta-feira e conta com 12 filmes nacionais

Para Eduardo Valente, representante na Berlinale, os filmes espelham o momento da produção brasileira

Agência Estado

Diretor concorre com 'Vênus - Filó, a Fadinha lésbica' - Foto: Savio Leite/Divulgação


Com uma participação recorde do Brasil - 12 títulos, distribuídos em todas as suas seções -, o 67.º Festival de Berlim começa nesta quinta, 9, e prossegue até domingo, 19. No sábado, 18, serão anunciados os vencedores dos Ursos de Ouro e Prata atribuídos pelo júri presidido por Paul Verhoeven, o diretor de Elle. O Brasil integra a competição com Joaquim, de Marcelo Gomes, que será exibido dia 16 e conta a história do alferes Joaquim José da Silva Xavier, antes de se transformar no mítico Tiradentes, mártir da Independência. O País não participava da competição desde 2014, com Praia do Futuro, de Karim Aïnouz, interpretado por Wagner Moura. Em 2008, Tropa de Elite, de José Padilha, também com Wagner Moura, ganhou o Urso de Ouro. Em 1998, dez anos antes, Walter Salles também recebera o ouro de Berlim por Central do Brasil, com Fernanda Montenegro. E, em 1990, o ouro foi para o curta - Ilha das Flores, de Jorge Furtado.

Berlim ama o Brasil, que o diga a seleção de 2017. Para o delegado da Berlinale no País, Eduardo Valente, todos esses filmes espelham o momento da produção brasileira, muito rica e diversificada, por mais que, na bilheteria, os bons resultados contemplem preferencialmente os blockbusters de comédias. Será uma grande Berlinale? O diretor-geral e programador Dieter Kosslick acredita que sim. Por um lado, está pessimista. "Nem capitalismo nem comunismo cumpriram suas promessas
. Os pobres estão mais pobres e os ricos, mais ricos." De outro, vê criatividade. "Poucas vezes a programação da Berlinale refletiu tanto o estado do mundo. Estamos respondendo à crise com confiança e coragem. E também com humor, porque tenho a impressão de que nunca, como neste ano, cenas divertidas e satíricas estão refletindo o que ocorre na Europa, na América, em todo o mundo." Berlim sempre teve a fama de ser o mais político dos festivais. Não há de querer perdê-la neste 2017 que já começou com as encrencas provocadas pelo presidente Donald Trump nos EUA e o ostentado em Paris.


Política, sim, mas com glamour. Embora seu tapete vermelho não se compare ao de Cannes - o rigoroso inverno contribui para isso, inibindo os generosos decotes que tanta sensação provocam na Croisette -, a Berlinale deste ano promete um belo desfile de astros e estrelas. Hugh Jackman, Richard Gere, Ethan Hawke, Geoffrey Rush, Penélope Cruz, Kristin Scott Thomas e Robert Pattinson são alguns que já confirmaram presença. O filme de abertura, na quinta, será o francês Django, de Etienne Comar, sobre o lendário jazzista Django Reinhardt. A trama situa-se na França de 1943, quando Django, interpretado por Reda Kateb, desafia com sua arte os ocupantes nazistas. Para Dieter Kosslick, é uma emocionante fábula de sobrevivência, o que tem tudo a ver com a realidade atual.

Além de Django e Joaquim, a competição inclui outra biografia - O Jovem Karl Marx, de Raoul Peck, sobre o período em que ele escreveu o Manifesto Comunista com Friedrich Engels
. Vale lembrar que o haitiano Peck está na disputa do Oscar com o documentário Eu Não Sou Seu Negro, sobre a luta por direitos civis nos EUA, inspirado numa proposta de livro do escritor James Baldwin. Nessa vertente radical, inscreve-se o inglês Rubika Shah com White Riot - London, sobre os protestos de (e contra) imigrantes de 1977. Também concorrem o chileno Sebastian Lelio, com Uma Mulher Fantástica; a inglesa Sally Potter, com The Party; a polonesa Agnieszka Holland, com Pokot; o francês Martin Provost, com Sage Femme (com Catherine Deneuve e Catherine Frot) e o finlandês Aki Kaurismäki, com The Other Side of Hope, O Outro Lado da Esperança.

Fora de concurso, a Berlinale exibirá programas especiais muito aguardados como Logan, de James Mangold, que retoma o X-Men interpretado por Hugh Jackman em outra trama, talvez mais fantasiosa, mas não menos pungente de sobrevivência, e T2 Trainspotting, de Danny Boyle, a sequência que comemora os 21 anos do filme que tanto impacto provocou nos anos 1990.

O festival outorga um Urso de Ouro de carreira a Milena Canonero, a grande figurinista italiana que já venceu quatro vezes o Oscar da categoria. E, na sexta, cabe ao Brasil a honra de abrir o Panorama de 2017. O selecionado é Vazante, de Daniela Thomas, outro filme que, a exemplo de Joaquim, viaja na história do Brasil para tentar compreender o presente do País. Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", a diretora disse que foi impressionante, para ela, descobrir que seu filme sobre tensões sociais (e a escravidão) em Minas, no início do século 19, tem tanta ressonância na situação atual brasileira. Daniela conclui um B.O, baixo orçamento, O Banquete. Vazante, até por ser filme de época, é um épico, um filme mais caro mas nem por isso menos elaborado e autoral. Participam do elenco Sandra Corveloni, Juliana Carneiro da Cunha, Vinicius dos Anjos, Fabricio Boliveira e Jai Batista.

FILMES BRASILEIROS EM BERLIM

Competição
- Joaquim, de Marcelo Gomes

 

Panorama
- Vazante, de Daniela Thomas
- Pendular, de Julia Murat

Panorama Dokumente
- No Intenso Agora, de João Moreira Salles

Panorama Especial
- Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky

Fórum

- Rifle, de Davi Pretto

Generation
- As Duas Irenes, de Fábio Meira
- Mulher do Pai, de Cristiane Oliveira
- Não Devore Meu Coração, de Felipe Bragança

Curtas
- Estás Vendo Coisas, de Barbara Wagner e Benjamin de Burca (competição)
- Vênus - Filó, a Fadinha Lésbica, de Sávio Leite (Panorama)
- Em Busca da Terra sem Males, de Anna Azevedo (Generation)