Boa parte do sucesso da saga Crepúsculo no cinema deve-se ao casal de atores Robert Pattinson e Kristen Stewart. Com muita química, os intérpretes comunicavam com seu público, a despeito de uma narrativa fraca e previsível.
A versão soft porn desta história, com muito sexo e nada de vampiros, sofre muito com a ausência de empatia entre a dupla de protagonistas. Cinquenta tons mais escuros, segunda adaptação da trilogia da britânica E. L. James, chega hoje aos cinemas tentando resolver os problemas do primeiro filme – Cinquenta tons de cinza, de 2015, blockbuster que gerou US$ 571 milhões mundo afora.
Bem, não soluciona. O principal problema do filme anterior permanece: os atores Dakota Johnson e Jamie Dornan não se resolvem em cena. Esta questão já havia sido detectada no filme passado. Houve até algum disse me disse falando de uma saída de Dornan.
Ele continuou, mas houve mudança nos bastidores. Depois de brigar com E. L. James, a diretora Sam Taylor-Johnson foi rechaçada do projeto
Foley dirigiu em sequência os dois filmes – Cinquenta tons mais escuros e Cinquenta tons de liberdade, que estreia daqui a um ano. Nome forte hoje da indústria do entretenimento, é um dos diretores mais frequentes da série House of cards.
Mas ele traz no currículo um thriller de 20 anos atrás. Medo trazia os então jovens Mark Wahlberg e Reese Witherspoon. Eles eram jovens, se apaixonavam, mas ele se revelava um psicopata. E havia química pacas.
Brigas
Aqui, não é o caso. O que assistimos, ao longo de duas horas, é a um casal apaixonado que briga e faz sexo. No livro, Anastasia Steele (Johnson) começa a aceitar que o namorado Christian Grey (Dornan) é um dominador (sádico, nas palavras dele). Descobre que pode sentir prazer com os brinquedinhos sexuais.
No livro, o sexo é mais ousado. No filme, a despeito de novos apetrechos sexuais, as cenas carregam uma assepsia incontornável: são sempre limpas, coreografadas e acompanhadas de música pop. As cenas se sucedem, sem levantar um suspiro do espectador.
E temos então os “dramas”, que são ao menos três
O primeiro: Anastasia, depois de formada, consegue emprego como assistente de um editor, o charmoso Jack Hyde (Eric Johnson, com uma presença muito maior do que a de Dornan). Ele logo se interessa por ela. Toda inocente (afe!), ela demora para sacar que o chefe quer algo a mais. Não dá cinco minutos para o editor virar um assediador de quinta. Logo, Christian Grey resolve esse problema.
O segundo: Leila (Bella Heathcote), uma ex-submissa de Grey. A menina, pirada, começa a perseguir Anastasia. Christian Grey, mais uma vez, resolve o problema (numa cena algo patética que mistura tiros e submissão).
O terceiro, e pior deles: Elena Lincoln (Kim Basinger, bem longe da personagem que povoou a mente de milhares no soft porn oitentista 9 ½ semanas de amor), a mulher que iniciou Christian no sadomasoquismo. A antipatia entre ela e Anastasia é imediata (a jovem afirma que Elena abusou do namorado na juventude). As duas se digladiam na parte final do filme, numa cena de uma canastrice (até bebida na cara tem) que nem as novelas atuais têm. Mas pelo menos desta vez Christian Grey não é o salvador.
Há ainda erros de continuidade. O mais grosseiro deles é assistir a Anastasia com uma lingerie pra lá de sensual se preparando para um baile na casa dos sogros. Quando ela sai da festa para uma rapidinha no quarto de infância de Christian, a roupa de baixo é outra.
A cereja do bolo, no entanto, é um acidente de helicóptero com Christian. Piloto (claro), ele sofre um acidente no meio de uma floresta, em uma cena risível. Pois logo sua família está reunida em casa esperando pelo pior e, mal a notícia aparece na TV, eis que ele surge em casa são e salvo.
Qual a razão dessa cena, podemos nos perguntar? Nenhuma, só uma desculpa para levar Anastasia para o chuveiro.