A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou número recorde de negros indicados ao Oscar 2017. O saudável movimento em favor da diversidade vem depois de duas edições seguidas em que apenas brancos concorreram às categorias de atuação, o que rendeu uma saraivada de críticas à instituição.
Estrelas além do tempo, em cartaz nas salas de BH, vai de encontro às acusações de racismo da Academia. Baseado em fatos reais, o filme mostra a decisiva atuação de três negras que trabalharam na Nasa durante a corrida espacial travada entre os EUA e a União Soviética no início dos anos 1960, durante a Guerra Fria. Como sugere o título original Hidden figures (figuras ocultas), o longa joga luz sobre mulheres que permaneceram praticamente anônimas, embora contribuíssem, direta ou indiretamente, para o sucesso da agência espacial americana.
Adaptado do livro de Margot Lee Shetterly, o roteiro se desenvolve em torno de Katherine Johnson (Taraji P. Henson), brilhante matemática capaz de calcular com grande precisão trajetórias de voos, lançamentos e pousos de emergência. Técnica aeroespacial da Nasa, ela trabalhou nos cálculos do voo de Alan Shepard, primeiro norte-americano a ir para o espaço, em 1959.
Paralelamente, a trama acompanha Dorothy Vaughan (Octavia Spencer), a primeira supervisora negra da Nasa, e Mary Jackson (Janelle Monáe), a pioneira engenheira afrodescendente da agência, cargo que só pôde pleitear depois de conseguir na Justiça o direito de estudar na universidade – até então, exclusiva para brancos.
Além do brilhantismo, o trio tem em comum o histórico de enfrentamento ao preconceito em uma sociedade em que a segregação era institucionalizada. Há bem pouco tempo, nos EUA, havia espaços separados para negros e brancos. Nos ônibus do Alabama, negros tinham obrigatoriamente de se levantar para dar o lugar aos brancos.
Dada a perpetuação dos preconceitos abordados no filme – sejam eles mais velados ou não –, o drama tem inevitável atualidade, dialogando com outra produção contemporânea centrada na questão racial, Moonlight: sob a luz do luar, também candidato a melhor filme no Oscar. Ambos têm no elenco Janelle Monáe e Mahershala Ali.
Detalhe: o músico Pharrell Williams, produtor de Estrelas... (autor do hit Happy), atua em La la land: Cantando estações, outro forte candidato à principal estatueta de Hollywood.
Bastante convencional, Estrelas além do tempo, provavelmente, teria menos destaque se tivesse personagens menos peculiares e cativantes. Boa parte do crédito vai para os atores, que, aliás, saíram vencedores do Prêmio do Sindicato dos Atores de Hollywood (SAG), segunda-feira, na categoria melhor elenco. Isso deixa a produção fortalecida para o Oscar, cuja cerimônia ocorrerá no dia 26. Estrelas... vai disputar as estatuetas de melhor filme, roteiro original e atriz coadjuvante (Octavia Spencer).
FOCO
Apesar da boa atuação, Al Harrison (Kevin Costner), chefe de Katherine Johnson, chega a incomodar em alguns momentos. A direção enaltece por demais as louváveis atitudes do personagem contra a segregação, tirando o foco de quem realmente lutou pelo fim do racismo.
Embora trate de tema delicado e da inevitável violência simbólica (e às vezes, física) perpetrada contra os negros, a produção dirigida por Theodore Melfi se dedica principalmente ao aspecto da superação alcançada pelo trio central. É uma história inspiradora, ainda mais notável por expor o preconceito duplo encarado pelas protagonistas, inseridas em uma sociedade bastante machista. Questões que, infelizmente, continuam terrivelmente presentes no século 21.
PIONEIRA
O drama da segregação racial faz parte da história do Oscar. Hattie McDaniel foi a primeira atriz negra a receber uma estatueta, em 1940, pelo papel coadjuvante de Mammy em ...E o vento levou. Ela só conseguiu assistir à premiação depois de obter autorização especial de acesso à cerimônia. O hotel que abrigou a solenidade não permitia a entrada de negros. Mesmo liberada, Hattie teve de acompanhar a festa em um espaço à parte da plateia.
Estrelas além do tempo, em cartaz nas salas de BH, vai de encontro às acusações de racismo da Academia. Baseado em fatos reais, o filme mostra a decisiva atuação de três negras que trabalharam na Nasa durante a corrida espacial travada entre os EUA e a União Soviética no início dos anos 1960, durante a Guerra Fria. Como sugere o título original Hidden figures (figuras ocultas), o longa joga luz sobre mulheres que permaneceram praticamente anônimas, embora contribuíssem, direta ou indiretamente, para o sucesso da agência espacial americana.
Adaptado do livro de Margot Lee Shetterly, o roteiro se desenvolve em torno de Katherine Johnson (Taraji P. Henson), brilhante matemática capaz de calcular com grande precisão trajetórias de voos, lançamentos e pousos de emergência. Técnica aeroespacial da Nasa, ela trabalhou nos cálculos do voo de Alan Shepard, primeiro norte-americano a ir para o espaço, em 1959.
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Além do brilhantismo, o trio tem em comum o histórico de enfrentamento ao preconceito em uma sociedade em que a segregação era institucionalizada. Há bem pouco tempo, nos EUA, havia espaços separados para negros e brancos. Nos ônibus do Alabama, negros tinham obrigatoriamente de se levantar para dar o lugar aos brancos.
Dada a perpetuação dos preconceitos abordados no filme – sejam eles mais velados ou não –, o drama tem inevitável atualidade, dialogando com outra produção contemporânea centrada na questão racial, Moonlight: sob a luz do luar, também candidato a melhor filme no Oscar. Ambos têm no elenco Janelle Monáe e Mahershala Ali.
Detalhe: o músico Pharrell Williams, produtor de Estrelas... (autor do hit Happy), atua em La la land: Cantando estações, outro forte candidato à principal estatueta de Hollywood.
Bastante convencional, Estrelas além do tempo, provavelmente, teria menos destaque se tivesse personagens menos peculiares e cativantes. Boa parte do crédito vai para os atores, que, aliás, saíram vencedores do Prêmio do Sindicato dos Atores de Hollywood (SAG), segunda-feira, na categoria melhor elenco. Isso deixa a produção fortalecida para o Oscar, cuja cerimônia ocorrerá no dia 26. Estrelas... vai disputar as estatuetas de melhor filme, roteiro original e atriz coadjuvante (Octavia Spencer).
FOCO
Apesar da boa atuação, Al Harrison (Kevin Costner), chefe de Katherine Johnson, chega a incomodar em alguns momentos. A direção enaltece por demais as louváveis atitudes do personagem contra a segregação, tirando o foco de quem realmente lutou pelo fim do racismo.
Embora trate de tema delicado e da inevitável violência simbólica (e às vezes, física) perpetrada contra os negros, a produção dirigida por Theodore Melfi se dedica principalmente ao aspecto da superação alcançada pelo trio central. É uma história inspiradora, ainda mais notável por expor o preconceito duplo encarado pelas protagonistas, inseridas em uma sociedade bastante machista. Questões que, infelizmente, continuam terrivelmente presentes no século 21.
PIONEIRA
O drama da segregação racial faz parte da história do Oscar. Hattie McDaniel foi a primeira atriz negra a receber uma estatueta, em 1940, pelo papel coadjuvante de Mammy em ...E o vento levou. Ela só conseguiu assistir à premiação depois de obter autorização especial de acesso à cerimônia. O hotel que abrigou a solenidade não permitia a entrada de negros. Mesmo liberada, Hattie teve de acompanhar a festa em um espaço à parte da plateia.